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quinta-feira, fevereiro 28, 2008

O estarrejense Armando Tavares criou um blogue onde relata o seu calvário pessoal num processo de adopção de uma criança, bem como a forma absolutamente inqualificável como o Estado português se comportou nas várias fases do processo, que ainda decorre.
O Estado não só mantém as crianças "adoptáveis" em condições deploráveis e quase sub-humanas, como posteriormente massacra burocraticamente os casais que se dispõem para, a expensas próprias, dar algum amor a crianças que nunca o conheceram. No caso do Armando Tavares, além dos tormentos burocráticos, o Estado negou-lhe a licença de adopção(!!!!), um direito fundamental e que não é apenas burocrático.
A história ainda não chegou ao fim e pode ser seguida neste blogue. Até onde irá a impunidade pública em situações como esta?
Vale a pena acompanhar o processo em http://segurancaditasocial.blogspot.com/.

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O Jorge Peliteiro denunciou publicamente a gravíssima ocultação por parte das autoridades competentes da presença da bactéria Legionella pneumophila numa piscina da Póvoa de Varzim.
Mais uma vez a reboque da blogosfera, a notícia acabou por chegar à SIC:

No entanto, aparentemente as mesmas autoridades que começaram por ocultar estes factos à população vêm novamente ocultar mais uma parte da verdade, pois é possível que entre os serótipos da bactéria identificados exista também o tipo 6, que é o segundo mais prevalente entre as Legionella pneumophila que provocam doença no homem.
O caso foi também referido numa crónica de Carlos Abreu Amorim no Correio da Manhã, que também salienta o facto das análises terem sido retidas até que uma prova internacional de natação envolvendo 362 atletas (!!!!!) fosse concluída (embora o Instituto Ricardo Jorge tivesse classificado a água como "imprópria" na véspera do início da prova)!
Mais uma vez estamos perante um caso muito sério, que poderia ter colocado em risco a vida de centenas de pessoas e que seria abafado se não existisse a blogosfera.
Parabéns ao Peliteiro!

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A meio de mais um período de falta de tempo para escrever, são vários os assuntos pendurados neste blogue. Vou tentar referi-los durante o dia de hoje.

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domingo, fevereiro 24, 2008

Os estarrejenses Alexandre Mota (Prof. da Universidade de Aveiro e membro do grupo do PS na AM) e Ana Maria Vaz (psicóloga da CERCIESTA), fazem parte da equipa vencedora de um importante prémio na área da domótica e engenharia da reabilitação.
Os meus parabéns a ambos!

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sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Anteontem inscrevi-me para participar no Fórum TSF sobre o financiamento partidário. Ligaram-me quando estava numa bomba de gasolina, a abastecer ao lado de um carro da GNR com 3 agentes lá dentro. Era uma daquelas bombas em que ainda vigora o sistema manual, ou seja, em que há um gasolineiro tirano com excesso de zelo profissional e que não deixa mais ninguém mexer na mangueira. No entanto, o que em condições normais seria um acto de grande prestatividade torna-se numa ajuda inútil e até um pouco irritante, pois como eu pago por cartão multibanco, não consigo evitar a saída do carro. Ou seja, estava naquela fase um pouco embaraçosa em que, de mãos nos bolsos e a fazer conversa de circunstância via o homem abastecer o meu carro, também ele sem nada para fazer, pois a mangueira tinha uma patilhazinha que permitia poupar o hercúleo esforço de carregar no gatilho.
Nisto, toca-me o telemóvel. Obviamente que todos os presentes (dois gasolineiros e 3 GNRs) olharam para mim de lado e com ar de reprovação. Vendo que era um número estranho e prevendo que era a TSF, decidi atender. A plateia ficou em estado de choque e a preparar-se psicologicamente para uma explosão de grandes dimensões provocada pelo uso de telemóvel na bomba de gasolina. Talvez para mostrar serviço em frente aos agentes da autoridade, o gasolineiro que estava a abastecer o meu carro correu na minha direcção aos gritos, dizendo algo como "- Tem que desligar! Não pode falar ao telemóvel na bomba de gasolina!", o que fez com que eu instintivamente corresse na direcção oposta, curiosamente para perto de outra bomba onde não estava ninguém. Os GNRs sairam imediatamente do carro, fuzilando-me com os olhos. "- Bom dia, vai entrar em directo no Fórum TSF", "OK, respondo eu. Vamos a isso!". O gasolineiro estava cada vez mais perto e eu já ouvia a voz de Manuel Acácio a entrevistar o ouvinte que me antecedeu. Até que por fim decidi confessar tudo: "- Peço desculpa, mas não posso desligar. Estou em directo para a TSF. E este telefonema vai ser transmitido para todo o país". Incrédulo e desconfiado, o gasolineiro franziu o sobrolho. Aproveitei a hesitação para me refugiar num cantinho atrás de uma das bombas. Os polícias olharam para o homem com ar inquisitivo. O gasolineiro fez-lhes um gesto tranquilizador. "- Acabe de abastecer que eu já aí vou pagar", acrescentei, já senhor da situação e com ares de vedeta da rádio nacional.
"Bom dia, está no Fórum". E numa fracção de segundo percebi que estava em directo para todo o país, para falar já não sabia muito bem sobre o quê. De repente, tudo voltou e lá comecei a discorrer sobre o tema, como se fosse ouvinte de mim próprio e de certa forma espantado com o teor das afirmações que ia proferindo. De um modo geral, defendi que essencialmente era preciso clareza, que era contra o financiamento partidário público e que todas as empresas deveriam poder financiar quem quisessem, desde que o fizessem às claras e essas informações fossem públicas. Pelo meio, já não me lembro bem porquê, falei de blogues, da Somague, do sistema americano e de escrutínio popular.
O Manuel Acácio não me interrompeu, o que já não foi mau. Felizmente não conheço uma única pessoa que me tenha ouvido.

