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sexta-feira, janeiro 27, 2006

Só hoje vi o texto que Rui Lima Jorge me enviou a propósito das eleições presidenciais. Embora atrasado, continua a merecer ser lido:

Não cortar as asas ao sonho… com Manuel Alegre a Presidente

Corria, se não erro, o ano já distante de 1976 ou 77. Discursando no encerramento da Assembleia de Artes e Letras do PCP, Álvaro Cunhal, perante elogios e críticas, tanto de fora como de dentro do seu Partido, à ortodoxia do realismo socialista e às heterodoxias de pensamentos e práticas estéticas, proclamava “não cortemos as asas ao sonho”. Queria dizer que a liberdade de criação artística não se coaduna com o estabelecer de baias, políticas, sociais ou económicas que a condicionem.
O que foi o passado antes desta frase e o que tem sido o penoso presente a este respeito, com uma cada vez mais férrea limitação da expressividade artística – com demissões e substituições em organismos culturais, com o primado da rentabilidade do mercado sobre a alegria da livre e frutuosa criação de formas de arte, com o esmagamento das diversidades culturais pelos ditames soprados lá do VI Império – se falará numa outra ocasião.
Ocorreu-me a frase bela e feliz de Cunhal enquanto assistia ao decorrer da campanha eleitoral para a Presidência da República Portuguesa, que hoje termina. E, mesmo sem pedir autorização ao sr. Jerónimo de Sousa, que parece ter os direitos de autor sobre o nome de Álvaro Cunhal, quero evocar este grande nome a propósito de um nome grande que concorre ao mais alto cargo político da nossa nação – Manuel Alegre.
Alegre representa, nestas eleições, alguém que concorre por sentir a necessidade de, através da sua candidatura, dar voz a quem não se revê em meras candidaturas de aparelhos partidários, a quem, sem menosprezo dos partidos, entende que há mais vida para além das sedes, das bandeiras e dos lugares à mesa do orçamento.
Alegre dá um novo sentido à cidadania e à participação dos cidadãos na vida política, ao fazer-lhes ver que não precisam de ter um cartão partidário na carteira, uma bandeira colorida na mão e um slogan de marketing na boca.
Alegre diz, a este povo que começava a aceitar a canga do seu destino de morador em “feira cabisbaixa” (Alexandre O’Neill), 35 anos depois de o escrever, que ninguém “poderá domar os cavalos do vento/ este tropel/ do pensamento/ à flor da pele” (“O canto e as Armas”).
À Presidência da República concorrem representantes de partidos, cada um com sua ambição: Jerónimo e Louça para fixarem eleitorados e discutirem quem é, à esquerda, o maior dos mais pequeninos; Garcia Pereira, para angariar mais clientes à sua banca de advogado; Cavaco para cumprir o fadário que a direita lhe atribuiu, depois dos desaires de Soares Carneiro, dele próprio e de um outro de cujo nome já ninguém se lembra; Soares pela sua enorme vaidade (embora, e daqui lhe tiro o meu chapéu, o homem tenha ido a uma luta de onde tinham desertado todos os seus comparsas mais ou menos ilustres – Guterres, Vitorino, Gama – assustados com o “gurosan” cavaquista longamente preparado e trombeteado por todos os Balsemões e Saraivas deste reino).
Resta Alegre e esta bela disposição para ser esta voz que, solitária a principio, é hoje a expressão de cada vez mais e maiores solidariedades. Quando, meses atrás, anunciei publicamente o meu apoio à candidatura de Alegre, tinha acabado de encontrar um cartaz que aparecera nas presidenciais americanas de 96: “Se Deus quisesse que votássemos, ter-nos-ia dado candidatos”. Até chegar Alegre eu não tinha candidato. Tive-o então, e vou continuar a tê-lo até ao próximo domingo.
E até ao dia da segunda volta.

Rui Lima Jorge

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