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quarta-feira, abril 12, 2006

Será que as árvores de Natal da ilha... a ilha é de Natal?

Foi assim que, há 12 anos e poucos meses, o meu amigo MB acordou a minha amiga MJ, que dormia o sono dos justos depois de uma agitada noite benidormiana. A frase tem todas as virtudes do melhor estilo nonsense:
- A dúvida despropositada e descontextualizada;
- A referência a um assunto relativamente indefinido (a ilha), como se ambos os intervenientes da conversa soubessem de que é que estavam a falar ou o tema fosse óbvio (o que não acontecia);
- A tripla e ultra-complexa associação entre uma ilha com árvores, a Ilha da Páscoa (que fica ao largo do Chile, tem características tropicais e em princípio não será um lugar onde se vejam muitos pinheiros) e as árvores de Natal (associadas à ilha em segundo grau e só porque esta tem o nome de uma época de festividades religiosas);
- A mudança de assunto a meio da frase: nunca saberemos o que é que MB iria perguntar quando lhe surgiu a dúvida sobre o nome da ilha;
- A alteração de velocidade: as reticências introduzem uma pausa desconcertante, que interrompe a frase a meio, como se de repente tivesse surgido uma questão urgente e inadiável (a ilha é de Natal?);
- A frase tem duas perguntas (uma das quais incompleta), o que cria no destinatário a sensação de que o emissor tem um problema e escolheu-o a ele para o ajudar na sua resolução;
- A angústia momentaneamente induzida no receptor quando este se apercebe de que não tem resposta para a solicitação de que havia sido alvo;
- A indução (por algumas décimas de segundo ou por largas horas ou até anos) da dúvida no receptor, que sabe que existe algures no Pacífico uma ilha com árvores e com um nome que consta do calendário das férias escolares, embora não se aperceba imediatamente da troca;
- A impressão causada no início da frase, em que parece que se vai colocar uma dúvida profunda e com algum mérito intelectual acaba por ser defraudada pelo desnexo em que se cai.

A toda esta cascata de sensações, a MJ respondeu simplesmente "- Ó M, deixa-me dormir!", perdendo a ocasião de usufruir do seu estatuto de vítima de uma tão bem pensada estratégia de atrofianço social.

PS - Embora me pareça óbvio, não preciso de explicar que não é por acaso que este texto aparece neste blogue nesta precisa semana, pois não?

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