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terça-feira, abril 19, 2005

Quando tomou posse, Sócrates anunciou duas medidas: um rebuçado populista (medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias) e uma data para o referendo à constituição europeia (no dia das autárquicas). Ora, é exactamente por isto que a constituição europeia nunca entrará em vigor: em toda a Europa e em relação a todos os referendos, os políticos do "sistema" cometeram sempre o mesmo erro - consideraram que o seu prestígio popular seria por si só suficiente para fazer aprovar o "sim" (não só no caso da constituição, mas também nos do euro e de Maastricht que existiram em alguns países) e tentaram a todo o custo esvaziar os debates e dramatizar entre o "sim" e o caos. Porque sempre que o debate é aprofundado o "não" vence. E é nisto que Sócrates aposta: depois de ver que em França uma intensa discussão parece levar à vitória dos opositores da constituição, o nosso PM está sinceramente convencido que a associação deste referendo à realização das autárquicas fará com que o povo corra atrás dos seus eleitos locais (que em 80 ou 90% dos casos serão do PS ou do PSD e portanto tendencialmente favoráveis ao "sim") e assim matam-se vários coelhos com uma cajadada só:
- Não haverá uma perigosa discussão aprofundada da questão europeia;
- A "onda de apoio" que vários dos autarcas vão criar em torno das suas candidaturas conquistará muito mais votos para o "sim" que para o "não";
- O governo será menos penalizado se o "não" ganhar;
- Uma eventual vitória do "não" será sempre disfarçada pela conquista de duas ou três câmaras emblemáticas.

No entanto, estou sinceramente convencido que esta táctica não vai resultar. Até porque o "não" ganhou os dois únicos referendos que até hoje existiram em Portugal (regionalização e aborto), para além do facto dos eleitores não gostarem que os políticos lhes imponham soluções à força (lembram-se do que é que aconteceu a um senhor que costuma aparecer nas TVs e nas festas e que um dia se tornou primeiro-ministro sem ir a eleições?).
Por tudo isto, só há uma forma da constituição europeia poder um dia ser aprovada em Portugal: a forma decente, com um debate feito de um modo sério, honesto e equilibrado. É que o "não" é um voto muito mais seguro e menos aventureiro que o "sim".

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