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quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Como os mais atentos certamente já notaram, estou há vários dias sem escrever nada de jeito neste blogue.
Tem acontecido muita coisa sobre a qual me apeteceria escrever, mas de facto não tenho tido tempo.
De qualquer modo, gostaria de deixar aqui registada a minha mais profunda indignação com a RTP e a SIC, esses canais assassinos de séries. Há cerca de um mês e meio, a SIC deixou de transmitir o Jericho a meio da série, sem quaisquer explicações ou justificação. A RTP fez agora o mesmo ao Traveler. Não há por aí quem lhes casse a licença de TV? É incrível o grau de impunidade com que esta gente vive!

(valha-nos ao menos os canais FOX (que já passaram o Traveler, embora eu não tivesse seguido a série nessa altura) e AXN (vai começar a transmitir o Jericho no dia 3/3) da TVCabo!)

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Soube pelo Blogcêutico (obtida via Jornal de Negócios):

Pararede assina memorando para fusão com a Consiste

A Pararede assinou um Memorando de Entendimento (MoU), com vista a negociar com a Farminveste, uma sociedade controlada pela Associação Nacional de Farmácias, a fusão com a participada desta última, a Consiste- Gestão de Projectos, Obras, Tecnologias de Informação, no prazo de dois meses, avançou a empresa em comunicado.


Ana Torres Pereira
atp@mediafin.pt


A Pararede assinou um Memorando de Entendimento (MoU), com vista a negociar com a Farminveste, uma sociedade controlada pela Associação Nacional de Farmácias, a fusão com a participada desta última, a Consiste- Gestão de Projectos, Obras, Tecnologias de Informação, no prazo de dois meses, avançou a empresa em comunicado.

As partes, com base na cotação ponderada da Pararede, no último mês, e numa avaliação preliminar da Consiste, acordaram que a Consiste e a Pararede aportarão cada uma 50% do valor patrimonial da sociedade após a fusão.

"O valor final da relação de troca será apenas estabelecido no decurso do processo negocial e em estrito cumprimento dos normativos aplicáveis", esclarece a empresa em comunicado.

O citado MoU prevê a realização de uma due diligence jurídica, contabilística e fiscal à Consiste, a aprovação pelos órgãos societários das partes de todas as operações necessárias à sua implementação, o acordo sobre todos os elementos essenciais do negócio e a não verificação de situações imprevisíveis a esta data com forte impacto nos pressupostos previstos no presente acordo.

Em 2007, a ParaRede facturou €58 milhões e a Consiste estima ter chegado aos

69 milhões de euros. Quanto ao EBITDA, a ParaRede apurou 3,2 milhões de euros e a estimativa para a Consiste é de 6 milhões de euros.

A Consiste é participada em 80% pela Farminveste, detida pela Associação Nacional de Farmácias.

