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domingo, outubro 17, 2004

Conforme prometido, aqui fica o texto da minha crónica de hoje na RVR. O programa será novamente transmitido terça-feira a partir das 18 horas (e pode ser ouvido aqui). As minhas crónicas surgirão de 5 em 5 semanas.

O Caso Carlos Tavares

Carlos Manuel Tavares da Silva, o actual presidente da Assembleia Municipal de Estarreja, é muito provavelmente o estarrejense mais notável desde Egas Moniz. De facto, quando hoje olhamos para o seu percurso de vida, mais não podemos fazer que admirá-lo e respeitá-lo profundamente. Carlos Tavares atingiu quase todos os sonhos a que pode aspirar um jovem nascido em Estarreja e tornou-se numa curiosa mistura de Arnold Schwarzenegger, António Vitorino e Luís Figo.
De facto, a extraordinária forma como o rapaz anónimo nascido na desconhecida aldeia de Salreu saltou para o mundo da alta finança, dos conselhos de administração dos principais bancos que actuam em Portugal e também para o governo da nação, em tudo faz recordar a história do culturista austríaco que hoje lidera um dos mais poderosos estados norte-americanos, depois de antes ter conquistado Hollywood. Diz-se que Schwarzenegger personifica o sonho americano e também é justo considerar que Carlos Tavares é o símbolo do sonho estarrejense.
O fantástico ordenado de futebolista que as revistas e jornais recorrentemente atribuem a Carlos Tavares, para além de ser um natural alvo da inveja de qualquer comum mortal, faz parte do imaginário colectivo. Quem não quer ser milionário? E quem não ambiciona ser tão milionário ao ponto de poder abdicar de alguns milhares de contos mensais só para poder fazer parte do governo do país? Quem não sonha ter tanto dinheiro que se possa dar ao luxo de desprezar avultadas quantias só para poder cumprir um sonho, ainda por cima tão nobre como servir a causa pública? Todos nós, uns mais acentuada e declaradamente que outros, ambicionamos um dia poder viver este tipo de escolhas. Mas todos sabemos que muito poucos o conseguirão. E Carlos Tavares foi um deles. Esse mérito já ninguém lho tira.
Todo este sucesso profissional e político trouxe a Carlos Tavares uma nova faceta: a do glamour e charme pessoal. É por isso que ele me lembra António Vitorino, um político cujos sapatos brilham de tal forma que por vezes ofuscam o próprio sol de Bruxelas. Em Estarreja, toda a gente se dirige a Carlos Tavares com exagerada deferência, do presidente da Câmara ao cidadão anónimo, todos se desfazem em sorrisos e salamaleques. Mesmo que Carlos Tavares falte a algumas dezenas de Assembleias Municipais e chegue a meio de outras tantas, tudo se lhe perdoa com um sorriso nos lábios. Porque o próprio facto dele aceitar dispensar uma pequena parte do seu valioso tempo para se preocupar connosco já é, por si só, motivo de grande agradecimento. De facto, Carlos Tavares goza, junto do poder autárquico, da imprensa e até da própria oposição, de um crédito quase ilimitado. O que quer que ele diga será sempre apreciado por pelo menos dois destes três intervenientes na política local de Estarreja.
Se por um lado todo este reconhecimento é um elementar acto de justiça e humildade de quem tem a plena consciência de estar a falar de um homem de sucesso, a verdade é que esta postura também acaba por ser uma espécie de cheque em branco intelectual. O que, tal como sucede em relação a todos os cheques em branco, é um acto arriscado. Porque errar é humano e mesmo o mais brilhante dos intelectos por vezes engana-se.
Todo este raciocínio para chegar aqui, ao erro de Carlos Tavares no caso do futuro parque eco-empresarial de Estarreja.
O PSD e o CDS locais aceitaram de braços abertos a solução de entregar a propriedade da sociedade gestora do futuro parque à API, uma empresa do sector empresarial do estado, a troco de um conjunto de facilidades burocráticas proporcionadas pelo regime das ALE, curiosamente regulamentado pelo Ministro da Economia Carlos Tavares. Ou seja, neste processo Carlos Tavares actuou dos três lados: do lado do governo, ao criar as ALE, do lado da API, pois era dele a tutela sobre esta instituição e do lado da CME, ao influenciar decisivamente o sentido da decisão do executivo camarário e dos deputados municipais da coligação. Pode mesmo dizer-se que este modelo de gestão do parque eco-empresarial de Estarreja é o modelo Carlos Tavares, pois foi por sua intervenção directa que todas as opções foram tomadas, a todos os níveis. Estava obviamente ao seu alcance a opção por uma solução em que a Câmara Municipal mantivesse a propriedade da sociedade gestora do parque. A actual decisão não foi produto de nenhum constrangimento legislativo, nem de qualquer pressão governamental, mas sim um acto deliberado, ideológico, consciente e convicto.
Ou seja, para o bem e para o mal, o pai de todas as responsabilidades pelo sucesso ou insucessos do parque eco-empresarial de Estarreja é o Dr. Carlos Manuel Tavares da Silva, o mais bem sucedido dos estarrejenses da sua geração. Que nunca nos esqueçamos disto. E sobretudo, oxalá que nunca deixemos de idolatrar o nosso Presidente da Assembleia Municipal de Estarreja, cujos êxitos nos enchem de orgulho e satisfação bairrista.

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Comments:
Gostei imenso do post do Vladimiro até porque não denota qualquer dor de Pinho.
Arrancar estacas da A29 é a sua especialidade.
Com este gesto simples e grandioso em prejuizo para os de Estarreja e para outros que como eu têm de lá passar diáriamente esse gesto é louvável.
Este artista faz como o outro que nem coisa nem sai de cima.
 
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