sexta-feira, fevereiro 24, 2012
Embora nas Filipinas haja cidadãos genuinamente preocupados com o assustador e exponencial aumento da concorrência no mercado da auto-flagelação (e Portugal ataca em várias frentes - Troika, Acordo Ortográfico, André Villas-Boas, Vítor Pereira, Sporting, farmacêuticos em geral e ANF em particular - tudo para garantir que a Grécia não nos voltará a ganhar um troféu), não é disso que hoje venho aqui escrever.
Como todos os maus textos, este começa assim:
É assim: por muito estranho que isso possa parecer (e a mim parece-me), a verdade é que as relações interpessoais e as capacidades sociais são relativamente imunes à pseudo-tribo social em que cada um se enquadra.
Há dias, na fila da caixa do Continente de Coimbra, enquanto fazia de Strogman com 3 pacotes de fraldas em cada braço, vi ao longe a caminhar na minha direcção um casal que parecia ter viajado no tempo, com mais ar de 1993 que a própria proibição da terça-feira de Carnaval. Tinham tudo para ser interessantes e daí o meu "Deus queira que venham para a minha fila". Deus quis.
Ele tinha o cabelo comprido e liso, pelo meio das costas, e uma barba que numa primeira análise me pareceu espigada e que numa segunda avaliação pude perceber que tinha apenas tendência para o encaracolamento. Olhando mais de perto percebi que aquele cabelo não só tinha conhecido o champô há poucas horas, como provavelmente o encontrava todos os dias. Pior, existiam evidentes sinais de uso concomitante de um qualquer amaciador. O cheiro era neutro, a camisa aos quadrados estava em bom estado e os próprios rasgões das calças eram claramente de origem. Estava, portanto, perante um beto com a mania que era um grunge anacrónico, percebi de imediato.
A rapariga deu mais luta. Cabelo cor-de-laranja, esse sim mesmo espigado, olheiras, possível anorexia, calças de ganga elásticas e roupa semi-woodstockiana.
(Acabei de ver o Pedro Nuno Santos na TV - peço desculpa por qualquer impropério que possa surgir nas próximas linhas, mas um gajo não é de ferro, @*!&-@€!)
Mas, dizia eu, ela prometia mais que ele. Havia qualquer coisa de genuíno naquela falta de beleza e na forma aparentemente (e realmente) desordenada com que os brincos haviam sido distribuídos pelo seu corpo. Melhor ainda, tinham ido comprar pão, coca-cola e preservativos.
A coisa começou a dar para o torto quando tocou o telemóvel da rapariga. Simpática, com a voz bem colocada, utilizando frases gramaticalmente correctas e até com algum paternalismo, estava a combinar um jantar com uma amiga. Desligou o aparelho (um smartphone, obviamente) e disse ao acompanhante que os amigos sempre vinham jantar com eles. "Que seca", respondeu ele. E falaram da relação intermitente dos amigos, da neura com que estes iriam estar e do facto de provavelmente terem pela frente uma noite dividida entre a gestão de melindres e a hipotética possibilidade de reatamento do relacionamento. "E eu que hoje queria estudar", acrescentou ela, para me deixar ainda mais deprimido.
Vistos de perto, ambos eram, afinal, insuportavelmente clean. Seria capaz de apostar que nem sequer fumavam tabaco ou bebiam mau vinho.
Felizmente chegou a minha vez. Com as fraldas derrubei-lhes o ridículo cestinho, não pedi desculpa, fiz cara de mau e dei o meu contributo para a felicidade da família Azevedo e dos cidadãos holandeses cujos impostos acabara de financiar. Saí a correr em direcção ao estacionamento, sem por um segundo olhar novamente para trás e para aqueles que em 5 minutos me fizeram perceber que não, não há volta a dar - 1993 foi mesmo há 19 anos. @*!&-@€! (Esta não foi por causa do Pedro Nuno Santos). @*!&-@€! (Esta já foi).
