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sexta-feira, julho 19, 2013

A caixa de Pandora 


É difícil falar do actual momento político do país sem cair em lugares-comuns ou banalidades, tão obviamente estúpida é a sequência de eventos a que estamos a assistir.
Em primeiro lugar, a origem do problema: anos sucessivos de má governação, perdão, de péssima governação fizeram com que Portugal fosse um país onde se realizam obras estúpidas, totalmente dependente de crédito externo (mas isso não é nada de extraordinário - hoje em dia todos os países funcionam assim) e, pior que isso, um país sem qualquer flexibilidade laboral, que atira os jovens para o desemprego e, o mais grave de tudo, um Estado que todos os anos gasta mais 8,6 mil milhões de euros do que o que recebe.
Ora, não é preciso ser Professor de Economia para perceber que esta situação era e é absolutamente insustentável.
Chegados a este ponto, bastou alguma agitação nos mercados de capitais para os investidores reduzirem os níveis de risco e, como tal, subirem os juros dos empréstimos mais arriscados, entre os quais se encontram os investimentos na dívida pública dos parentes pobres da Europa. 
Neste contexto existiam duas formas de se resolver o problema: o BCE poderia ter intervido da mesma forma que o fizeram o Fed ou o Banco de Inglaterra e cortado o mal pela raiz, emitindo moeda. O risco de uma espiral inflacionista, argumento sempre apresentado nestas ocasiões, é altamente questionável, dado o cenário de contracção económica. 
A alternativa a esta óbvia política com provas dadas era os países com dificuldade no acesso a crédito recorreram à Troika e aplicarem medidas de austeridade. Optou-se - e mal - pela segunda via.
Ainda assim, a austeridade não seria necessariamente má. Se o fim de obras estúpidas como as faraónicas rotundas e monumentos locais, piscinas municipais supérfluas, aeroportos, TGVs e outras que tais são medidas de austeridade, então eu sou radicalmente pró-austeridade. Do mesmo modo, se o encerramento de institutos públicos com gestores que recebem ordenados milionários e milhares de funcionários que pouco fazem pelo bem comum é austeridade, eu sou igualmente a favor da austeridade. Aliás, se eles dizem "mata", eu digo "esfola!". O problema é que em Portugal a versão troikista-gasparina da austeridade é, tão só e apenas, aumentar impostos. 
É a via mais fácil, menos trabalhosa e também a que teoricamente produziria mais resultados a curto prazo, prontos a servir entre duas salsichas de Frankfurt e uma colherada de sauerkraut. 
Ora, como todos muito bem sabemos, esta opção tem o desagradabilíssimo efeito secundário de fazer recuar a economia e, como tal, agravar o défice, pelo simples efeito matemático de que se colocarmos um valor mais ou menos fixo (a despesa pública) em percentagem de um valor que diminui (o PIB), esta proporção será necessariamente maior, por muitas voltas que se dêem à equação.
Perante este beco sem saída, e também porque o executor deste disparate estava publicamente desgastado e a sofrer uma contestação crescente, as loiras cabeças pensantes da Europa que manda decidiram proceder à sua substituição por uma tecnocrata discreta e pré-aprovada pelas altas instâncias. O timing era teoricamente perfeito: a um mês do Verão, a nova Ministra teria um estado de graça facilmente extensível até às eleições alemãs de Outubro e como tal o risco de desagregação das políticas merkelianas seria desse modo reduzido. A Europa estaria calma e Angela poderia ter um percurso angelical até ao mandato seguinte.
O problema é que em Berlim esqueceram-se dos animais políticos portugueses. Tudo começou com o regresso de Sócrates e a forma como Teixeira dos Santos com toda a subtileza deu um tiro, quer dizer um balázio, no porta-aviões, quando fez o tema das swaps regressar à praça pública. Imediatamente o nome de Maria Luís Albuquerque ficou politicamente aniquilado e ainda por cima numa fase em que a Troika já não tinha tempo útil para uma nova nomeação. 
Foi então que Portas entrou em acção - apercebendo-se da fragilidade da situação e da nesga de oportunidade para saltar deste comboio em andamento, Portas demitiu-se, tentando deixar o ónus da queda do governo para Passos. A ideia seria capitalizar a imagem de "direita responsável que tudo fez para suster aqueles doidos" mas que a certa altura teve que desistir "porque já não dava para aturar aquilo".
Foi então que a Troika reagrupou e resolveu as coisas, provavelmente excluindo o CDS de qualquer solução governativa que não passasse pelo governo actual e agitando o fantasma do bloco central.
Muito a contragosto, Portas teve que ceder. Era isso ou a irrelevância de se ver atirado para a oposição junto com o BE e a CDU, ele que tanto gosta de se sentir no "arco da governação". Resignado, Portas optou pela estratégia do "second best" e tomou conta do governo, conseguindo a tutela da economia, finanças e relacionamento com a Troika. Nada mau para quem nem sequer chegou aos 10% de votos!
Contudo, quando tudo parecia ter voltado ao normal e a vida poderia prosseguir com a tão apreciada tranquilidade lusitana, eis que surge o fígado de Cavaco Silva, que há mais de 20 anos esperava a oportunidade de se vingar de Portas e do facto deste lhe ter feito a vida negra enquanto primeiro-ministro. A vingança serve-se fria ou, no caso de Cavaco, congelada e recessa.
Foi então que surgiu o momento actual, para o qual contribuiu um involuntário voluntarismo de António José Seguro, que sem perceber minimamente o que se está a passar colocou-se na posição de se preparar para pertencer, pelo menos moralmente, a um governo que vai durar menos de um ano e que nesse curto período não só não vai fazer nada, como vai levar com as culpas populares de tudo o que se passou até aqui, condicionando ainda opções futuras num eventual governo socialista. Em nome de uma suposta responsabilidade de salvação nacional, Seguro está a fazer um frete a Cavaco, sem perceber que enquanto o faz está a cometer um quase insólito hara-kiri político.
Com esta solução, em Portugal a oposição parlamentar vai passar a ter apenas 2 rostos (quer dizer, 3 porque um deles é bicéfalo): os do PCP e do BE, como se quem não fosse troikista tivesse obrigatoriamente que ser comunista ou bloquista.
Entendamo-nos: o actual governo tem legitimidade democrática e apoio parlamentar. Se as comadres estão disponíveis para continuarem a governar juntas, então que o façam até ao fim do mandato. Não faz qualquer sentido a inclusão do PS nesta confusão e o apelo de Cavaco é pura e simplesmente estúpido e ressabiado. O PS já estava comprometido com a Troika desde que a chamou e com ela assinou um memorando. Não era necessário este vínculo adicional. Cavaco está a tratar de si próprio, das suas amarguras e a tentar ficar na história por motivos que não envolvam bolo-rei ou o valor da sua reforma. Não vai conseguir.
Contudo, é com este tipo de desestruturações artificiais que se distorcem as democracias. Esta caixa de Pandora que Cavaco abriu pode ter consequências absolutamente imprevisíveis e que serão seguramente piores que a situação anterior.

