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quarta-feira, maio 05, 2010

Há cerca de uma semana estava cheio de sono, eram mais ou menos 6 da manhã e escrevi o texto abaixo. Estava tão offline que até me esqueci de o publicar... cá fica:

Em primeiro lugar, a bílis: o que as agências de rating nos estão a fazer é, como toda a gente sabe (incluindo as próprias agências de rating), uma filhadaputice - na verdadeira acepção da palavra (mesmo no caso desta para já inexistente palavra). Não há hoje nada que seja verdadeiramente diferente do passado e, a existirem alterações relativamente aos últimos anos, estas serão todas no sentido de se mostrar uma boa capacidade do país recuperar de contas deficitárias com alguma facilidade. Portugal já demonstrou que é dos poucos que verdadeiramente foi capaz de pagar ao FMI e os políticos dos diversos partidos frequentemente revelam uma notável capacidade de quebrar promessas eleitorais quando é necessário subir impostos - ou seja, há entre nós uma tradição de vale-tudo politico-fiscal que deveria ser mais que suficiente para acalmar "os mercados", isto se os "mercados" quisessem ser acalmados ou estivessem verdadeiramente preocupados com aquilo que dizem que os preocupa.

Por outro lado, é notável a lata (quer dizer, a desfaçatez - este é um texto sério) com que os mesmos cretinos (indivíduos de competência duvidosa) que ainda há um ano glorificavam os Lehman Brothers, Madoffs, Rendeiros e Oliveiras Costas deste mundo (para já não falar da Islândia e da Irlanda) vêm agora, quais arautos dos bons costumes financeiros, apontar dedos para nós, que estamos aqui tão quietinhos e, com a excepção de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, não chateamos ningém. Como diria António Veloso (pai do Miguel), nada como um bom bode respiratório para se poder respirar melhor.

Em segundo lugar, a interpretação do problema: obviamente, a melhor forma de se perceber o que se está a passar é seguir o rasto ao dinheiro ou, por outras palavras, ver a quem é que isto interessa e quem é que ganha com esta situação. E aqui a resposta é óbvia: por um lado, a Grécia, que passa a ser "um dos", em vez de "o" problema da zona euro. Não sei se notaram (foram poucos os comentadores que o referiram), mas vários dos "analistas" que nos últimos dias apareceram (em conveniente antecipação ao relatório do FMI e à intervenção das agências de rating) a criticar Portugal estão, ao que parece, a trabalhar como consultores para o governo grego. Nada como um bom prémio Nobel na lapela para disfarçar o rosto de mercenários a soldo (ou, mais benignamente, praticantes de prostituição intelectual, como diria José Mourinho).

Em segundo lugar, há que perceber o momento que vivemos: depois da crise mundial do ano passado foram vários os governos (entre os quais o português) que decidiram (erradamente, na minha opinião) que uma das formas de alavancar o crescimento económico seria através do investimento público e com isso preparam-se para lançar grandes obras, daquelas que são renegociadas quatro ou cinco vezes, endividam duas ou três gerações e no final custam o triplo do que estava previsto. Perante um petisco destes, os "mercados", que não se sentem particularmente motivados para grandes financiamentos, decidiram ganhar o mesmo que anteriormente, mas com menos clientes: ao subir-se o rating dos patinhos feios do euro aumentam-se as taxas de juros e ganha-se significativamente mais dinheiro e sem que seja necessário correr riscos adicionais... É neste momento inicial da dívida que se lançam os dados e se e stabelecem as condições de empréstimo - e quanto mais frágil for a posição negocial de uma das partes, melhor para quem empresta...

Em terceiro lugar, a resolução do problema, que parece relativamente simples: secar a fonte. Se se cancelarem os investimentos, o problema naturalmente acabará, até porque deixa de estar em causa aquilo que verdadeiramente motiva os respectivos causadores. Contra a água sacudida do capote grego bastaria uma boa campanha de marketing e alguns milhares de euros no bolso da meia dúzia de prémios Nobel que ainda está desempregada.

Mas se quiserem uma solução mesmo, mesmo boa, bastaria contratar os serviços de consultoria de um certo e determinado blogger.


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