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sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Andava há quase uma semana para escrever isto, mas ainda não tinha tido tempo: eu sou muito provavelmente um dos portugueses que há mais tempo odeia José Mourinho. Desde os tempos em que ele era tradutor de Bobby Robson no FCP que eu tenho esta fixação. Foi, pode dizer-se, um daqueles casos raros de ódio à primeira vista. Tudo começou quando, era Mr. Robson o treinador do meu Sporting e eu li, algures no recanto de um jornal desportivo qualquer, uma referência ao jovem licenciado em Educação Física que fazia de tradutor do técnico inglês. "Então este gajo andou 5 anos a tirar um curso e depois vai servir de tradutor de inglês?!", pensei eu ao ler o tal artigo de jornal (nesse tempo dizia-se que os professores de Educação Física eram dos poucos que ainda conseguiam arranjar empregos facilmente)... e a partir daí fiquei atento. Confesso que achei estranho o facto de Robson chamar Mourinho para o Porto, depois de Sousa Cintra o ter injustamente despedido ("então no Porto não havia quem soubesse falar inglês? Estes estrangeiros que para aqui vêm têm cada mania..."), mas não liguei muito ao facto. O clique que me fez despoletar a minha antipatia aconteceu alguns meses mais tarde, quando pela primeira vez ouvi (já não sei onde) Mourinho falar de qualquer coisa (já não me lembro o quê). O facto do FCP nessa altura ter passado por uma fase (mais uma...) em que ganhava quase tudo (e o Sporting nada...) fez-me considerar aquilo um acto de arrogância ("estes gajos acham-se tão bons que até põem o tradutor a fazer declarações"). O caso começou a ganhar contornos preocupantes pouco depois: quando soube que Mourinho também ia com Robson para o Barcelona e com um ordenado de 6000 contos por mês, passei a dispôr de fundamentação prática para uma raiva que até então era relativamente irracional... ("mas como é que ele conseguiu espetar este golpe ao Barcelona?"). Quando Robson saiu de Barcelona foi sem surpresa que ouvi dizer que Mourinho ficava ("a indemnização deve ser demasiado cara - fica mais barato pagar-lhe o ordenado") e foi com um sorriso nos lábios que li poucos meses depois uma reportagem sobre o papel de Mourinho no clube ("sou uma espécie de psicólogo, que trabalha essencialmente na parte mental dos jogadores", disse ele - "bela treta", pensei eu).
Quando o contrato com o barça chegou ao fim, li outra entrevista ("tenho tido convites de vários clubes da 1ª divisão, mas tenho que escolher com calma, pois não me quero envolver com qualquer um") que por um lado me divertiu ("está bem abelha: acredito mesmo!") e por outro me deixou curioso ("ele parecia com demasiada confiança..."). Alguns meses depois, Vale e Azevedo surpreendia tudo e todos e contratava Mourinho ("Porquê? Será que ele está doido?"). Foi com uma irritação enorme que vi o Sporting perder (em Dezembro de 2000) 3-0 com o Benfica de Mourinho... e foi com espanto que observei o oportunismo com que Mourinho abandonou o autêntico cemitério de treinadores em que este clube se tornou ("como é que este gajo tem a coragem de saltar fora desta maneira?").
Foi nesse dia que percebi que Mourinho era, acima de tudo, um mestre de gestão de imagem. Tenho que reconhecer que, desde o início da sua carreira e até ao passado sábado (antes da conferência de imprensa...), Mourinho não cometeu um único erro e conseguiu conquistar um estado de graça na imprensa portuguesa como nunca antes tinha acontecido. Aliás, recordo uma frase de Manuel Cajuda a este propósito: "qualquer pessoa que já tenha falado ao telefone com José Mourinho pode ser considerada um grande treinador de futebol".
A passagem de Mourinho pelo União de Leiria foi um claríssimo exemplo disso mesmo: fortemente patrocinada pelo grupo Media Capital, a equipa de Leiria despediu Manuel José (que tinha feito a melhor sequência de resultados da história do clube) fez meio campeonato de bom nível (embora pior que nos tempos de Manuel José...) e foi considerada a equipa-sensação da época! E Mourinho foi contratado pelo FCP... e o resto da história todos nos lembramos: o clube ganhou tudo o que havia para ganhar e eu quase que baixei os braços nesta minha cruzada anti-Mourinho, pois as evidências eram demasiado fortes - o que é que se poderia pedir mais a um treinador?
Andava eu rendido à (para mim) desagradável realidade de me ter enganado quando esta semana renasceu a esperança: finalmente um deslize! Uma argumentação absurda sobre uma reposição ilegal de bola utilizada como pretexto para se ir embora! Ou seja, o trio campeonato-taça de Portugal-taça UEFA era para Mourinho o equivalente FCP aos 3-0 do Benfica ao Sporting e ele quer é dar à sola antes que as coisas comecem a dar para o torto... e, melhor que tudo, toda a gente percebeu! Até os adeptos do FCP e Pinto da Costa!
Afinal, ainda há esperança para os meus maus fígados!!!

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