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quarta-feira, agosto 30, 2006

Só hoje reparei que foi graças aos últimos posts do Notícias da Aldeia que foi possível a denúncia pública da situação que ontem fez capa da edição Centro do JN.
Como o mérito é para quem o tem e com a devida vénia ao autor, tomei a liberdade de reproduzir alguns dos excelentes textos do Abel Cunha sobre esta matéria e outras parecidas:

Crimes ambientais


Uma Etar, diz-se, sedeada na zona de Gaia, tem descarregado uns camiões de lamas não tratadas em terrenos da minha aldeia. Pelo cheiro nauseabundo que exalam, percebe-se que se trata essencialmente de dejectos fecais. Custando caro o equipamento para tratamento das ditas, é muito mais económico distribuí-las pelos incautos.

Foi o que aconteceu. A esperteza saloia dos responsáveis da Etar, aliada à ignorância de quem acredita de que merda é um bom fertilizante, resultou numa camada com meio metro de altura da dita, depositada em diferentes terrenos agrícolas.

Como não houve consequências para a Etar ou para os proprietários dos terrenos, fica aqui o aviso: se as lamas fossem bons fertilizantes, as estações de tratamento vendiam-nas.
..............

Aqui pela aldeia, não há um local para depósito de lixos, pelo que as bordas dos esteiros e dos caminhos, apresentam-se como verdadeiras lixeiras. É confrangedor, o que se passa. Parece que estamos a viver dentro de uma enorme lixeira. Poderia a CME ajudar a Junta de Freguesia a resolver esta questão?


(15/8/2006)

Com toda a impunidade

A instrução e a civilidade são essenciais para podermos viver harmoniosamente.

Vem isto a propósito dos crimes ambientais de que falei no post anterior. Voltando aos locais do crime, a extensão do mesmo é impressionante. Nas Sergilas, nas Arrotas, no Canto das Arrotas, na Manteira, na Mata e nos Morangais podem ver-se terrenos cobertos com grossas camadas destas lamas que chegam a atingir metro e meio de altura. São muitos camiões de merda, distribuídos ao longo de muitos terrenos agrícolas. O cheiro é nauseabundo.

A Etar conseguiu livrar-se de muitas toneladas de resíduos ao custo do seu transporte. Para piorar as coisas e na mesma zona, vi hoje agricultores a regarem os terrenos com resíduos de fossa.

E tudo isto se passa impunemente, como se fosse a coisa mais natural do mundo. A chuva tudo lava e a terra tudo come.

Por falta de instrução, estas pessoas não saberão que todos os poluentes que lançam à terra acabam por entrar na cadeia alimentar, ou seja, acabamos a comer e a beber a merda que lançam para os terrenos.

Quanto à civilidade, tudo isto se passa em zonas agrícolas e de nascentes aquíferas que estando já poluídas, ficarão envenenadas. Tudo isto se passa na maior impunidade porque apesar da denúncia, a autoridade não actua. Porque se os agricultores são inconscientes – alguns o serão – a autoridade e o poder político, não o poderão ser.

Não me parece que a aplicação de coimas aos agricultores resolva o problema. No caso concreto, a Etar deverá ser obrigada a retirar as lamas que aqui veio depositar. Os agricultores, deverão ser elucidados sobre as consequências que advêm de actos irreflectidos que a todos, por igual, prejudicam.

(17/8/2006)


ExCitações



“O projecto Bioria é ferramenta relevante na conservação do património natural e sensibilização ambiental das populações.”

“Criado com o intuito de revelar e proteger o património natural do Concelho de Estarreja, este projecto visa ainda formar e sensibilizar as populações para a conservação da natureza e preservação do meio ambiente.”

Fotografia: parte final do Esteiro Velho, em Canelas - Estarreja

(21/8/2006)

Crimes ambientais


Apesar de ser uma terra de muitas nascentes de frescas e boas águas, não há hoje em Canelas uma única nascente ou fonte cuja água seja potável.

Os fertilizantes, fossas, lixos e agora, dejectos fecais que são lançados para as terras, os lixos deixados nas beiras dos caminhos, contaminaram totalmente o meio ambiente. Não saberei até que ponto a elevada taxa de mortes por cancro que por aqui se verifica e de que já falei anteriormente, não se relacionará com este envenenamento ambiental.

A impunidade reinante estimula os mais ignorantes ou menos escrupulosos, a irem cada vez mais longe, a poluírem, a envenenarem cada vez mais. A passividade geral, o encolher de ombros perante tais crimes são um incentivo à sua continuidade.

O nosso campo – zona lagunar – anteriormente um viveiro de peixe, não tem hoje uma enguia e se alguma aparece, já não é comestível.

Não temos hoje em Canelas um local aprazível, limpo, cuidado, que possamos mostrar aos amigos ou, onde possamos receber quem nos visita. O nosso Ribeiro, que foi a nossa sala de visitas, é hoje um enorme depósito de lixos domésticos e restos de materiais de obras.
A inveja é uma coisa muito feia, mas quanta tenho da Ribeira da Aldeia, em Pardilhó.

(22/8/2006)

Crimes ambientais

Oito dias passados sobre a denúncia pública dos despejos de lamas nos terrenos agrícolas e lagunares da minha aldeia, não há qualquer resultado prático. Acabo de me cruzar com mais um camião de bosta, acabadinha de ser depositada.

Apesar das diligências que já foram feitas pelas entidades envolvidas, apanho eu mais depressa os infractores, do que a polícia. Aliás, estes não se escondem, passeando as cargas pestilentas pelas ruas da aldeia.