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terça-feira, fevereiro 19, 2008

O José Matos perdeu a cabeça!!!

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

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sexta-feira, fevereiro 15, 2008

O meu texto para o farmácia.com.pt teve um êxito absolutamente inesperado (506 leitores à hora a que escrevo este post!!!)... infelizmente, não há é quem concorde comigo!!! :)

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quinta-feira, fevereiro 14, 2008

E eis que, enquanto os farmacêuticos portugueses se preocupam em alargar o espectro de acção das suas lojas, o NEJM publica os resultados de uma interessante sondagem on line. Este tipo de discussões são muito mais interessantes que os programas de rastreio do tipo "já agora" (picada do dedo à porta da igreja, na carrinha dos bombeiros ou na farmácia) e seguramente terão muito mais a ver com o que deveria ser a actividade do farmacêutico comunitário. Aqui fica:
The New England Journal of Medicine
Clinical Decisions
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Volume 358:e8  February 14, 2008  Number 7
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Management of Type 2 Diabetes — Polling Results
Florencia Halperin, M.D., Julie R. Ingelfinger, M.D., and Graham T. McMahon, M.D., M.M.Sc.



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In mid-January, we presented the case of a patient with type 2 diabetes in Clinical Decisions,1 an interactive feature designed to assess how readers would manage a clinical problem for which there may be more than one appropriate treatment. Our patient was a 55-year-old woman with type 2 diabetes, obesity, and hypertension. Her morning fasting glucose levels ranged between 110 and 140 mg per deciliter (6.1 and 7.8 mmol per liter), and her glycated hemoglobin level was 8.1%. Her medication regimen included metformin (1000 mg twice daily) and glipizide (10 mg twice daily).

Of the three management options proposed, the most popular — receiving 3243 votes (50% of the 6455 votes cast) — was to add neutral protamine Hagedorn (NPH) insulin before bedtime. The other two options (to add pioglitazone or to add exenatide twice daily) were tied, each receiving 25% of the votes cast. The 6455 participants who voted were from 123 countries and regions and indicated that they were physicians specializing in diabetes (18%), physicians with other specialties (49%), medical students or physicians-in-training (17%), other health professionals (12%), or other (4%). Detailed results are displayed according to country and specialty at www.nejm.org. The percentage of participants who selected a given treatment varied substantially when the responses were stratified according to the participants' locations (Figure 1).

Figure 1
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Figure 1. Percentage of Participants Choosing Each Treatment Option for the Management of Type 2 Diabetes.

The total number of participants who voted is shown for each continent or region. Option 1 was to add pioglitazone. Option 2 was to add neutral protamine Hagedorn (NPH) insulin before bedtime. Option 3 was to add exenatide twice daily. The percentage of participants who selected a given option varied substantially according to continent or region. An interactive graphic that includes data according to country and specialty is available at www.nejm.org.


The percentage of respondents who selected a given option also varied significantly when the votes were stratified according to the respondents' self-reported specialties. Among voters from North America, the first choice among diabetologists was to add exenatide twice daily (53%); the second choice was to add NPH insulin before bedtime (32%); and the third choice was to add pioglitazone (15%). In contrast, among North American physicians with other specialties, the leading choice was to add NPH before bedtime (52%), and votes for adding pioglitazone and adding exenatide twice daily were divided evenly (24% each). In Europe and Asia, all physicians who voted, irrespective of specialty, gave NPH insulin before bedtime as their first choice. Among voters from Europe, the second-most favored choice among diabetes specialists was adding exenatide twice daily (31%), whereas adding pioglitazone was the second-most favored choice among physicians with other specialties (22%). In contrast, the addition of pioglitazone was the second-most favored choice among all physicians from Asia who voted.

In addition to votes, we received 492 comments, 93% of which were posted at www.nejm.org (after being reviewed for appropriateness). The majority of comments were in favor of the addition of NPH insulin before bedtime, and the rest were divided between the other two treatment options, reflecting the overall voting trends. Reasons given in favor of a particular management strategy were varied but included some recurrent themes, as detailed below. Many additional management options were suggested, but none of these alternatives were overwhelmingly favored.

