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quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Estreou hoje o filme "Munique", de Steven Spielberg, que ainda não vi.
O tema é o sobejamente conhecido rapto e execução de 11 atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de 1972, seguido da perseguição e assassínio de todos os terroristas envolvidos.
Das opiniões que tenho ouvido, há alguns aspectos que constituem o pecado original de quase todos os que se pronunciam:
Embora possa ser questionável a atitude de perseguir e assassinar os terroristas - a tal questão da superioridade moral da democracia enquanto sistema capaz de tolerar mesmo aqueles cujo objectivo declarado é a sua destruição (nesse caso, porque são proibidos - e bem - os partidos de ideologia fascista, racista ou xenófoba?) - há algo que também me choca: é que não é a mesma coisa matar 11 atletas olímpicos (civis e inocentes) e assassinar (mesmo que a sangue frio, com toda a carga simbólica do acto) terroristas que cometeram crimes cegos contra alvos não militares. Por isso, nunca se devem colocar os dois actos como sendo as duas fases da mesma moeda - o relativismo com que se comparam as atitudes é, em si, fundamental para avaliar o que se passou. E nivelar a reacção israelita com o ataque palestiniano é automaticamente tomar uma posição favorável aos terroristas, o que é inaceitável.
Por outro lado, quando se considera que o ataque palestiniano deve ser encarado no contexto da época e que essa era a única forma de luta de que aqueles grupos dispunham, está-se novamente a suavizar os acontecimentos e a esquecer a história de grupos de guerrilheiros armados que nunca cometeram actos tão baixos e cobardes como atacar atletas ou autocarros de crianças: Che Guevara e Xanana Gusmão são exemplos de lutadores pela liberdade com muito menos meios (Yasser Arafat dispunha de uma das maiores fortunas do mundo quando morreu) que sempre cingiram as suas actividades de guerrilha a alvos militares ou pelo menos com importância estratégica.
Por uma questão de princípio, não concordo com o que Israel fez: seria preferível uma solução tipo Eichmann, com rapto e julgamento subsequente. No entanto, em termos de gravidade trata-se de um acto em nada comparável ao dos terroristas, pois é dirigido contra um grupo armado que atentou contra cidadãos inocentes.
Escrevi isto depois de ouvir alguns opinion makers nacionais a disparatarem na Antena 1 ao longo do dia.
Hei-de ver o filme nos próximos dias e depois voltarei a pronunciar-me.

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Comments:
vladimiro jorge, dê as voltas que der, matar é matar: seja um terrorista, seja um inocente. não há mortes mais inocentes que outras, quando são intencionais; não há graus entre estar morto e estar vivo. longe de mim, com isto, defender o terrorismo, obviamente; longe de mim, obviamente, defender quem combate o terror com o terror. a questão de fundo está precisamente na pertinência de tratar estas assuntos com palavras como estas «combate» e «contra», mas isso é outra história, muito mais exigente que a simples opinião...
 
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