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sexta-feira, julho 08, 2005

O Atentado de Londres

Para além de todas as naturais considerações sobre quão miserável e cobarde foi este acto de terrorismo, há alguns factos que me parecem dignos de nota:
- O atentado falhou. Não proporcionou o show hollywoodesco de aviões a chocarem contra edifícios (como em Nova Iorque), nem grotescas imagens de sangue e destruição (como em Bali ou Madrid). Tudo se passou por baixo do solo e pouco sangue se viu. A Al-Qaeda perdeu pontos na escala do espectáculo do amedrontamento, que é o único objectivo prático de actos como este;
- Dizer que Portugal é o único país da cimeira dos Açores que ainda não teve um atentado é uma manipulação dos dados: por um lado porque os EUA tiveram o "seu" atentado antes da guerra do Iraque e por outro porque o governo de Portugal entretanto mudou, ao contrário do que aconteceu com Inglaterra e Espanha (no dia do atentado). Apesar da pouca racionalidade terrorista, não faria muito sentido atacar Portugal nesta fase;
- Pela primeira vez a Al-Qaeda fez coincidir um atentado com acontecimentos relevantes (início da cimeira do G8, anúncio das olimpíadas Londres 2012). Será este um novo padrão de actuação? Ou uma célula com iniciativa própria? Neste caso, será que a cúpula sediada no Afeganistão ainda controla a rede?
- Se o atentado foi concebido para coincidir com o anúncio das olimpíadas, será que estavam preparados também ataques para Moscovo, Paris, Nova Iorque e Madrid?

Depois há os argumentos que me irritam:
- A causa dos atentados é a guerra do Iraque - mas o 11 de Setembro foi antes da guerra e até serviu de argumento (falacioso) para a justificação desta...
- A causa dos atentados é a humilhação que o ocidente inflinge aos países árabes - então como explicar os atentados na Arábia Saudita, Turquia ou Marrocos?
- A causa dos atentados é a questão israelo-palestiniana - mas o estado de Israel foi criado em 1948 e o atentado às torres gémeas só aconteceu em 2001... para além disso, nos últimos anos a situação em Israel e na Palestina nunca esteve tão estável como agora...

Na minha opinião, estamos a assistir simplesmente a uma guerra de civilizações e a uma tentativa de implementar o califado em todo o mundo. Embora a Al-Qaeda tenha uma base social de apoio alicerçada na pobreza, não é justo dizer-se que esta existe devido a qualquer acção directa do ocidente. Os países do golfo pérsico têm quase todos petróleo e são riquíssimos. Os regimes corruptos que os governam é que conduziram a população ao estado de miséria humana, social e intelectual em que estes vivem. Enquanto as ditaduras corruptas governarem os países que servem de base social aos movimentos terroristas não haverá forma de acabar com este fenómeno. O grande erro do ocidente é a forma como a nossa dependência do petróleo nos faz amparar o jogo a toda esta gente, contribuindo para a legitimação de regimes como os que existem na Arábia Saudita, por exemplo.
Ou seja, o principal argumento dos partidos de esquerda (a base social pobre do terrorismo) acaba por ser precisamente a única razão pela qual uma intervenção como a que Bush e Blair fizeram no Iraque poderia de algum modo ser justificada (não estou aqui a discutir concretamente o caso da guerra do Iraque, que considero ter sido um erro)!

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