The majority of respondents who favored adding NPH insulin before bedtime considered this option to be the most efficacious at lowering glycated hemoglobin levels, as well as the most cost-effective. Many believed insulin to be the safest choice, noting that it has been in use longer than the other two choices, has fewer adverse effects, and has been shown to reduce the risk of complications of diabetes, not just surrogate end points. Several respondents remarked that insulin administration is ultimately inevitable, given the progressive nature of type 2 diabetes. However, many participants would have preferred the addition of a longer-acting insulin, such as insulin glargine or insulin detemir. Participants who did not opt to initiate insulin cited two main objections to this choice: reluctance of patients to carry out self-injections, and the possibility of weight gain.

Almost all the respondents who chose to add exenatide twice daily mentioned weight loss as a primary reason for their selection. Several noted that exenatide therapy would be particularly effective in the patient in the case vignette, whose glycated hemoglobin level was more markedly elevated than her fasting blood glucose levels, suggesting high postprandial glucose excursions. Other justifications provided for this choice included low risk of hypoglycemia, as well as possible improvement of pancreatic beta-cell function. Indeed, many respondents favored stopping sulfonylurea therapy or decreasing the dose to decrease the risk of hypoglycemia further. Those who were not in favor of adding exenatide twice daily expressed concern about the cost of the medication, its considerable gastrointestinal side effects (which may include pancreatitis), and the lack of long-term safety and efficacy data.

Respondents who opted to add pioglitazone to the current medical regimen considered this to be the simplest and most convenient choice for the patient. The oral route of administration was perceived to be a major advantage as compared with the injectable alternatives and was considered likely to increase adherence to therapy. In addition, in some countries, such as India and China, voters considered the addition of pioglitazone to be the most cost-effective. Proponents of pioglitazone therapy highlighted its insulin-sensitizing properties and its beneficial effects on other features of the metabolic syndrome, such as levels of high-density lipoprotein cholesterol. Many respondents opined that recent reports suggesting that rosiglitazone may be associated with increased cardiovascular risk2,3 do not apply to pioglitazone, whereas several respondents who voted for other treatment options expressed concern that such risks may be common to all thiazolidinediones. Other objections to the use of a thiazolidinedione included increased risks of weight gain, edema, osteoporosis, and fracture. A few participants expressed a preference for oral incretin therapy with dipeptidyl peptidase IV inhibitors.

As is evident from these results, the care of patients with diabetes whose glycated hemoglobin remains above target levels, despite dual oral hypoglycemic therapy, remains controversial. Thus, more data are needed to direct our clinical decisions. Current approaches used by physicians vary on the basis of their experience, the availability and cost of medications, and stated or perceived preferences of patients. Indeed — as many respondents appropriately noted — given a clinical problem without a clear, evidence-based solution, it is essential to inform patients of all treatment options and the risks and benefits of each and to engage them in the decision-making process. Finally, as the participants emphasized, the successful management of type 2 diabetes necessitates not only pharmacologic interventions for glycemic control but also sustained lifestyle modification and aggressive management of other cardiovascular risk factors.

Comments from this interactive feature will remain available at www.nejm.org, along with data on the voting results. We thank you for your input, and we look forward to hearing from you again soon about another challenging case.

Dr. Halperin is from the Division of Endocrinology, Diabetes, and Metabolism, Department of Medicine, Brigham and Women's Hospital, Boston.

References

  1. Goldberg RB, Holman R, Drucker DJ. Management of type 2 diabetes. N Engl J Med 2008;358:293-297. [Free Full Text]
  2. Nissen SE, Wolski K. Effect of rosiglitazone on the risk of myocardial infarction and death from cardiovascular causes. N Engl J Med 2007;356:2457-2471. [Erratum, N Engl J Med 2007;357:100.] [Free Full Text]
  3. Singh S, Loke YK, Furberg CD. Long-term risk of cardiovascular events with rosiglitazone: a meta-analysis. JAMA 2007;298:1189-1195. [Free Full Text]

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Quem Mexeu no Meu Queijo?

