quarta-feira, dezembro 03, 2003
Com a devida vénia, aqui reproduzo o conteúdo do discurso do Sr. D. Duarte nas comemorações do 1º de Dezembro no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. As boas ideias e a qualidade dos discursos podem surgir em qualquer contexto, republicano ou monárquico, em reuniões partidárias ou em associações de pessoas que desinteressadamente procuram defender aquilo que consideram o melhor para o nosso país. Neste momento de progressiva perda da soberania nacional, às vezes apetece parar um bocadinho para pensar, não acham?
Mensagem do 1º de Dezembro
Neste mosteiro de Santa Cruz, em boa hora elevado a Panteão Nacional, é para mim uma responsabilidade e uma honra falar junto ao túmulo do Rei Fundador da Nacionalidade e da casa Real que represento.
Deste modo venho também prestar uma homenagem à Capital da Cultura, esta tão bela a histórica cidade de Coimbra, verdadeira "alma mater" do saber nacional ao longo de tantos séculos.
Aqui e agora é de justiça lembrar quantos, seguindo o exemplo de Dom Afonso Henriques, durante nove séculos, sacrificaram as suas vidas pela nossa liberdade e pela independência da nossa Pátria.
Entre eles distinguem-se a figura notável de D. Nuno Álvares Pereira, cuja causa de canonização aberta em 1641 foi felizmente retomada este ano pelo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa.
Os ideais a que o Santo Condestável dedicou a sua vida são um oportuno exemplo para a nossa época.
Olhando para o panorama político que nos cerca, avulta neste momento a questão da nossa adesão à chamada Constituição Europeia que, a meu ver, não pode nem deve ser um "cheque em branco" passado aos "eurocratas"!
A verdade é que o texto que nos é proposto não traduz nem a natureza nem os limites da soberania que restará aos estados membros, que correm sérios riscos de dissolução.
A Europa é um mosaico de Nações com culturas, histórias e identidades nacionais próprias, e a edificação da sua unidade não poderá fazer-se tentando apagar ou diluir esta realidade que constitui uma das maiores riquezas, se quer ser, como se afirma, um processo de enriquecimento europeu.
Se é certo que é urgente acelerar e tornar mais eficaz o processo de decisão é fundamental ter presente que a autêntica unidade não se poderá fazer por processos e medidas administrativas que ponham em causa estas realidades.
Este projecto deve ser mais conhecido e precisa de ser mais debatido pelos portugueses, para sobre ele se viram a pronunciar com conhecimento de causa e sentido de responsabilidade.
Portugal, embora sendo uma pequena parte desta grande Europa, deu importantes contributos ao longo da História para a sua projecção mundial, e muito tem ainda a dar no futuro.
Não se pode entender o que é a Europa sem o contributo do Cristianismo e sem a afirmação do valor da pessoa humana e dos seus direitos e deveres que informam o humanismo, traço essencial da nossa cultura comum.
Independentemente das nossas convicções religiosas, não podemos deixar de secundar os insistentes apelos de Sua Santidade o Papa João Paulo II para o reconhecimento da matriz cristã da cultura europeia no Tratado Constitucional Europeu.
Por outro lado ao exigirmos que seja respeitada a nossa identidade nacional, obrigamo-nos a ser-mos os primeiros a preservá-la e a cultivá-la, desde o património arquitectónico tão negligentemente abandonado até às nossas paisagens e ambiente naturais ou construídos pelas gerações que nos precedem.
Assume particular gravidade a desordem do nosso ordenamento territorial e o abandono a que vai sendo votado o mundo rural.
Além do mais estes valores são determinantes para o nosso desenvolvimento equilibrado, em particular para o turismo que tem servido para compensar uma economia prejudicada por deficientes níveis de formação profissional e baixo desenvolvimento tecnológico.
Para o fortalecimento da nossa própria identidade é indispensável o aprofundamento das relações com os países e povos de língua portuguesa, desde o Brasil a Timor, não esquecendo os que atravessam graves crises económicas.
Este relacionamento fraternal será uma das nossas grandes contribuições para o futuro da Europa ...
Portugal, é opinião corrente, está a atravessar momentos de crise grave.
Os indicadores económicos revelam que nos distanciámos dos demais países da Europa Ocidental, em vez de nos aproximarmos.
Os escândalos que abalam a confiança nas nossas instituições públicas e nos seus representantes e os calamitosos incêndios que devastaram vastas áreas e vitimaram pessoas revelaram deficiências na nossa capacidade de prevenir e enfrentar semelhantes flagelos.
O denodado esforço de tantos voluntários não foi suficiente para suprir as deficiências de organização e de meios, indispensáveis para enfrentar catástrofes como esta, em grande parte, devidas ao modelo errado seguido no desenvolvimento do território.
Um vento de descrença e de desânimo parece varrer a nossa vida colectiva, agudizada pela tradicional propensão para a maledicência e para o auto-flagelamento ...
Os portugueses precisam de confiar em si próprios e nas suas capacidades de realização e de afirmação. Os portugueses de hoje não são diferentes dos de sempre. Basta ver o sucesso que os nossos emigrantes conseguem no estrangeiro para perceber a origem do problema.
A crise que atravessamos é sobretudo uma crise moral e de moral, e também uma crise de valores e auto-estima.
Está implantado um sistema que promove a facilidade em vez do esforço, da abdicação em vez do empenho.
Uma sociedade que considera os reformados como um peso na economia em vez de os honrar com a gratidão pelo trabalho prestado ao longo de uma vida inteira é uma sociedade doente.
