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terça-feira, janeiro 18, 2005

O Pior de Sempre

Tal como seria de prever, Estarreja foi um dos concelhos contemplados com uma etapa daquilo a que já se chama o "Paris-Dakar" dos ministros. Amanhã é a vez de Luís Filipe Pereira, ainda Ministro da Saúde e, esse sim, um verdadeiro "case-study".
Estou sinceramente convencido que Luís Filipe Pereira vai ficar para a história como o pior ministro da saúde de sempre. O caso deste ministro é digno de análise, sobretudo pela capacidade demonstrada de produzir resultados desastrosos a partir de medidas e decisões teoricamente acertadas. Vejam-se alguns exemplos:
- A decisão mais mediática deste ministro é obviamente a da criação de 31 hospitais SA. Se por um lado a empresarialização dos hospitais, com ganhos ao nível da agilidade e modernização da gestão é uma medida teoricamente correcta, a verdade é que o modo trapalhão, precipitado e intelectualmente desonesto com que foi posta em prática veio-se a revelar absolutamente desastroso. O principal problema deste modelo de gestão surgiu logo com a constituição dos conselhos de administração dos hospitais: assistiu-se a uma mega-injecção de hordas de gestores incompetentes e sem qualquer qualificação que não a política em cargos de grande responsabilidade, com as consequências que todos conhecemos. Todos os que trabalham na área da saúde já ouviram dezenas de histórias tragicómicas relacionadas com a actividade dos diversos conselhos de administração dos hospitais SA. Uma das mais famosas é pública (e por isso posso falar dela) e passou-se no hospital de Aveiro, cuja urgência deveria ter ficado pronta para o Euro2004, mas ainda hoje funciona em contentores pelos quais se pagam cerca de 25.000 euros por mês... A gestora responsável por esta brilhante decisão foi transferida para outro hospital, que por acaso até fica bastante mais próximo da sua residência... Ainda no campo dos hospitais SA, para além das evidentes práticas de desnatação, com desvio dos doentes menos interessantes para os hospitais que continuaram no sector público administrativo, é absolutamente chocante que se tenha criado um modelo como este sem qualquer tipo de acompanhamento técnico por parte de entidades independentes (por exemplo, universidades). As informações sobre o verdadeiro desempenho destes hospitais resultam apenas dos dados manipulados incluidos na publicidade paga pelo Ministério da Saúde que de vez em quando saem nos jornais. Não são utilizados indicadores internacionalmente aceites, não são divulgados os dados que serviram de base à informação disponibilizada e é negado o acesso a todos os que quiserem fazer outra análise aos mesmos dados. Tudo é opaco e secreto nos hospitais SA. A qualidade dos serviços prestados pelas instituições em causa caiu a pique e a desmotivação é enorme entre os profissionais de saúde que trabalham em cada instituição... Com esta aventura desmiolada apenas ganharam os tais "gestores", que passaram a auferir ordenados "à Mira Amaral" e as contas do défice, pois os hospitais SA permitiram desorçamentar cerca de 600 milhões de euros anualmente, um valor que atiraria o objectivo central de toda a nossa economia para valores bem acima dos 3%... Tudo isto até teria um lado bastante engraçado se não estivéssemos a falar da saúde das pessoas. Seria interessante fazer-se um estudo sério e independente sobre as consequências deste desnorte administrativo ao nível da saúde das populações. E seria também curioso ver que tipo de responsabilidades é que os intervenientes nestas decisões estariam dispostos a assumir...
Outro dos problemas da forma como todo este processo foi gerido é o efeito da prática sobre a teoria: tal como referi anteriormente, a empresarialização dos hospitais é um excelente conceito teórico que está a ser destruído por esta absurda aplicação prática. Pior que não aplicar medidas adequadas para resolver os problemas do país é assassinar potenciais soluções. E é isto que neste momento está a ser feito.

(a análise à actuação do pior ministro da saúde de sempre continua num próximo post)

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