(texto da minha crónica de hoje na RVR)

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segunda-feira, julho 15, 2013

Só se fossem geridos por completos incapazes políticos (Hã?!) é que os partidos do "arco do poder" aceitariam o repto (quer dizer, o réptil) lançado por Cavaco Silva. É que ao fundirem-se num governo ou qualquer tipo de estrutura/acordo/negociata de "salvação nacional" estariam a deixar o lugar da oposição vago para ser ocupado apenas por dois partidos: CDU e BE.
Ou seja, o único contraponto a uma governação que todos sabemos que vai ser desastrosa seriam o BE e a CDU, que por essa via ascenderiam a uma situação eventualmente até de alternativa viável (daí que Louçã tenha atempadamente cedido o posto a indivíduos mais apresentáveis num cenário de negociação para formar governo).
Basicamente, quem não apoiar esta cavaquice ou é comuna ou trotskista.

PS - Dito isto, a verdade é que para entregar o país ao AJS se calhar mais vale deixar que PPC e PP acabem de fazer o papel de lacaios da Troika e esperar que AJS caia por inevitabilidade, à medida que o cheiro a poder se começar a intensificar no Largo do Rato.

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quarta-feira, julho 03, 2013

Aqui há gato 

Apesar de tudo PPC é bem mais inteligente do que isto. Tem que haver qualquer coisa para explicar este exercício de surrealismo. Ninguém pode acreditar que era assim que ele achava que as culpas iriam parar ao CDS. Eu não acredito - e acho que aqui há gato.

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