Neste Primeiro de Dezembro em que comemoramos a restauração de Portugal ocorrida em tempos de decadência e desalento, saibamos reconduzir o país sem medos nem complexos ao estatuto da sua dignidade e ao caminho do progresso que merece e que devemos ao futuro!
É caso para dizer... Viva o Rei!
Mensagem do 1º de Dezembro
Neste mosteiro de Santa Cruz, em boa hora elevado a Panteão Nacional, é para mim uma responsabilidade e uma honra falar junto ao túmulo do Rei Fundador da Nacionalidade e da casa Real que represento.
Deste modo venho também prestar uma homenagem à Capital da Cultura, esta tão bela a histórica cidade de Coimbra, verdadeira "alma mater" do saber nacional ao longo de tantos séculos.
Aqui e agora é de justiça lembrar quantos, seguindo o exemplo de Dom Afonso Henriques, durante nove séculos, sacrificaram as suas vidas pela nossa liberdade e pela independência da nossa Pátria.
Entre eles distinguem-se a figura notável de D. Nuno Álvares Pereira, cuja causa de canonização aberta em 1641 foi felizmente retomada este ano pelo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa.
Os ideais a que o Santo Condestável dedicou a sua vida são um oportuno exemplo para a nossa época.
Olhando para o panorama político que nos cerca, avulta neste momento a questão da nossa adesão à chamada Constituição Europeia que, a meu ver, não pode nem deve ser um "cheque em branco" passado aos "eurocratas"!
A verdade é que o texto que nos é proposto não traduz nem a natureza nem os limites da soberania que restará aos estados membros, que correm sérios riscos de dissolução.
A Europa é um mosaico de Nações com culturas, histórias e identidades nacionais próprias, e a edificação da sua unidade não poderá fazer-se tentando apagar ou diluir esta realidade que constitui uma das maiores riquezas, se quer ser, como se afirma, um processo de enriquecimento europeu.
Se é certo que é urgente acelerar e tornar mais eficaz o processo de decisão é fundamental ter presente que a autêntica unidade não se poderá fazer por processos e medidas administrativas que ponham em causa estas realidades.
Este projecto deve ser mais conhecido e precisa de ser mais debatido pelos portugueses, para sobre ele se viram a pronunciar com conhecimento de causa e sentido de responsabilidade.
Portugal, embora sendo uma pequena parte desta grande Europa, deu importantes contributos ao longo da História para a sua projecção mundial, e muito tem ainda a dar no futuro.
Não se pode entender o que é a Europa sem o contributo do Cristianismo e sem a afirmação do valor da pessoa humana e dos seus direitos e deveres que informam o humanismo, traço essencial da nossa cultura comum.
Independentemente das nossas convicções religiosas, não podemos deixar de secundar os insistentes apelos de Sua Santidade o Papa João Paulo II para o reconhecimento da matriz cristã da cultura europeia no Tratado Constitucional Europeu.
Por outro lado ao exigirmos que seja respeitada a nossa identidade nacional, obrigamo-nos a ser-mos os primeiros a preservá-la e a cultivá-la, desde o património arquitectónico tão negligentemente abandonado até às nossas paisagens e ambiente naturais ou construídos pelas gerações que nos precedem.
Assume particular gravidade a desordem do nosso ordenamento territorial e o abandono a que vai sendo votado o mundo rural.
Além do mais estes valores são determinantes para o nosso desenvolvimento equilibrado, em particular para o turismo que tem servido para compensar uma economia prejudicada por deficientes níveis de formação profissional e baixo desenvolvimento tecnológico.
Para o fortalecimento da nossa própria identidade é indispensável o aprofundamento das relações com os países e povos de língua portuguesa, desde o Brasil a Timor, não esquecendo os que atravessam graves crises económicas.
Este relacionamento fraternal será uma das nossas grandes contribuições para o futuro da Europa ...
Portugal, é opinião corrente, está a atravessar momentos de crise grave.
Os indicadores económicos revelam que nos distanciámos dos demais países da Europa Ocidental, em vez de nos aproximarmos.
Os escândalos que abalam a confiança nas nossas instituições públicas e nos seus representantes e os calamitosos incêndios que devastaram vastas áreas e vitimaram pessoas revelaram deficiências na nossa capacidade de prevenir e enfrentar semelhantes flagelos.
O denodado esforço de tantos voluntários não foi suficiente para suprir as deficiências de organização e de meios, indispensáveis para enfrentar catástrofes como esta, em grande parte, devidas ao modelo errado seguido no desenvolvimento do território.
Um vento de descrença e de desânimo parece varrer a nossa vida colectiva, agudizada pela tradicional propensão para a maledicência e para o auto-flagelamento ...
Os portugueses precisam de confiar em si próprios e nas suas capacidades de realização e de afirmação. Os portugueses de hoje não são diferentes dos de sempre. Basta ver o sucesso que os nossos emigrantes conseguem no estrangeiro para perceber a origem do problema.
A crise que atravessamos é sobretudo uma crise moral e de moral, e também uma crise de valores e auto-estima.
Está implantado um sistema que promove a facilidade em vez do esforço, da abdicação em vez do empenho.
Uma sociedade que considera os reformados como um peso na economia em vez de os honrar com a gratidão pelo trabalho prestado ao longo de uma vida inteira é uma sociedade doente.
Neste Primeiro de Dezembro em que comemoramos a restauração de Portugal ocorrida em tempos de decadência e desalento, saibamos reconduzir o país sem medos nem complexos ao estatuto da sua dignidade e ao caminho do progresso que merece e que devemos ao futuro!
É caso para dizer... Viva o Rei!
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