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domingo, setembro 14, 2003

As Bateiras
Por Vladimiro Jorge Silva
(texto da crónica homónima lida nas "Crónicas da Rádio" da Rádio Voz da Ria, no dia 12 de Junho de 2003)

A mais emblemática medida do actual executivo municipal, liderado pelo Dr. José Eduardo de Matos, foi inegavelmente a mudança de imagem da Câmara Municipal de Estarreja. De facto, todos fomos inundados nos últimos tempos por cartazes, folhetos de propaganda, envelopes, publicidade nos jornais e pelo correio e até rotundas em que se podem ver duas ou três bateiras, sempre enquadradas por sete mourões, que simbolicamente representam as sete freguesias do concelho de Estarreja. Esta enorme acção propagandística poderia ser algo de bastante benéfico para o nosso município, que infelizmente tem a sua imagem quase irremediavelmente associada à da poluição. De facto, relacionar Estarreja com a ria é uma forma de dar uma perspectiva mais arejada do nosso concelho, promovendo até a vertente ecológica das nossas terras. Poder-se-á mesmo dizer que uma medida deste género não só era necessária, como até era urgente. No entanto, o que se fez é ainda insuficiente e, se não se actuar rapidamente, poderá até ser contraproducente e bastante prejudicial. De facto, de que vale investir na publicidade ao meio ambiente de Estarreja, se depois não há qualquer empenho no desenvolvimento desse mesmo aspecto? De que vale anunciar ao mundo que Estarreja contacta com uma parte da ria de Aveiro, se depois ninguém liga nada à ria e não existem sequer espaços de lazer condignos virados para a ria? De que vale ter rotundas com bateiras, se depois o concelho está de costas voltadas para a ria? Feita deste modo, a promoção do concelho de Estarreja é absolutamente estéril e irrelevante. Promover algo desta maneira é um autêntico tiro de pólvora seca, que não traz qualquer vantagem para o município e que pode inclusive ter consequências nefastas.
É que, com esta política promocional perfeitamente desligada do melhoramento efectivo das infra-estruturas publicitadas, só será possível acontecer uma de duas situações: ou as pessoas deixam pura e simplesmente de ligar ao que a Câmara diz, já que se trata apenas de pura publicidade desfasada da realidade, ou então Estarreja passa a ser visto como um concelho altamente limitado, pois se a ria é o que de melhor temos para oferecer e o seu aproveitamento está no estado que todos nós sabemos, então nem sequer vale a pena imaginar como será o resto...
Na minha opinião, há que mudar as mentalidades. Apostar na promoção ambiental de Estarreja é claramente uma boa ideia. A ria como meio promocional do concelho é outra boa ideia. Mas para que estas boas ideias se concretizem em algo mais, há que fazer primeiro o trabalho mais duro e com menos visibilidade, isto é, desenvolver correctamente a parte do nosso concelho que envolve a ria, quer em termos de acessos, quer em infra-estruturas de apoio. Só depois de asseguradas estas condições é que se pode fazer este tipo de publicidade. Senão, estaremos perante manobras cuja única finalidade é dar nas vistas e desviar as atenções dos estarrejenses para a falta de acções que efectivamente façam progredir o concelho.
No entanto, ainda ligado a este tema, há mais um aspecto que me parece importante referir. É que Estarreja é um concelho cujo desenvolvimento depende essencialmente da indústria. Por muita boa vontade que se tenha em promover a vertente turística, a verdade é que temos que ser conscientes: se vamos estar à espera da beleza da ria de Aveiro para atrair visitantes ao nosso concelho, então mais vale esperarmos sentados, não só porque existem outros concelhos com melhores condições naturais para este tipo de exploração, mas também porque os resultados económicos de um investimento desse género seriam certamente muitíssimo escassos. Embora seja importante valorizar o que de bom temos nesta área, como por exemplo a Casa-Museu Egas Moniz ou eventualmente a ria, todos sabemos que a solução para o progresso de Estarreja passa pelo desenvolvimento industrial. Aliás, o próprio poder autárquico sabe-o e reafirma-o quando aposta de uma forma inequívoca na construção de um Parque Industrial para Estarreja.
Quer o PS quando esteve na Câmara, quer agora o PSD e o CDS, embora com ambições mais modestas, apostaram claramente na construção do Parque Industrial de Estarreja, pelo que parece-me legítimo falar-se de um autêntico pacto de regime em torno desta questão. Por isso, a pergunta que eu deixo é esta: não seria mais lógico valorizar-se também a parte da modernização de Estarreja, que deveria surgir como um concelho na linha da frente ao nível do desenvolvimento industrial, tecnológico e ambiental? Não seria mais correcto e até produtivo salientar as capacidades e condições únicas do nosso concelho para a instalação de empresas modernas e inovadoras?
Num contexto destes, a aposta na imagem de Estarreja virada para a ria faria ainda mais sentido, pois o nosso município seria visto como um local onde a modernidade e desenvolvimento industrial e tecnológico podem conviver com condições ambientais únicas no país, de um modo civilizado e racional, em que ambas as vertentes seriam perfeitamente respeitadas.
No entanto, se não investirmos principalmente na imagem de modernidade, então as bateiras da rotunda e do novo símbolo do município serão apenas símbolo de um ruralismo saudosista, criado para intoxicar a opinião pública concelhia e desviar as atenções de tudo aquilo que realmente não se faz. É urgente evitar a monocultura da ria, pois daí certamente

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