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terça-feira, dezembro 28, 2004

A Assembleia Municipal de ontem à noite decorreu num tom bastante pacífico e até cordial. Eu fiz esta intervenção:

Infelizmente, o inovador estilo jornalístico da informação escrita que o Sr. Presidente da Câmara de Estarreja fez chegar aos deputados municipais antes desta sessão não veio acompanhado de boas notícias ou de qualquer valor acrescentado em termos de clareza.
Estou-me a referir concretamente ao ponto 2 do referido documento, em que é relatada a visita de Pedro Santana Lopes, futuro ex-Primeiro-Ministro de Portugal, ao chamado "complexo químico de Estarreja". Por entre citações avulsas de frases inócuas dos diversos intervenientes naquele passeio governamental, não há uma única informação sobre as três verdadeiras questões que estavam naquele momento em jogo:
­ O eventual encerramento da refinaria de Leça da Palmeira e as suas catastróficas consequências para as empresas do complexo químico de Estarreja;
­ O financiamento da construção de um Parque eco-industrial em Estarreja;
­ A construção do resto do IC1, a existência ou não da outrora prometida ligação directa ao parque industrial, bem como o eventual pagamento de portagens nesta via.
É que é importante que nos recordemos de que, apesar de todo o folclore, esteve cá em Estarreja aquele que é provavelmente o maior inimigo do nosso complexo químico. De facto, não nos devemos esquecer de que Pedro Santana Lopes é o mesmo primeiro-ministro que poucos meses antes havia anunciado ao país o encerramento definitivo da refinaria de Leça. Embora esta notícia tenha mais tarde sido desmentida pelo ministro Álvaro Barreto, a verdade é que a falta de credibilidade e as flutuações de humor de Santana Lopes acabam por ser também uma faca de dois gumes, que tanto pode funcionar a nosso favor, como contra os interesses de Estarreja. Ou seja, não temos nenhuma garantia sobre em que momento é que o primeiro-ministro está a dizer a verdade ou simplesmente a fazer campanha eleitoral. Na comunicação escrita do Sr. Presidente da Câmara, apenas há um enigmático "não têm razões para temer pelo futuro", sem qualquer explicação adicional sobre a matéria, o que leva a concluir que a hipótese de encerramento não está ainda excluída.
Sobre o parque-industrial, silêncio absoluto do primeiro-ministro.
Sobre o IC1, o mesmo.
É por isto que Estarreja é hoje em dia um dos melhores locais para os governantes se passearem. Vêem cá, levam um banho de amizade e ninguém os chateia com nada: não há quem lhes peça contas pelas promessas não cumpridas, ninguém lhes apresenta projectos, ninguém os confronta com as suas declarações anteriores, mesmo que estas prejudiquem gritantemente os interesses do concelho. Estarreja tornou-se num paraíso social para governantes à beira do colapso, capaz de concorrer mesmo com as melhores clínicas de reabilitação psicológica…
É fundamental que o Sr. Presidente da Câmara nos esclareça o que é que Pedro Santana Lopes lhe disse de concreto sobre o encerramento da refinaria de Leça, o financiamento do eco-parque e o IC1. Caso contrário, estivemos todos aqui a fazer o papel das meninas que dão o beijinho ao vencedor da etapa na volta a Portugal, que no dia seguinte segue viagem e só cá volta a passar no próximo ano!
No fundo, Sr. Presidente, o que nós queremos saber é o que é que o primeiro-ministro cá veio realmente fazer. Porque não é credível que um governante tenha gasto um dia da sua certamente muito concorrida agenda para simplesmente se entreter num fútil exercício de charme e produção de frases ocas.
Até porque, por absurdo que isto possa hoje parecer, ainda existe a ínfima e desastrosa possibilidade do próximo primeiro-ministro se chamar… Pedro Santana Lopes!

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