quarta-feira, agosto 18, 2004
Estive nos últimos 5 dias em Berlim. Não levei telemóvel e passei um magnífico fim de semana prolongado entre enormes passeios pela cidade, visitas a museus, cervejas em esplanadas solarengas e sessões de leitura que me permitiram pôr alguns dos sempre adiados livros que se amontoam na minha mesinha de cabeceira em dia. Ou seja, estive 5 dias praticamente sem pensar em Portugal ou nos problemas do dia-a-dia. Fantástico. Recomendo a todos que o puderem fazer, até porque Berlim é uma cidade em que as coisas são apenas ligeiramente mais caras que em Lisboa ou no Porto. Só tem um senão: muito poucos alemães conseguem comunicar noutra língua que não a sua...
Esta pequena introdução, para além de ter servido para eu me armar em viajado, foi aqui colocada com o objectivo de contextualizar o cerne deste post, que é a continuação da análise do "Caso das Cassetes Roubadas":
Na sexta-feira 13 de Agosto fiz algo que raramente faço: comprei "O Independente". Embora o jornal actualmente mais não seja que uma pequena e esbatida sombra gráfica dos tempos em que Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso destruiam o mundo a partir das suas colunas, a verdade é que esta semana havia algo de bastante atractivo - obviamente, a publicação do conteúdo das famosas cassetes piratas, para satisfação da coscuvilhice popular. Comecei logo por desconfiar do embrulho: a directora d'O Independente, Inês Serra Lopes, é filha do principal advogado de Carlos Cruz e já, por mais que uma vez, utilizou o seu jornal como arma na batalha judicial travada pela defesa de Cruz. Ou seja, não era de esperar uma análise isenta ao conteúdo das cassetes. Infelizmente, as minhas maiores preocupações confirmaram-se: apenas são reveladas conversas de Adelino Salvado e Sara Pina (nem sequer se percebe se na íntegra ou parcialmente...) e apenas é feita uma pequena alusão à existência de outras conversas eventualmente interessantes. A reportagem publicada pelo Independente este longe de ser isenta - embora o conteúdo do material publicado seja de facto chocante, a verdade é que fiquei com a sensação de que existiam ali quatro objectivos fundamentais e facilmente perceptíveis:
- Queimar Adelino Salvado;
- Queimar Souto Moura;
- Chamuscar ainda mais Ferro Rodrigues;
- Centrar o caso Casa Pia na sua dimensão política e afastar Carlos Cruz do epicentro da discussão - apenas é feita uma pequena alusão ao apresentador, ao contrário do que acontece em relação a arguidos como por exemplo Herman José ou Hugo Marçal.
... e o resto do jornal tinha o nível habitual, pelo que 10 minutos depois de iniciada a sua leitura, dei por terminada a mesma e cheguei a Berlim com a sensação de que o nosso país está cada vez mais na mesma, embora com uma certa curiosidade para ver o que aconteceria a seguir, isto é, quantas horas aguentaria Souto Moura no cargo.
Fiquei, naturalmente, chocado quando soube a desfaçatez com que o PGR alijou as culpas e se manteve agarrado ao cargo. Fiquei petrificado quando soube que o Presidente da República, o governo e a principal oposição se estiveram nas tintas para esta matéria. A posição de Sampaio e do PS é particularmente surpreendente, pois Ferro Rodrigues é quem mais acaba por sofrer com a publicação destas cassetes (o PGR deveria ser o garante do segredo de justiça...).
Enfim, regressar a Portugal e ver que está tudo cada vez mais na mesma faz parte da essência de ser português, mas às vezes preferia que não fizesse!
Esta pequena introdução, para além de ter servido para eu me armar em viajado, foi aqui colocada com o objectivo de contextualizar o cerne deste post, que é a continuação da análise do "Caso das Cassetes Roubadas":
Na sexta-feira 13 de Agosto fiz algo que raramente faço: comprei "O Independente". Embora o jornal actualmente mais não seja que uma pequena e esbatida sombra gráfica dos tempos em que Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso destruiam o mundo a partir das suas colunas, a verdade é que esta semana havia algo de bastante atractivo - obviamente, a publicação do conteúdo das famosas cassetes piratas, para satisfação da coscuvilhice popular. Comecei logo por desconfiar do embrulho: a directora d'O Independente, Inês Serra Lopes, é filha do principal advogado de Carlos Cruz e já, por mais que uma vez, utilizou o seu jornal como arma na batalha judicial travada pela defesa de Cruz. Ou seja, não era de esperar uma análise isenta ao conteúdo das cassetes. Infelizmente, as minhas maiores preocupações confirmaram-se: apenas são reveladas conversas de Adelino Salvado e Sara Pina (nem sequer se percebe se na íntegra ou parcialmente...) e apenas é feita uma pequena alusão à existência de outras conversas eventualmente interessantes. A reportagem publicada pelo Independente este longe de ser isenta - embora o conteúdo do material publicado seja de facto chocante, a verdade é que fiquei com a sensação de que existiam ali quatro objectivos fundamentais e facilmente perceptíveis:
- Queimar Adelino Salvado;
- Queimar Souto Moura;
- Chamuscar ainda mais Ferro Rodrigues;
- Centrar o caso Casa Pia na sua dimensão política e afastar Carlos Cruz do epicentro da discussão - apenas é feita uma pequena alusão ao apresentador, ao contrário do que acontece em relação a arguidos como por exemplo Herman José ou Hugo Marçal.
... e o resto do jornal tinha o nível habitual, pelo que 10 minutos depois de iniciada a sua leitura, dei por terminada a mesma e cheguei a Berlim com a sensação de que o nosso país está cada vez mais na mesma, embora com uma certa curiosidade para ver o que aconteceria a seguir, isto é, quantas horas aguentaria Souto Moura no cargo.
Fiquei, naturalmente, chocado quando soube a desfaçatez com que o PGR alijou as culpas e se manteve agarrado ao cargo. Fiquei petrificado quando soube que o Presidente da República, o governo e a principal oposição se estiveram nas tintas para esta matéria. A posição de Sampaio e do PS é particularmente surpreendente, pois Ferro Rodrigues é quem mais acaba por sofrer com a publicação destas cassetes (o PGR deveria ser o garante do segredo de justiça...).
Enfim, regressar a Portugal e ver que está tudo cada vez mais na mesma faz parte da essência de ser português, mas às vezes preferia que não fizesse!
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