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quinta-feira, agosto 03, 2006

Ser farmacêutico

Esta cena passou-se há dois ou três anos: por um motivo qualquer, tive que ir ao Porto tratar já não me lembro de quê. Como cheguei significativamente adiantado, resolvi fazer horas passeando de carro pela zona das praias de Gaia. Estava eu a passar pela Madalena, quando reparei num terreno com cerca de 600 metros quadrados, relativamente bem localizado e com uma placa com a palavra "Vende-se" por cima de um número de telefone. Resolvi ligar para saber o preço. 46 mil contos (sim, contos), sem projecto aprovado, mas com "viabilidade de construção". Pasmado, respondi que não era bem aquilo que eu estava à procura. O meu interlocutor, solícito, referiu que tinha outro terreno para vender perto daquele e ainda duas moradias em fase final de construção, que teria todo o gosto em mostrar-me. Já com um pé atrás, mas sem nada melhor para fazer, aceitei o convite. O outro terreno era ligeiramente maior (650 ou 700 metros quadrados), também não tinha projecto e estava à venda por 52 mil contos. As duas moradias tinham rés-do-chão e primeiro andar, um pequeno jardim, uma garagem que mal dava para um carro e um nível geral de acabamentos médio baixo, pontuados a espaços com graves atentados ao bom gosto. Preços: respectivamente 94 e 97 mil contos! Sentindo-me algures entre o horrorizado e o divertido com a situação, referi com o ar mais convicto e blasé que consegui fazer que estava à procura de outro estilo de arquitectura e acabamentos, pelo que iria continuar a visitar outras casas. Compreeendendo a situação, o empreiteiro que me estava a mostrar as moradias (vestido com um fato branco de fazer inveja ao Roberto Leal, adornado com um belo colar de ouro ao pescoço e ao volante de uma carrinha BMW série 5) fez a habitual conversa de circunstância, perguntando-me qual era a minha área profissional. Quando lhe respondi que era farmacêutico, recebi logo a resposta:
- Farmacêutico? É pá, isso é que dá dinheiro! - disse o homem, com um visível esgar de inveja...

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Comments:
Uma vez, há uns anos atrás, a minha irmã foi jantar a casa de uma colega de Faculdade, filha de um grande Industrial. Conversa para cá, conversa para lá e a milionária pergunta:
- Então o teu irmão, que é feito?
- Está velho, gasto, um caco, um chaço (esta parte a minha irmã não me contou nem vem ao caso, mas enfim...), tem uma Farmácia no Porto.
- Uma Farmácia no Porto? Então está rico!!!
Devia pensar a criatura que uma Botica, confusa, era uma oficina de alquimia, que uma qualquer Botica deveria ter uma árvore das patacas lá nos fundos, que uma Botica recebia subsídios chorudos como a fábrica do pai ou que não pagava impostos, sei lá.

Lendas urbanas. Por causa destas lendas, ampliadas pela ostentação de alguns colegas (coitados, muitos deles a viver do crédito de fornecedores) é que os Políticos sabem que "bater" nas Farmácias dá votos. E "batem". E continuarão a "bater".
 
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