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quarta-feira, novembro 10, 2004

No seu comentário a este post, o meu amigo e colega Jorge Peliteiro desafiava-me a explicar essa propalada divergência entre a ruralidade e a intelectualidade. A pergunta é pertinente, sobretudo porque vem de um "Bushista". E no tal texto eu associava claramente os adeptos de Bush à ruralidade e os de Kerry à intelectualidade. Começo por fazer o necessário "mea culpa": o Peliteiro é um intelectual e se fosse americano teria votado Bush, tal como várias outras importantes personalidades (como por exemplo Pacheco Pereira). No entanto, estes exemplos não constituem uma regra, mas sim a excepção: ficou provado que o eleitor republicano típico provém da América rural e tradicionalista, é muito mais conservador que a maioria dos europeus conservadores e vive fora das grandes cidades. Por outro lado, os media, os universitários e a população dos principais centros urbanos inclinaram-se claramente para Kerry. O que quer dizer que o voto democrata varia directamente com o grau de acesso à informação, a abertura de espírito e o contacto com outras realidades (leia-se outros países e culturas). Este facto está estatisticamente provado em todos os artigos que se dedicam à análise das eleições americanas.
Portanto, caro Peliteiro, aqui ficam as definições vladimíricas de ruralismo e intelectualidade:
- Rural é aquele que vive fora de um centro urbano, quer em número de km, quer por não ter acesso a informação externa por outras vias (tv cabo, internet, etc.). Pode-se ser rural à força, por vontade própria ou por inércia. Um ruralista tem medo do que não conhece e é facilmente amedrontável. Saca logo da pistola quando lhe falam em casamentos gay e acha que só os medricas é que se preocupam com a justiça das guerras. Vai à missa todos os domingos. Não gosta de intelectuais;
- Intelectuais são aqueles que possuem várias e pormenorizadas explicações para tudo. A medida do número de teorias por assunto quadrado que um intelectual produz é semelhante à inércia com que não resolve os seus problemas. Um intelectual é sempre contra a guerra, seja esta contra quem for. Um intelectual sente-se moralmente superior a um rural. Um intelectual acha que um rural é moralista. Eu sei que há intelectuais de direita (como por exemplo o Peliteiro), mas não cabem nesta definição. Um intelectual vai todos os dias à internet. Um intelectual fuma, fala pelo menos uma língua estrangeira (o que na América já é considerado bastante) e sofre quando tem que ir ao McDonald's. Os intelectuais têm sempre uma causa, na qual se esforçam empenhadamente por acreditar. Não há intelectuais com mais de 45 anos (a partir desta idade ou ficam numa zona intermédia ou se tornam conservadores. E têm inveja dos ruralistas).

Depois deste exercício de disparate, aqui fica uma curiosa sondagem que acaba por vir bastante a propósito:



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