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quarta-feira, janeiro 19, 2005

Poucos minutos antes de ligar a internet, o meu objectivo blogosférico do dia ainda era terminar o texto sobre o pior ministro da saúde de sempre. No entanto, ao ouvir o noticiário da Antena 1 senti um daqueles arrepios na espinha que me fez vir a correr para o computador para escrever isto:

Sem Limites

Não tem limites a desfaçatez de alguns políticos. A Antena 1 noticiava esta tarde que o ainda ministro António Mexia disse que o país precisava de "um choque de gestão". A frase em si até é verdade. Mas António Mexia é provavelmente uma das pessoas com menos legitimidade para a dizer. Recordemos alguns factos:
- António Mexia tornou-se conhecido por ser o mais bem pago dos gestores públicos, no tempo em que era administrador da Galp. Os recentes acontecimentos de Leça da Palmeira (que o próprio tentou abafar...) vieram dar visibilidade a uma parte das muito graves deficiências de gestão que a petrolífera nacional parece ter: o relatório que o ministro Luís Nobre Guedes (por causa quem eu terei que dar a mão à palmatória num próximo post) divulgou não deixava dúvidas e só por uma enorme sorte é que Mexia não teve responsabilidade directa num acidente de gravidade muito superior à verificada;
- Depois de assumir o cargo no governo, Mexia foi o ministro que desperdiçou uma oportunidade única de promover a utilização dos transportes públicos. Num momento em que os preços dos combustíveis batiam records e que a DECO divulgava um estudo que demonstrava que no caso de alguns percursos nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto era mais barato e mais rápido utilizar carro próprio do que transportes públicos, Mexia não tentou aproveitar a ocasião para promover estes, baixando os preços ou criando incentivos à sua utilização, mas fez precisamente o contrário: aumentou os preços dos transportes públicos, indexando-os aos preços dos combustíveis! Ou seja, não só desperdiçou esta ocasião única como garantiu que, no improvável acaso dela se repetir, voltaria a proceder da mesma forma!!!
- António Mexia foi também o ministro que propôs a aplicação de portagens em estradas para as quais não existe qualquer alternativa (casos do IP5 e IP3, que ainda nem sequer são SCUTs...), violando de forma frontal e grosseira as regras da União Europeia e também em estradas de importância estratégica para uma região importantíssima para o país, como é o caso da Via do Infante... como poderia o Algarve concorrer com o sul de Espanha se a Via do Infante tivesse portagem? Eu já senti na pele o que é demorar mais de 3 horas de Lagos a Albufeira e digo-vos: não gostei mesmo nada!
- Já depois de estar com o seu ministério em gestão corrente, Mexia teve o desplante de vir a público anunciar uma série de medidas que não fez quando teve poder e tempo para isso e que sabe nunca vir a poder fazer, incluindo a insólita construção de um TGV mais lento!
- Por último (estes são só os casos de que me lembrei imediatamente), hoje a TSF passou o dia a anunciar os protestos da oposição pela criação de mais um instituto público (adivinhem quem foi o ministro distribuidor de lições de moral sobre gestão responsável por esta decisão...), cuja directora terá um ordenado superior a mil contos por mês, isto numa fase em que até é discutível se o governo ainda terá poderes para o fazer... porque legitimidade todos sabem que não a tem(a este propósito, uma nota: fantástico o timing de Paulo Portas ao mandar ontem uma boca sobre estas matérias - sem dúvida um dos mais brilhantes actos políticos dos últimos tempos!)!!!


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