quarta-feira, janeiro 11, 2006
Texto de João Tunes, do blogue Água Lisa:
Jerónimo, ao chamar de “oportunismo” a evocação feita por Manuel Alegre, no Forte de Peniche e como primeiro acto de campanha eleitoral, das fugas heróicas daquela prisão política de Dias Lourenço e de Cunhal e outros seus camaradas, deu uma facada funda no nó górdio do património da propaganda comunista e da sua história.Desde sempre, durante o fascismo, os clandestinos e combatentes comunistas, assumiram que, com a sua luta, defendiam não só os seus ideais e projectos comunistas como a democracia, a liberdade (as amplas liberdades) e o bem estar para todo o povo. Nem uma única vez ouvi ou li, dito ou escrito por qualquer combatente comunista, que a sua luta e os seus sacrifícios eram exclusivamente ditados pelo projecto político que ideologicamente abraçaram. Obviamente que a construção do socialismo e do comunismo eram crenças fundamentais que alimentavam o seu ideário e forjavam a sua persistência e resistência, mas sempre se afirmaram como os paladinos mais corajosos na luta mais vasta, e plural, para que o fascismo desse lugar à democracia e à liberdade, incluindo a liberdade de intervenção de todos os partidos. E foi nesta base que funcionou sempre, com altos e baixos, a Oposição Democrática contra o salazarismo e o marcelismo, englobando comunistas, não comunistas, indo até - muitas vezes – aos desencantados saídos das fileiras do próprio fascismo.O frémito sectário de Jerónimo, considerando as fugas de Peniche de Dias Lourenço e de Cunhal como patrimónios exclusivos do PCP, só invocáveis por dirigentes do PCP, é uma revisão redutora da história de luta do PCP contra o fascismo e pela democracia. Para mais, Jerónimo nem sequer tem autoridade moral e política para fazer esse triste papel. Não que não seja, como é, SG do PCP, mas pelo seu passado (porque é de passado antifascista que se fala quando se fala do Forte de Peniche).Dá-se o caso que Manuel Alegre tem muito mais autoridade e propriedade de falar das fugas de Dias Lourenço e de Cunhal que Jerónimo, ao evocar o triste papel das masmorras de Peniche. [Manuel Alegre e outros combatentes contra o fascismo que foram, nunca foram ou foram e deixaram de ser comunistas.] Porque, enquanto Jerónimo descobriu a luta contra o fascismo quando já não havia fascismo, descobriu a luta pela liberdade quando já havia a liberdade, descobriu a luta pela democracia quando já havia democracia, enquanto Jerónimo aprendia dança de salão e afinava a garganta a cantar fados, Manuel Alegre era camarada de partido de Dias Lourenço e de Cunhal, partilhando com eles a luta e os riscos, Manuel Alegre era combatente clandestino, era prisioneiro, era exilado. E o facto de Manuel Alegre ter desacreditado do comunismo, divergindo com a sua prática e ter, mesmo, mudado ideologicamente (sem que, com isso, tenha deixado de combater o fascismo) não lhe rasga o passado. Como o facto de Jerónimo ser, hoje, SG do PCP, não lhe inventa o passado de luta que não teve. Nem ilude o facto de que, quando o fascismo foi derrubado, Jerónimo já tinha saído há bastos anos da instrução primária.Poucos, durante o fascismo, lutaram contra ele [não fosse assim, e ele teria caído bem mais cedo]. E “não lutar” aconteceu a muito boa gente. Jerónimo não merece critica por não o ter feito. Simplesmente, não calhou. Inclusivé, o fascismo caiu por acção de militares profissionais que, pouco tempo antes, eram oficiais colonialistas, servindo o regime. Mas Jerónimo tem obrigação, por decoro, de recalcar sectarismos desbragados perante um lutador que tem o direito, como irmão de luta, de falar, com propriedade, de outros lutadores.
Jerónimo, ao chamar de “oportunismo” a evocação feita por Manuel Alegre, no Forte de Peniche e como primeiro acto de campanha eleitoral, das fugas heróicas daquela prisão política de Dias Lourenço e de Cunhal e outros seus camaradas, deu uma facada funda no nó górdio do património da propaganda comunista e da sua história.Desde sempre, durante o fascismo, os clandestinos e combatentes comunistas, assumiram que, com a sua luta, defendiam não só os seus ideais e projectos comunistas como a democracia, a liberdade (as amplas liberdades) e o bem estar para todo o povo. Nem uma única vez ouvi ou li, dito ou escrito por qualquer combatente comunista, que a sua luta e os seus sacrifícios eram exclusivamente ditados pelo projecto político que ideologicamente abraçaram. Obviamente que a construção do socialismo e do comunismo eram crenças fundamentais que alimentavam o seu ideário e forjavam a sua persistência e resistência, mas sempre se afirmaram como os paladinos mais corajosos na luta mais vasta, e plural, para que o fascismo desse lugar à democracia e à liberdade, incluindo a liberdade de intervenção de todos os partidos. E foi nesta base que funcionou sempre, com altos e baixos, a Oposição Democrática contra o salazarismo e o marcelismo, englobando comunistas, não comunistas, indo até - muitas vezes – aos desencantados saídos das fileiras do próprio fascismo.O frémito sectário de Jerónimo, considerando as fugas de Peniche de Dias Lourenço e de Cunhal como patrimónios exclusivos do PCP, só invocáveis por dirigentes do PCP, é uma revisão redutora da história de luta do PCP contra o fascismo e pela democracia. Para mais, Jerónimo nem sequer tem autoridade moral e política para fazer esse triste papel. Não que não seja, como é, SG do PCP, mas pelo seu passado (porque é de passado antifascista que se fala quando se fala do Forte de Peniche).Dá-se o caso que Manuel Alegre tem muito mais autoridade e propriedade de falar das fugas de Dias Lourenço e de Cunhal que Jerónimo, ao evocar o triste papel das masmorras de Peniche. [Manuel Alegre e outros combatentes contra o fascismo que foram, nunca foram ou foram e deixaram de ser comunistas.] Porque, enquanto Jerónimo descobriu a luta contra o fascismo quando já não havia fascismo, descobriu a luta pela liberdade quando já havia a liberdade, descobriu a luta pela democracia quando já havia democracia, enquanto Jerónimo aprendia dança de salão e afinava a garganta a cantar fados, Manuel Alegre era camarada de partido de Dias Lourenço e de Cunhal, partilhando com eles a luta e os riscos, Manuel Alegre era combatente clandestino, era prisioneiro, era exilado. E o facto de Manuel Alegre ter desacreditado do comunismo, divergindo com a sua prática e ter, mesmo, mudado ideologicamente (sem que, com isso, tenha deixado de combater o fascismo) não lhe rasga o passado. Como o facto de Jerónimo ser, hoje, SG do PCP, não lhe inventa o passado de luta que não teve. Nem ilude o facto de que, quando o fascismo foi derrubado, Jerónimo já tinha saído há bastos anos da instrução primária.Poucos, durante o fascismo, lutaram contra ele [não fosse assim, e ele teria caído bem mais cedo]. E “não lutar” aconteceu a muito boa gente. Jerónimo não merece critica por não o ter feito. Simplesmente, não calhou. Inclusivé, o fascismo caiu por acção de militares profissionais que, pouco tempo antes, eram oficiais colonialistas, servindo o regime. Mas Jerónimo tem obrigação, por decoro, de recalcar sectarismos desbragados perante um lutador que tem o direito, como irmão de luta, de falar, com propriedade, de outros lutadores.
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