É isto Canelas, Estarreja, no sítio designado, Portugal.

(24/8/2006)


Ainda o ambiente

Correndo o risco de me tornar repetitivo e com isso desinteressar os meus visitantes, por uma razão de creio, justa indignação, volto à questão dos depósitos das lamas da Etar e de forma mais lata, ao problema da poluição e contaminação ambiental que por aqui se verifica.

Não estou certo que as descargas tenham parado mas, já não são tão visíveis os camiões que operavam durante o dia e à vista de todos nós. Se continuam, será agora a horas mortas ou mesmo durante a noite.

Parece-me certo que o que cá está e não é pouco nem bom, já por cá ficará. A nossa qualidade de vida terá sofrido mais um golpe traiçoeiro, feito na ganância de uns poucos, ficaremos mais poluídos, mais envenenados, socialmente marginalizados, uma pequena aldeia – como me dizia esta manhã um jornalista – de gente habituada a viver no meio da porcaria. É esta a imagem com que de nós, ficará o país.

E no entanto não é assim. A esmagadora maioria dos habitantes de Canelas, é boa gente, honrada, trabalhadora, limpa e asseada. Mas, sem dúvida que a minha aldeia, substantivamente, ficou mais suja.

Aguardemos o desfecho para avaliar o processo e a extensão da imputação de responsabilidades, sabendo à partida que em Portugal, a culpa morre habitualmente solteira.

Na origem de todo este processo, estará o dinheiro, na forma de uma qualquer empreitada de limpeza da estação de tratamento. É óbvio que não terão sido os responsáveis da mesma que sonharam com uns terrenos a 60 Kms de distância onde poderiam impunemente depositar os lixos que processam.

Há seguramente um intermediário, conhecedor dos locais e, resta saber, se não há autorização para despejo dos mesmos. É que se a operação é clandestina, o crime será restrito aos operadores; se há autorizações, o leque de responsáveis alarga-se e a dimensão do crime é outra.

O que é certo é que tendo soado o alarme, de imediato um dos envolvidos – contaminador e poluidor destacado e referenciado desde há muitos anos e a quem nunca aconteceu nada – já tratou de disseminar a porcaria nos terrenos lagunares e fechou a propriedade a cadeado. Logo que subam as águas, teremos uma contaminação fecal na área.

Os poucos habitantes da Aldeia que desprezando elementares regras de higiene, respeito por si mesmo e pelos outros, despejam lixos e fossas para os terrenos e braços da ria e neste aspecto a zona lagunar está putrefacta – basta olhar e cheirar o esteiro dos espanhóis o qual se tornou vazadouro público de tudo o que é lixo, - argumentam que despejam no que é deles.

Como se, contaminar terras e águas fosse um direito de cada um. Como se conspurcassem somente o que é seu e não envenenassem a vida de todos nós. É no fim de contas, o resultado de maus hábitos continuados que nunca foram contrariados ou impedidos, instituindo-se como direitos adquiridos.

Na hora do fecho destas contas, questionar-se-à o papel das autoridades, do poder local, autárquico, das secretarias de estado e, dos famosos ambientalistas que tanto porfiam nos negócios ambientais. Finalmente, como se aplicam as tão propaladas políticas ambientais que tanto dinheiro custam e pelo visto, tão pouca eficácia revelam.

(28/8/2006)

Como tive oportunidade de referir a quem de direito, nestas coisas, ficamos todos mal na fotografia e, aparecer nos jornais pelas piores razões, não é motivo de que nos possamos orgulhar.

Tivemos a felicidade de nascer numa zona de rara beleza, de um inestimável potencial turístico, biológico e económico. Apesar disso, quando olhamos para o lado, já alguém destruiu parte deste património precioso. Apenas em função de dinheiro fácil.

Sinto tristeza por tudo o que se passou e ainda continua.

(29/8/2006)


Confesso que só hoje, relendo com calma os textos do Abel Cunha e a notícia do JN, é que me apercebi da real dimensão do problema. Estou chocado e horrorizado. Desta vez foi-se demasiado longe. O que se passou em Canelas é crime e é inadmissível. Além da queixa junto das autoridades policiais, o Presidente da Câmara de Estarreja tem a obrigação de denunciar a situação ao Ministério do Ambiente e exigir a demissão imediata do Presidente da ETAR responsável por tudo isto. Além disso, é o Ministério do Ambiente quem deve reparar o mal feito e indemnizar o concelho de Estarreja e especificamente a freguesia de Canelas!

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Comments:
Caro Vladimiro, obrigado pelo apoio e divulgação deste caso no seu blog.

Efectivamente, é uma tragédia que permitamos que destruam a nossa vida e a nossa terra a troco de uns negócios pouco transparentes em que ganham um ou dois, em função da doença e da miséria que espalham entre os muitos que habitam e fazem as suas vidas em ambientes grandemente degradados.

É de inteira justiça referir publicamente e uma questão de seriedade moral e intelectual que o caso chegou a altas instâncias e foi ordenada a sua investigação. Pela mesma razão devo dizer que a CME após conhecer o facto actuou da forma que julgou adequada.

Em concreto, este assunto das lamas, de minha parte, está terminado, cabendo agora às autoridades dar o seguimento devido.

Quanto à sua ideia de que a freguesia deveria ser indemnizada, é certo que sim, mas tal não sucederá, basta ver a posição do presidente da Junta de Freguesia.

Cpts.
 
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