Como todos os maus textos, este começa assim:
É assim: por muito estranho que isso possa parecer (e a mim parece-me), a verdade é que as relações interpessoais e as capacidades sociais são relativamente imunes à pseudo-tribo social em que cada um se enquadra.
Há dias, na fila da caixa do Continente de Coimbra, enquanto fazia de Strogman com 3 pacotes de fraldas em cada braço, vi ao longe a caminhar na minha direcção um casal que parecia ter viajado no tempo, com mais ar de 1993 que a própria proibição da terça-feira de Carnaval. Tinham tudo para ser interessantes e daí o meu "Deus queira que venham para a minha fila". Deus quis.
Ele tinha o cabelo comprido e liso, pelo meio das costas, e uma barba que numa primeira análise me pareceu espigada e que numa segunda avaliação pude perceber que tinha apenas tendência para o encaracolamento. Olhando mais de perto percebi que aquele cabelo não só tinha conhecido o champô há poucas horas, como provavelmente o encontrava todos os dias. Pior, existiam evidentes sinais de uso concomitante de um qualquer amaciador. O cheiro era neutro, a camisa aos quadrados estava em bom estado e os próprios rasgões das calças eram claramente de origem. Estava, portanto, perante um beto com a mania que era um grunge anacrónico, percebi de imediato.
A rapariga deu mais luta. Cabelo cor-de-laranja, esse sim mesmo espigado, olheiras, possível anorexia, calças de ganga elásticas e roupa semi-woodstockiana.
(Acabei de ver o Pedro Nuno Santos na TV - peço desculpa por qualquer impropério que possa surgir nas próximas linhas, mas um gajo não é de ferro, @*!&-@€!)
Mas, dizia eu, ela prometia mais que ele. Havia qualquer coisa de genuíno naquela falta de beleza e na forma aparentemente (e realmente) desordenada com que os brincos haviam sido distribuídos pelo seu corpo. Melhor ainda, tinham ido comprar pão, coca-cola e preservativos.
A coisa começou a dar para o torto quando tocou o telemóvel da rapariga. Simpática, com a voz bem colocada, utilizando frases gramaticalmente correctas e até com algum paternalismo, estava a combinar um jantar com uma amiga. Desligou o aparelho (um smartphone, obviamente) e disse ao acompanhante que os amigos sempre vinham jantar com eles. "Que seca", respondeu ele. E falaram da relação intermitente dos amigos, da neura com que estes iriam estar e do facto de provavelmente terem pela frente uma noite dividida entre a gestão de melindres e a hipotética possibilidade de reatamento do relacionamento. "E eu que hoje queria estudar", acrescentou ela, para me deixar ainda mais deprimido.
Vistos de perto, ambos eram, afinal, insuportavelmente clean. Seria capaz de apostar que nem sequer fumavam tabaco ou bebiam mau vinho.
Felizmente chegou a minha vez. Com as fraldas derrubei-lhes o ridículo cestinho, não pedi desculpa, fiz cara de mau e dei o meu contributo para a felicidade da família Azevedo e dos cidadãos holandeses cujos impostos acabara de financiar. Saí a correr em direcção ao estacionamento, sem por um segundo olhar novamente para trás e para aqueles que em 5 minutos me fizeram perceber que não, não há volta a dar - 1993 foi mesmo há 19 anos. @*!&-@€! (Esta não foi por causa do Pedro Nuno Santos). @*!&-@€! (Esta já foi).
Este post serve apenas para assinalar a saída da TVI24 da minha galeria de heróis. Gaspar "otimista" diz que a economia terá uma "contração" menor que o esperado?! Grunhos!
"Era necessário destruir e humilhar o chico-espertismo, a preparação de algibeira, o carreirismo saloio, a pose enfadada e vazia, a cultura de reader's digest e a idiotice voluntarista de José Sócrates? Era imperioso. Mudámos para pior? Com certeza que sim; para muito significativamente pior. Valeu a pena? Só falo sobre futebol."
(Infelizmente este texto não é meu, mas sim do maradona (com minúscula))