Seguramente que mesmo os que não leram o livro de Spencer Johnson sairam ontem à noite do Hotel D. Luís (em Coimbra) a pensar no seu conteúdo e na mensagem subjacente à respectiva história.
Mas comecemos por partes: decorreu na noite passada mais uma das sessões de debate promovidas pela Secção Regional de Coimbra (SRC) da Ordem dos Farmacêuticos (OF) sobre o futuro e as novas realidades da profissão. É notável a pujança da SRC da OF: o Prof. Batel Marques conseguiu que se reunissem (sem recorrer ao expediente dos créditos para renovação da carteira profissional!!!) mais de duzentas pessoas numa sala, unicamente para ouvir falar de ciência e debater o futuro das farmácias e dos farmacêuticos em Portugal. A sessão de ontem era sobre a realização de testes de rastreio em farmácias comunitárias, acabou já depois da meia-noite e na sala ainda estavam cerca de 130 pessoas.
O principal palestrante foi Vítor Rodrigues, epidemiologista e Prof. da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, que explicou à plateia o que são testes de rastreio e porque é que a sua realização nas farmácias só faria sentido numa perspectiva de actuação integrada dos diversos agentes do sistema de saúde e desde que exista uma racionalidade e continuidade terapêutica no processo que se inicia através de um rastreio. No "painel de reacção" estiveram Suzete Costa (coordenadora do programa de cuidados farmacêuticos da ANF), Nuno Silva (médico internista dos HUC) e Paulo João Soares (farmacêutico especialista em análises clínicas).
Percebeu-se perfeitamente que os farmacêuticos são uma classe profissional ainda em estado de choque com as novas medidas propostas para o sector, nomeadamente a evolução da farmácia enquanto local de venda de medicamentos para a farmácia "point of care", uma espécie de mini-mercado de tudo quanto soe vagamente a produto ou serviço de saúde.
Foi também evidente o embaraço da ANF nesta questão: ao contrário do que afirmou Suzete Costa, as farmácias estão efectivamente a promover processos de rastreio de doenças, embora estes sejam eufemisticamente designados por "testes de identificação de doentes". Não é o facto de se enviesar a amostra (através de inquéritos para "afunilar" o processo) que faz com que um teste deixe de se chamar "rastreio" para se poder chamar outra coisa qualquer: um rastreio é um conjunto de procedimentos (análises clínicas, exames objectivos, etc.) que é feito sobre uma amostra de doentes assintomáticos, com vista a detectar doenças numa fase precoce da sua história natural e encaminhá-los para o processo de diagnóstico. E é exactamente isso que a ANF tem promovido e pelos vistos pensa continuar a promover, apesar de todas as evidências científicas que existem em contrário (veja-se o escandaloso caso dos testes do PSA, sobre os quais em tempos escrevi).
Ao contrário do que algumas pessoas da audiência argumentaram durante o debate, este tipo de iniciativas não é neutra para o SNS: é inevitável que qualquer indivíduo que tenha um resultado positivo num destes testes "de despiste" acabe por recorrer imediatamente aos hospitais e centros de saúde públicos que o rodeiam. É uma consequência do modelo de Beveridge que felizmente ainda orienta os princípios de funcionamento do nosso SNS!
Ou seja, a realização desorganizada, esporádica e desligada de testes de rastreio pelas farmácias portuguesas tem custos para o SNS. E atrevo-me a dizer que não serão poucos! Aliás, Vítor Rodrigues foi bastante arguto no modo como demonstrou isso mesmo, ao referir vários exemplos de situações disparatadas e tragicómicas que ocorriam como consequência da generalização absurda de rastreios.
Nuno Silva frisou a perspectiva clínica da questão, explicando o facto de para os médicos este tipo de iniciativas só fazer sentido enquanto parte de um processo de acompanhamento do doente mais alargado e integrado e Paulo João Soares falou das inevitáveis limitações técnicas que decorrem do facto das farmácias claramente não serem estabelecimentos especializados na realização de análises clínicas.
Em suma, percebeu-se que os farmacêuticos actualmente não sabem muito bem o que hão-de fazer: o novo modelo de farmácia determinado pelo "Compromisso com a Saúde" (assinado entre o governo e a ANF) descentra a actividade farmacêutica e relega para segundo plano todas as actividades de cedência de medicamentos, prevenção e monitorização de interacções medicamentosas, monitorização de doses terapêuticas, identificação e prevenção de fenómenos de iatrogenia medicamentosa, farmacovigilância, aconselhamento ao doente, promoção da adesão à terapêutica, etc. As farmácias portuguesas, sob o impulso da ANF, estão a evoluir para um modelo em que os próprios farmacêuticos serão um apêndice, provavelmente minoritário, de estabelecimentos com muito mais serviços e que contribuem muito pouco para a melhoria da saúde das populações.
Tudo isto seria evitável se as farmácias encetassem um processo de reaproximação à rede de Cuidados de Saúde Primários e se fossem realizados esforços para que a actuação das farmácias decorresse em coordenação com a dos médicos e demais profissionais de saúde que integram a rede.
A Ordem dos Farmacêuticos não pode tolerar que se siga este caminho: está em causa não só a credibilidade profissional (e até a própria empregabilidade!) de um conjunto de profissionais qualificados, mas principalmente a saúde das populações.
Os programas de rastreio pelas farmácias comunitárias são tiros de pólvora seca, que trazem pouco ou nenhum benefício às populações e representam um custo escondido para o SNS. Não foi assim que as farmácias conquistaram a sua credibilidade e seguramente que não é este o caminho a seguir.
Alguém mexeu no queijo dos farmacêuticos, que agora o procuram desesperadamente em qualquer parte. No entanto, ontem à noite percebeu-se perfeitamente que não é aqui que ele está.

