segunda-feira, setembro 22, 2003
Acabei de ser entrevistado pela Rádio Voz da Ria a propósito deste blogue! Fiquei sinceramente espantado com o interesse revelado, e aproveito para agradecer publicamente a simpatia que foi terem considerado o Estarreja Efervescente como um assunto com relevo suficiente para alguém perder tempo.
Já agora, aqui fica uma das minhas últimas crónicas na Rádio Voz da Ria, emitida no dia 3 de Julho de 2003. Numa fase em que se começa a falar de "diálogo" com a REFER, este protesto já quase com 3 meses não deixa de continuar a ter sentido.
O Atentado
O concelho de Estarreja está a atravessar um dos períodos mais conturbados dos últimos meses. De facto, a par das indefinições em relação ao Parque Industrial e à construção do IC1, este tem sido o tempo do nosso concelho sofrer os mais cerrados ataques por parte de algumas empresas públicas, cujo comportamento arrogante e sobretudo ignorante tem sido por demais evidente. Estou a falar, obviamente, da EDP e da REFER. Em relação à EDP a situação parece estar em vias de resolução, com aquela empresa a assumir claramente a necessidade de investir fortemente para colmatar o mau serviço que durante tantos anos tem prestado no concelho de Estarreja, pelo que a situação de conflitualidade entre aquela instituição e os órgãos autárquicos e empresas do nosso concelho parece estar em vias de resolução.
Já no que diz respeito à REFER, a empresa responsável pela manutenção e construção das estruturas associadas aos caminhos de ferro, a situação é bem diferente e muito mais preocupante. De facto, a anunciada intenção da REFER de encerrar os actuais apeadeiros de Canelas e Salreu, para os substituir por um novo apeadeiro, a construir em terra de ninguém, algures no meio do esteiro entre aquelas duas freguesias, é extremamente grave e deve ser combatida com toda a firmeza e inflexibilidade. Só uma profunda ignorância em relação à realidade do concelho de Estarreja é que permitiu que uma proposta tão disparatada fosse sequer apresentada.
Por exemplo, o apeadeiro de Canelas, que também serve a população de Fermelã, é frequentado diariamente por dezenas de pessoas, sobretudo estudantes, que o utilizam para se poderem deslocar principalmente para Estarreja e para Aveiro, para assim poderem frequentar as Escolas Secundárias, a Universidade e também o Conservatório. Aliás, seria interessante fazer-se uma análise sobre a elevada percentagem de jovens canelenses que nos últimos anos tem realizado estudos musicais no Conservatório de Aveiro... Em Canelas há uma actividade cultural bastante intensa e dependente da utilização do comboio, que é um meio de ligação absolutamente indispensável para garantir a comunicação com os principais centros de cultura da nossa região. Ou seja, nesta freguesia o problema da localização do apeadeiro não é apenas uma mera questão de transportes: é também um enorme problema social e cultural, pois estas vertentes do desenvolvimento local são fortemente dinamizadas e dependentes da existência do comboio. Também em Salreu o actual apeadeiro é uma referência para toda a freguesia, principalmente devido à sua localização central e prática.
A localização proposta pela REFER para o novo apeadeiro é completamente disparatada e inaceitável, pois não serve a rigorosamente ninguém, para além da empresa que o construir. Aliás, quando se invocam razões financeiras para o absurdo projecto que parece estar em curso, é importante que deixemos bem claro que as populações de Fermelã, Canelas e Salreu não têm nada que pagar pela incompetência financeira que pelos vistos existe na REFER ou de qualquer outra instituição. Se há responsáveis por uma má gestão, eles devem ser punidos. Os únicos que não têm culpa de nada são os habitantes destas freguesias. Para além disso, é muito pouco credível que a construção de raiz de um novo apeadeiro seja economicamente mais compensadora que a utilização dos já existentes, especialmente se pensarmos que por exemplo o apeadeiro de Canelas até foi remodelado há poucos anos.
