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domingo, novembro 27, 2005

Saiu no Diário de Notícias de hoje:

Estado poupa 50 milhões de euros se controlar terapia da infertilidade
Poupança resultaria da redução de gestações múltiplas e de menos cuidados de saúde
elsa costa e silva

O número de gémeos aumentou em Portugal quase 50% nos últimos 15 anos, devido aos tratamentos de infertilidade. Os partos triplos cresceram 500%. Se fossem adoptadas orientações internacionais para a redução do número de embriões a transferir, o Estado pouparia uma média de 50 milhões de euros por ano - só em cuidados de saúde associados às gravidezes com mais de um bebé, e depois de já ter pago os tratamentos a todos os casais inférteis portugueses.Em termos de custos, sabe-se que as consequências associadas às gravidezes múltiplas resultam em maiores riscos para a saúde da mãe e das crianças, gastos enormes em cuidados neonatais e numa situação de quase ruptura dos serviços hospitalares. Este panorama poderia ser evitado se as regras, já adoptadas em países europeus, fossem seguidas por Portugal. Para obter poupanças significativas bastaria reduzir para metade o número de gestações duplas e anular as triplas. Os benefícios desta medida são estimados por Vladimiro Jorge Silva - num estudo em colaboração com Silva Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR) - que usou as respostas de cinco grandes hospitais públicos a um inquérito e extrapolou esses valores para a realidade nacional de 2002. Mas a falta de informação sobre a realidade portuguesa levou aqueles especialistas a incluírem ainda nesta extrapolação os custos de longo prazo associados a deficiências graves de bebés prematuros, calculados por especialistas belgas (para o plano nacional de redução de gestações múltiplas, que foi aprovado pelo Governo da Bélgica). Por isso, o autor do estudo faz uma ressalva relativamente à amplitude dos valores que estima (por não ter custos concretos de Portugal), mas garante que as poupanças seriam sempre significativas. As orientações internacionais neste campo têm vindo a recomendar a transferência de um, no máximo, dois embriões por ciclo de tratamento, admitindo três em situações excepcionais. Contudo, de acordo com o último registo nacional da SPMR, em 2003 foram transferidos três ou mais embriões em cerca de um terço dos ciclos. Uma situação que levanta sérias preocupações junto dos médicos. O risco de prematuridade aumenta nos partos múltiplos e, consequentemente, a mortalidade e a morbilidade perinatal e materna. Silva Carvalho lembra que a "gestação múltipla tem custos sociais e económicos elevados", ainda que haja em Portugal tendência para a redução do número de embriões a transferir, a realidade está longe da ideal, o que se explica por aumentar a frequência do êxito. Mas, diz Silva Carvalho, na Bélgica, essa perda de probabilidade de sucesso em cada tratamento foi compensada por um maior número de ciclos e uma comparticipação a 100%. Assim, é permitido a transferência de um único embrião. A média europeia aproxima-se do que se passa em Portugal, mas contempla realidades muito díspares. Segundo a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Portugal, no ano 2000, foram transferidos três ou mais embriões em 54% dos casos. Mas em países como Suécia, Finlândia e Dinamarca foram transferidos apenas um ou dois embriões em 90% dos casos. Na República Checa, Hungria ou Espanha, em metade dos tratamentos foram transferidos três ou mais embriões.Nuno Montenegro, do Hospital São João, no Porto, salienta, por exemplo, o risco acrescido de "morbilidade neurológica" em gémeos por força da prematuridade, que pode ir da disfunção motora à paralisia cerebral. Por outro lado, o útero foi concebido para albergar "um só ser e a nutrição acaba por ser prejudicada". A mãe sofre mais frequentemente de doenças hipertensivas em gravidezes gemelares. Por isso, diz, "tem havido nalguns congressos científicos uma recomendação muito peremptória para reduzir ao mínimo a transferência de embriões".

PS - Esta notícia diz respeito à comunicação que apresentei na passada sexta-feira na Conferência Nacional de Economia da Saúde, na Faculdade de Economia de Coimbra e que foi elaborada a partir da tese de mestrado que conclui recentemente. Contém algumas pequenas imprecisões, mas no essencial penso que resume o objectivo do trabalho.

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