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segunda-feira, fevereiro 11, 2008

O meu mais recente contributo para o Farmacia.com:

Não às Análises Clínicas nas farmácias

Sou dessa opinião e da contrária. Aliás, antes pelo contrário. Enfim, olha para o que eu digo e não para o que eu faço.
Entendamo-nos: os farmacêuticos enquanto classe profissional não podem passar a vida a pregar as virtudes da excelência do desempenho profissional, dos controlos de qualidade internos e externos, da certificação e da acreditação, das necessidades de quallificação e formação, se depois quando chega a hora da verdade é um ver se te avias e uma corrida aos tostões do povinho.
Não, uma farmácia não é um mini-mercado de tudo o que é produto e serviços vagamente relacionados com a saúde. Não, um farmacêutico não andou cinco anos e meio a estudar Farmacoterapia, Farmácia Galénica, Biofarmácia e Farmacocinética, Farmacologia um, dois e três, Tecnologia Farmacêutica um e dois, Toxicologia um e dois, Farmácia Clínica, Farmácia Hospitalar, Bioquímica um e dois, Bioquímica Celular, Bioquímica Clínica e sei lá mais o quê para depois quando chega a hora da verdade ser uma espécie de gestor mais qualificado (mas sem qualificações de Gestão), que tanto vende um par de sapatos ortopédicos como um perfume para o menino e para a menina, que tanto faz uma sessão de demonstração de maquilhagem como contrata enfermeiras para dar a vacina da gripe, que mede "as tensões", o "castrol" e já agora o PSA, o "stress oxidativo", o ácido úrico e tudo o que mais couber num capilar, desde que este possa ser atravessado pelo raio duvidoso de um espectrofotómetro de baixa qualidade.
Uma farmácia é um espaço onde se cedem medicamentos, previnem-se interacções medicamentosas, monitorizam-se doses terapêuticas, identificam-se e previnem-se fenómenos de iatrogenia medicamentosa, faz-se farmacovigilância, aconselha-se o doente, promove-se a adesão à terapêutica, desenvolvem-se campanhas de promoção da saúde e prevenção da doença e, sobretudo, uma farmácia é também um dos pontos de contacto da rede de Cuidados de Saúde Primários com os doentes, onde estes encontram maior disponibilidade para serem atendidos e ouvidos por profissionais qualificados e credíveis, todos os dias, a qualquer hora do dia, da semana, do mês ou do ano e em todo o país.
O que é que as análises clínicas têm a ver com isto? Nada. Aliás, tudo: a promoção da realização de exames desnecessários em nada contribui para a melhoria da saúde das populações e é um importante factor de consumo de tempo aos recursos humanos das farmácias, que assim deixam de ter disponibilidade para aquilo que deveriam estar a fazer. Por outro lado, é um enorme factor de descredibilização para a profissão: a não ser que os farmacêuticos comunitários que realizam análises clínicas nos seus mini-mercados de serviços de saúde tenham também a Pós-graduação em Análises Clínicas (2 anos teóricos intensivos e pelo menos 6 meses de prática...), estaremos a promover a prestação de serviços de Analista Clínico por pessoas que a própria Ordem dos Farmacêuticos sabe que não têm capacidade técnica para o fazer. Em termos puramente profissionais, estaremos a fazer figura de ursos. E em termos económicos, estaremos a dar um sinal à sociedade de que não vale a pena contratar farmacêuticos: qualquer indivíduo com a quarta classe sabe dizer "está alto" ou "está baixo" quando confronta o resultado de um teste com o respectivo valor de referência indicado pelo fabricante do aparelho.
Análises clínicas de baixa qualidade, feitas segundo métodos artesanais e pouco credíveis, por indivíduos de bata branca que pouco percebem do assunto? Não, muito obrigado. Nem nas farmácias, nem na Feira de Espinho, nem na sede dos Bombeiros Voluntários de Favaios.
A respeitabilidade profissional é como a virgindade: só se perde uma vez. E brincar com o fogo é algo que não me agrada particularmente.

