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quarta-feira, maio 10, 2006

Um dos primeiros utentes que atendi é daqueles que nunca se esquecem: quando, há pouco mais de sete anos, comecei a trabalhar como farmacêutico ao balcão de uma Farmácia, o utente em questão pediu-me que lhe dispensasse um antibiótico sem receita médica.
A situação não era tão simples como possa parecer: acabado de sair de um estágio em que nestas situações o "não" me saía com facilidade (pois estava numa localidade em que não conhecia quase ninguém), via-me agora perante um indivíduo da idade dos meus pais, que eu conhecia desde criança e que sabia ser amigo da família e cliente de longa data da Farmácia. Mantive-me irredutível, mesmo perante o argumento de que ele até pelo telefone conseguiria a receita médica. A situação era ainda mais incómoda, pois a Farmácia estava de serviço e àquela hora a minha recusa obrigá-lo-ia a deslocar-se a outro concelho. Aguentei a irritação do homem e recusei mesmo a venda. O utente saiu furioso e reapareceu cerca de duas horas depois, com a mesma disposição na alma e a receita na mão:
- Foi só chegar ao hospital e pedir! Está a ver? Para que é que me obrigou a perder tempo? Mas agora também não a vou aviar aqui! Nem que tenha que ir a Aveiro!
E foi-se, perante uma pequena assistência de outros clientes, surpreendidos pela altercação.
Desde então, nunca mais o tinha visto entrar na Farmácia. Veio hoje, como se nada se tivesse passado. Atendi-o da mesma forma.

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