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sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Anteontem inscrevi-me para participar no Fórum TSF sobre o financiamento partidário. Ligaram-me quando estava numa bomba de gasolina, a abastecer ao lado de um carro da GNR com 3 agentes lá dentro. Era uma daquelas bombas em que ainda vigora o sistema manual, ou seja, em que há um gasolineiro tirano com excesso de zelo profissional e que não deixa mais ninguém mexer na mangueira. No entanto, o que em condições normais seria um acto de grande prestatividade torna-se numa ajuda inútil e até um pouco irritante, pois como eu pago por cartão multibanco, não consigo evitar a saída do carro. Ou seja, estava naquela fase um pouco embaraçosa em que, de mãos nos bolsos e a fazer conversa de circunstância via o homem abastecer o meu carro, também ele sem nada para fazer, pois a mangueira tinha uma patilhazinha que permitia poupar o hercúleo esforço de carregar no gatilho.
Nisto, toca-me o telemóvel. Obviamente que todos os presentes (dois gasolineiros e 3 GNRs) olharam para mim de lado e com ar de reprovação. Vendo que era um número estranho e prevendo que era a TSF, decidi atender. A plateia ficou em estado de choque e a preparar-se psicologicamente para uma explosão de grandes dimensões provocada pelo uso de telemóvel na bomba de gasolina. Talvez para mostrar serviço em frente aos agentes da autoridade, o gasolineiro que estava a abastecer o meu carro correu na minha direcção aos gritos, dizendo algo como "- Tem que desligar! Não pode falar ao telemóvel na bomba de gasolina!", o que fez com que eu instintivamente corresse na direcção oposta, curiosamente para perto de outra bomba onde não estava ninguém. Os GNRs sairam imediatamente do carro, fuzilando-me com os olhos. "- Bom dia, vai entrar em directo no Fórum TSF", "OK, respondo eu. Vamos a isso!". O gasolineiro estava cada vez mais perto e eu já ouvia a voz de Manuel Acácio a entrevistar o ouvinte que me antecedeu. Até que por fim decidi confessar tudo: "- Peço desculpa, mas não posso desligar. Estou em directo para a TSF. E este telefonema vai ser transmitido para todo o país". Incrédulo e desconfiado, o gasolineiro franziu o sobrolho. Aproveitei a hesitação para me refugiar num cantinho atrás de uma das bombas. Os polícias olharam para o homem com ar inquisitivo. O gasolineiro fez-lhes um gesto tranquilizador. "- Acabe de abastecer que eu já aí vou pagar", acrescentei, já senhor da situação e com ares de vedeta da rádio nacional.
"Bom dia, está no Fórum". E numa fracção de segundo percebi que estava em directo para todo o país, para falar já não sabia muito bem sobre o quê. De repente, tudo voltou e lá comecei a discorrer sobre o tema, como se fosse ouvinte de mim próprio e de certa forma espantado com o teor das afirmações que ia proferindo. De um modo geral, defendi que essencialmente era preciso clareza, que era contra o financiamento partidário público e que todas as empresas deveriam poder financiar quem quisessem, desde que o fizessem às claras e essas informações fossem públicas. Pelo meio, já não me lembro bem porquê, falei de blogues, da Somague, do sistema americano e de escrutínio popular.
O Manuel Acácio não me interrompeu, o que já não foi mau. Felizmente não conheço uma única pessoa que me tenha ouvido.

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