...e aqui fica também a resposta do meu ilustríssimo colega e amigo Jorge Peliteiro:

11 de Fevereiro de 2008
As Farmácias portuguesas possuem um capital importantíssimo: a confiança dos doentes.

Não é fácil encontrar em quem confiar quando se está fragilizado pela doença e quando os modelos de prestação de serviços de saúde estão em permanente e acelerada mudança.

As análises clínicas, em concreto, vivem momentos conturbados no que respeita a este défice de confiança por duas ordens de razões. Em primeiro lugar pela força da economia e dos fluxos económicos, pelos imperativos da rentabilidade, das economias de escala e das fusões e aquisições, também pela necessidade do controlo da despesa pública num mundo que exige mais e melhores serviços de saúde para mais e mais velhos cidadãos; em segundo lugar pela evolução científica e tecnológica que possibilitou a deslocalização da determinação de parâmetros biológicos do ambiente laboratorial para o ponto onde se prestam cuidados ao doente e que possibilitou que os resultados de exames laboratoriais antes garantidos por especialistas agora pudessem ser obtidos por outros profissionais de saúde ou pelos próprios doentes.

Temos então unidades de colheitas em clínicas dentárias, corporações de bombeiros, postos de enfermagem, espaços divididos com gabinetes de depilação, etc., etc., etc., que enviam as amostras biológicas para laboratórios do outro lado do país, do outro lado da Península Ibérica ou sabe-se lá a que distância, laboratórios estes que pertencem a grupos económicos com sede nas ilhas Caimão ou sabe-se lá onde. Temos então análises “rápidas”, de química seca, efectuadas no point of care, na feira de saúde ou na ervanária, sob a responsabilidade de médicos, enfermeiros ou estudantes disto e daquilo. Por outro lado temos um Estado que aparentemente não se importa nem com a saúde do seu povo nem com a aplicação dos dinheiros públicos, um Estado que não regula nem fiscaliza – «os mecanismos de fiscalização ao dispor das ARS não são suficientes para uma eficaz avaliação da qualidade dos serviços prestados e o sistema é muito permissivo a fraudes».

Análises clínicas nas Farmácias – Porque sim? Porque existem condições únicas para garantir a normalização dos métodos de ensaio, das calibrações dos equipamentos e da expressão dos resultados, cumprindo os mais exigentes requisitos de qualidade e competência e porque a acessibilidade dos doentes aos exames laboratoriais seria assim ampliada através de uma rede de estabelecimentos e profissionais de saúde em quem confiam, com um longo historial de excelência.

Análises clínicas nas Farmácias – Porque não? Ficará limitada a livre escolha do doente? Ficará afectada a livre concorrência entre prestadores de serviços? Aumentará o consumo indevido de medicamentos? Ou o de análises clínicas? São incompatíveis estes serviços de saúde? Claro que não, aliás já assim foi em tempos!

Sendo assim, seja a instalação na Farmácia de um gabinete para determinações bioquímicas no sangue, seja de uma unidade de colheitas de amostras biológicas, seja até de um laboratório de análises – e, obviamente, desde que sejam convenientemente asseguradas as necessidades de formação e as competências dos profissionais, desde que garantidas as condições de higiene e segurança, bem delimitados os espaços físicos e a movimentação de materiais e pessoas - a Farmácia tem tudo o indispensável para evoluir, crescer e prestar mais um serviço de inegável valor para os doentes portugueses. Sem deixar de ser Farmácia.

Jorge de Sá Peliteiro, Especialista em Análises Clínicas

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quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Facto 1: todos os anos começam no dia 1 de Janeiro.
Facto 2: Jesus Cristo nasceu no dia 25 de Dezembro.
Facto 3: o dia 25 de Dezembro é o tricentésimo quinquagésimo nono dia do ano.
Facto 4: o ano em que Jesus Cristo nasceu foi considerado o "ano 1", uma vez que naquela época ainda não existia a noção de "zero".
Facto 5: a humanidade divide a contagem dos anos em "antes de Cristo" e "depois de Cristo".