Esta inaceitável postura da REFER infelizmente não se fica pela absurda e remota intenção de construir um apeadeiro onde bem lhe apetece, sem antes consultar ninguém: é que associada a esta conduta está subjacente uma arrogância de quem se sente autorizado para deliberar autonomamente sobre o modo como as freguesias por onde passam as linhas de caminho de ferro se devem desenvolver. Que fique bem claro: esta é uma questão exclusivamente política, em que a REFER não deve ter voto na matéria. São as populações, em conjunto com a Câmara, as Juntas de Freguesia e a Assembleia Municipal quem deve debater este tipo de questões, pois apenas estas instituições estão mandatadas para o efeito. Os cidadãos de Estarreja não votaram na REFER para governar o nosso concelho, mas sim no PSD, no PP, no PS ou na CDU. É aos eleitos locais que cabe intervir nesta matéria, pois é neste momento que a população mais precisa deles. Aproveito esta ocasião para elogiar publicamente a forma corajosa como o Sr. António Simões Pinto, Presidente da Junta de Canelas, foi capaz de intervir na última Assembleia Municipal. Para defender a sua freguesia, o Sr. Simões Pinto não hesitou e expressou claramente o seu descontentamento com toda esta situação, mesmo que para isso tivesse que falar contra o Presidente da Câmara, que até é do seu partido. Aliás, é importante que se clarifique devidamente qual é o papel que a CME tem neste processo, pois esta vai ser uma questão essencial para se definir qual a melhor forma de boicotar as intenções da REFER.
Para além da questão dos apeadeiros de Salreu e Canelas, têm vindo na comunicação social referências a uma eventual desqualificação da Estação de Estarreja, que passaria a ter um estatuto de menor importância relativamente ao actual. Ora, ou estamos perante uma inaceitável manobra de pressão da REFER para conseguir levar por diante as suas intenções em Salreu e Canelas, ou então a falta de respeito por Estarreja é completa e uma intenção destas é uma autêntica declaração de guerra ao nosso concelho.
Não podemos ficar parados perante todas estas atitudes e ameaças, nem devemos tolerar o baile que os engenheiros da REFER parecem andar a querer dar aos responsáveis autárquicos de Estarreja. A REFER não pode fazer o que quer. A luta vai ser dura, mas temos que estar preparados para ela. Devemos accionar todos os mecanismos ao nosso alcance, das acções jurídicas aos levantamentos populares. Não temos que ceder em rigorosamente nada nesta matéria, pois estamos apenas a lutar pelos nossos direitos.
Já agora, aqui fica uma das minhas últimas crónicas na Rádio Voz da Ria, emitida no dia 3 de Julho de 2003. Numa fase em que se começa a falar de "diálogo" com a REFER, este protesto já quase com 3 meses não deixa de continuar a ter sentido.
O Atentado
O concelho de Estarreja está a atravessar um dos períodos mais conturbados dos últimos meses. De facto, a par das indefinições em relação ao Parque Industrial e à construção do IC1, este tem sido o tempo do nosso concelho sofrer os mais cerrados ataques por parte de algumas empresas públicas, cujo comportamento arrogante e sobretudo ignorante tem sido por demais evidente. Estou a falar, obviamente, da EDP e da REFER. Em relação à EDP a situação parece estar em vias de resolução, com aquela empresa a assumir claramente a necessidade de investir fortemente para colmatar o mau serviço que durante tantos anos tem prestado no concelho de Estarreja, pelo que a situação de conflitualidade entre aquela instituição e os órgãos autárquicos e empresas do nosso concelho parece estar em vias de resolução.
Já no que diz respeito à REFER, a empresa responsável pela manutenção e construção das estruturas associadas aos caminhos de ferro, a situação é bem diferente e muito mais preocupante. De facto, a anunciada intenção da REFER de encerrar os actuais apeadeiros de Canelas e Salreu, para os substituir por um novo apeadeiro, a construir em terra de ninguém, algures no meio do esteiro entre aquelas duas freguesias, é extremamente grave e deve ser combatida com toda a firmeza e inflexibilidade. Só uma profunda ignorância em relação à realidade do concelho de Estarreja é que permitiu que uma proposta tão disparatada fosse sequer apresentada.
