É curioso que o Professor Doutor Álvaro Santos Pereira e o Sr. Miguel Relvas sejam ministros do mesmo governo e peçam para ser tratados respectivamente por "Álvaro" e "Dr. Miguel Relvas".
Aqui fica o texto da minha crónica de hoje na RVR:
Haverá seguramente poucos concelhos tão conservadores como o de Estarreja. É assim desde o 25 de Abril: estamos sempre bem com o que temos e raramente aceitamos mudanças. Não gostamos de arrivistas, preferimos apostar em quem já conhecemos e nos projectos e ideias já testados e experimentados.
A provar este conservadorismo estão os resultados das eleições locais, que em 37 anos de democracia apenas elegeram 3 Presidentes da Câmara diferentes: a primeira durante 17 anos, o segundo durante 8 e o terceiro durante mais 12 anos. É de facto muito pouca mudança para tanto tempo, sobretudo à luz da época em que vivemos e da vertigem de acontecimentos em que se transformou o mundo actual.
É por isso que as próximas eleições locais são tão interessantes: vamos ter, pela terceira vez na história democrática local, um presidente da Câmara novo, que vai ser também alguém com um perfil completamente diferente de todos os anteriores.
Sinal dos tempos ou simples coincidência, a verdade é que, ao contrário dos seus dois antecessores, Diamantino Sabina e Fernando Mendonça não têm um percurso de vida pública construído a partir do associativismo local ou de intervenções em colectividades, tendo antes iniciado a vida política mais activa (em ambos os casos também profissionalizada, outra novidade) directamente a partir das estruturas do poder local. São também pessoas da mesma geração e com fortes ligações aos respectivos partidos e que dominam razoavelmente o aparelho partidário local, ao contrário do que sucedia quando qualquer um dos dois anteriores presidentes da câmara foram pela primeira vez candidatos.
No entanto, as semelhanças terminam aqui. Tal como sucedeu com os dois anteriores presidentes da câmara, Fernando Mendonça já concorreu e já perdeu uma primeira eleição, enquanto que para Diamantino será uma estreia nas urnas e em frente ao povo.
Esta pequena variação acaba também por se reflectir na diferença essencial entre os perfis dos candidatos: enquanto Diamantino Sabina se destacou pelas iniciativas de combate político, funcionando na prática quase como um líder da oposição à oposição, Fernando Mendonça tem dado nas vistas essencialmente pela intelectualização e conceptualização estratégicas daquelas que deverão ser as funções de uma Câmara Municipal. Diamantino fala e escreve essencialmente sobre assuntos correntes, sem uma lógica de planeamento ou pensamento estratégico a médio-longo prazo, enquanto Fernando tem um projecto construído de raiz e na primeira pessoa, substancialmente diferente de tudo o que até hoje se fez em Estarreja e sobretudo que tem um fio condutor e uma lógica de actuação bem definidos.
Embora com dois candidatos diferentes, nas próximas eleições vamos novamente ter em cima da mesa a hipótese conservadora e segura, traduzida no projecto bem conhecido de Fernando Mendonça (que é alguém com quase 20 anos de exercício efectivo de cargos políticos) e a alternativa inovadora e recém-chegada de Diamantino Sabina, que tem apenas 4 anos de vereação e outros 4 de colaboração com o gabinete do Presidente da Câmara.
Poder-se-á argumentar que é cedo e que Diamantino Sabina só agora se viu perante a necessidade de pensar, delinear e construir um projecto autárquico, na medida em que é a primeira vez que está a preparar uma candidatura. Sim, para já é justo darmos-lhe o benefício da dúvida e aguardarmos as suas ideias e projectos. Mas é igualmente justo reconhecer que nesta questão Fernando Mendonça parte com quatro anos de avanço, muito melhor conhecimento dos circuitos políticos de decisão e com um projecto bem sedimentado e estrategicamente coerente. Para já, Fernando Mendonça é a única escolha segura. E em Estarreja não gostamos de aventuras.
(copy-paste a partir do magnífico
site da ILC contra o Acordo Ortográfico)
Notícia de última hora para todas as crianças que estão a aprender segundo o último acordo ortográfico, para todos os professores que estão a preparar aulas segundo o último acordo ortográfico, para todas as editoras que estão a lançar livros segundo o último acordo ortográfico, para todas as empresas que passaram a fazer a sua comunicação segundo o último acordo ortográfico e, de forma geral, para todos os portugueses que estão a tentar esforçadamente mudar a forma como sempre escreveram para obedecerem às regras do último acordo ortográfico: esqueçam o último acordo ortográfico.
Esta semana, a poucos dias do fim do prazo, o Brasil anunciou que pretende adiar a aplicação desse acordo de 2013 para 2016. Mas não anunciou apenas isso. O ministro da Educação brasileiro afirmou que esses três anos não vão servir para preparar a aplicação do acordo – vão servir para o contrário. Segundo ele, o acordo actual está “muito aquém do que se poderia” fazer.
O senador Cyro Miranda, que pertence às comissões de Educação e de Relações Exteriores, foi ainda mais claro: “Além de o novo acordo ter sido muito mal feito, os professores ficaram de fora. Precisamos de rever tudo. O novo acordo tem tantas excepções que os professores não sabem o que vão ensinar.” E não foi tudo: o senador deu a entender que o Governo brasileiro quer convencer os outros países, incluindo Portugal, a fazerem uma mudança total do acordo. Alguns desses países serão fáceis de convencer. Angola, por exemplo, já mostrou várias vezes que está contra o acordo.
Os governos portugueses acharam que a melhor estratégia para impor o acordo ortográfico aos críticos era avançar a 200 km/hora, contra todos os obstáculos, contra todas as dúvidas e contra todos os avisos. Agora, quando se olha para trás, percebe-se que ninguém o seguiu.
[Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito (quando dizem ou se dizem) e são por definição de interesse público (quando são ou se são).]