Ou seja, o ano 1 "depois de Cristo" teve 358 dias e algumas horas "antes de Cristo" (98,4%) e apenas 6 dias e algumas horas "depois de Cristo" (1,6%). Convenhamos que soa um bocadinho a fraude.

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quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Se o Padre António Vieira fosse vivo, faria hoje 400 anos.

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sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Desculpem lá, mas preocupante, preocupante era se tivéssemos como Primeiro-Ministro um homem capaz de desenhar isto.

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Eu, analista político frustrado, me confesso

Foi de facto com enorme espanto que vi CC sair do governo. Não fazia nenhum sentido à luz do que se conhecia do próprio (homem que não precisa de ser popular para andar satisfeito, que gosta da polémica e não tem medo da contestação de rua, habituado a dar a cara em situações difíceis e até com uma coragem física assinalável, que inclusive demonstrou em algumas ocasiões), nem à luz da imagem que Sócrates passava de si próprio (político determinado, insensível a pressões externas, leal aos seus, reformista com coragem para fazer "o que é preciso", resistente a lobbies e outras forças de pressão, etc.).
Na verdade, CC era uma espécie de âncora da imagem reformista e ousada do governo. Enquanto ministros como Mário Lino eram impopulares por defenderem projectos que todos achavam estar errados e consideravam desnecessários, CC devia a sua impopularidade a iniciativas que todos sabiam ser necessárias e que a maioria das pessoas até reconhecia que estavam correctas. Ou seja, ao contrário de outros, CC era um ministro que gozava de uma espécie de impopularidade credível e era visto como um mal necessário, uma espécie de álcool etílico que arde, mas é necessário para curar a ferida, mas que, podendo escolher, todos perferiríamos ver despejado por cima das crostas do vizinho do lado.
Perante isto, e reconhecendo a enorme habilidade política de José Sócrates, nunca pensei que CC pudesse cair, até porque a sua impopularidade era quase toda virtual e não suficientemente importante para mudar o sentido de voto das populações. Aliás, embora a Saúde seja uma área de importância fundamental e sempre geradora de enormes polémicas, penso que não haverá memória de um único governo que não tenha sido reeleito devido a opções tomadas na área da Saúde (veja-se o exemplo de Cavaco Silva, que teve maiorias absolutas mesmo com Leonor Beleza na Saúde).
No entanto, e porque no fim do jogo os prognósticos são sempre muito mais acertados, agora percebe-se com razoável clareza porque é que CC caiu: Sócrates apercebeu-se de que a contestação popular na área da Saúde estava a ser utilizada pela imprensa para a criação de casos artificiais, com um efeito de bola de neve em tudo semelhante ao que em 2004 fez cair Santana. O telefonema do bombeiro de Favaios, que em circunstâncias normais serviria para passar como apontamento cómico no final dos telejornais transformou-se em assunto de Estado e mereceu honras de destaque em todas as televisões e rádios. E Sócrates, começando a sentir-se chamuscado, não quis arriscar. A permanência de CC no governo poderia estar a custar demasiados votos ao PS e por outro lado as políticas impopulares estavam em contra-ciclo com o que se pretendia para a segunda parte do mandato, naturalmente programada para acabar em ascensão e com um final feliz nas urnas de 2009.
E foi assim. Entre os custos de perder a face e os custos de ter no governo o alvo de toda a especulação jornalística, Sócrates optou pelos primeiros.
Na minha opinião, e analisando o assunto segundo a mera lógica da aritmética eleitoral, Sócrates fez mal. É que a face de um político só se perde uma vez por legislatura. E Sócrates, depois do caso da licenciatura, nunca poderia ter demonstrado que é humano, convencível, vulnerável e que cede a pressões (da comunicação social, dos bombeiros de Alijó ou das velhinhas de Anadia). A partir de agora, nada será como antes. É sempre possível argumentar que agora também não é preciso, pois já estamos em plena campanha eleitoral para 2009 e daqui para a frente vamos ter só flores. A mim não me parece que isso seja possível e acho sinceramente que Sócrates ainda há-de ter saudades do medo que antes causava ao eleitorado.
Uma coisa é certa: a história deste governo será sempre dividida em duas fases - o período CC e a época pós-CC. E parece pouco provável que esta interrupção traga algum benefício ao SNS, ao país ou até ao próprio PS.

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