Por exemplo, o apeadeiro de Canelas, que também serve a população de Fermelã, é frequentado diariamente por dezenas de pessoas, sobretudo estudantes, que o utilizam para se poderem deslocar principalmente para Estarreja e para Aveiro, para assim poderem frequentar as Escolas Secundárias, a Universidade e também o Conservatório. Aliás, seria interessante fazer-se uma análise sobre a elevada percentagem de jovens canelenses que nos últimos anos tem realizado estudos musicais no Conservatório de Aveiro... Em Canelas há uma actividade cultural bastante intensa e dependente da utilização do comboio, que é um meio de ligação absolutamente indispensável para garantir a comunicação com os principais centros de cultura da nossa região. Ou seja, nesta freguesia o problema da localização do apeadeiro não é apenas uma mera questão de transportes: é também um enorme problema social e cultural, pois estas vertentes do desenvolvimento local são fortemente dinamizadas e dependentes da existência do comboio. Também em Salreu o actual apeadeiro é uma referência para toda a freguesia, principalmente devido à sua localização central e prática.
A localização proposta pela REFER para o novo apeadeiro é completamente disparatada e inaceitável, pois não serve a rigorosamente ninguém, para além da empresa que o construir. Aliás, quando se invocam razões financeiras para o absurdo projecto que parece estar em curso, é importante que deixemos bem claro que as populações de Fermelã, Canelas e Salreu não têm nada que pagar pela incompetência financeira que pelos vistos existe na REFER ou de qualquer outra instituição. Se há responsáveis por uma má gestão, eles devem ser punidos. Os únicos que não têm culpa de nada são os habitantes destas freguesias. Para além disso, é muito pouco credível que a construção de raiz de um novo apeadeiro seja economicamente mais compensadora que a utilização dos já existentes, especialmente se pensarmos que por exemplo o apeadeiro de Canelas até foi remodelado há poucos anos.
Esta inaceitável postura da REFER infelizmente não se fica pela absurda e remota intenção de construir um apeadeiro onde bem lhe apetece, sem antes consultar ninguém: é que associada a esta conduta está subjacente uma arrogância de quem se sente autorizado para deliberar autonomamente sobre o modo como as freguesias por onde passam as linhas de caminho de ferro se devem desenvolver. Que fique bem claro: esta é uma questão exclusivamente política, em que a REFER não deve ter voto na matéria. São as populações, em conjunto com a Câmara, as Juntas de Freguesia e a Assembleia Municipal quem deve debater este tipo de questões, pois apenas estas instituições estão mandatadas para o efeito. Os cidadãos de Estarreja não votaram na REFER para governar o nosso concelho, mas sim no PSD, no PP, no PS ou na CDU. É aos eleitos locais que cabe intervir nesta matéria, pois é neste momento que a população mais precisa deles. Aproveito esta ocasião para elogiar publicamente a forma corajosa como o Sr. António Simões Pinto, Presidente da Junta de Canelas, foi capaz de intervir na última Assembleia Municipal. Para defender a sua freguesia, o Sr. Simões Pinto não hesitou e expressou claramente o seu descontentamento com toda esta situação, mesmo que para isso tivesse que falar contra o Presidente da Câmara, que até é do seu partido. Aliás, é importante que se clarifique devidamente qual é o papel que a CME tem neste processo, pois esta vai ser uma questão essencial para se definir qual a melhor forma de boicotar as intenções da REFER.
Para além da questão dos apeadeiros de Salreu e Canelas, têm vindo na comunicação social referências a uma eventual desqualificação da Estação de Estarreja, que passaria a ter um estatuto de menor importância relativamente ao actual. Ora, ou estamos perante uma inaceitável manobra de pressão da REFER para conseguir levar por diante as suas intenções em Salreu e Canelas, ou então a falta de respeito por Estarreja é completa e uma intenção destas é uma autêntica declaração de guerra ao nosso concelho.
Não podemos ficar parados perante todas estas atitudes e ameaças, nem devemos tolerar o baile que os engenheiros da REFER parecem andar a querer dar aos responsáveis autárquicos de Estarreja. A REFER não pode fazer o que quer. A luta vai ser dura, mas temos que estar preparados para ela. Devemos accionar todos os mecanismos ao nosso alcance, das acções jurídicas aos levantamentos populares. Não temos que ceder em rigorosamente nada nesta matéria, pois estamos apenas a lutar pelos nossos direitos.
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