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quarta-feira, fevereiro 28, 2007





Escrevi isto na secção de comentários do Saúde SA a propósito do Prós e Contras de anteontem (sobre o fecho das urgências e com a presença de Correia de Campos na segunda parte):

O destino tem destas ironias: quem haveria de dizer que CC iria acabar por ver a sua sobrevivência política dependente de negociações (travadas em clara desvantagem posicional) com os mesmos autarcas que ele sempre tratou com arrogância e sobranceria?

PS - Há que reconhecer que CC e seus pares deram uma goleada aos "Contras". No entanto, penso que também é indiscutível que, com a excepção do médico de Valença, estes eram muito fraquinhos... aliás, foi especialmente interessante o momento em que os Contras da bancada atacaram os Contras do palco, deixando os Prós confortavelmente a assistir ao programa... O debate foi completamente assimétrico e a utilização dos autarcas como carne para canhão chegou mesmo a ser constrangedora. De qualquer modo, foi uma importantíssima vitória política para CC, que precisava desesperadamente de uma noite assim.

Acrescento no entanto mais alguns pontos, até porque o referido programa de TV foi uma das mais bem montadas e estimulantes encenações políticas dos últimos tempos:
- O painel de Prós incluía os técnicos da Comissão que elaborou o estudo em discussão, bem como várias outras personalidades de inegável competência, mas que actualmente ocupam cargos de nomeação directa do Ministro da Saúde;
- Do lado dos contras apenas estavam os autarcas e a sua ignorante prole, um médico do PSD e outro da Ordem dos Médicos, ambos muito mais empenhados na visão sectária ou corporativista da questão e claramente com a lição mal estudada. A única excepção acabou por ser a presença provavelmente inesperada de um médico de Valença que conhecia bem os dossiers e conseguiu produzir os únicos momentos de verdadeira contestação da noite;
- Embora fosse para um ambiente seleccionado, muitíssimo seguro e claramente favorável, mesmo assim Correia de Campos teve o cuidado de só aparecer na segunda parte do programa, para que os elementos da comissão levassem no pelo o fulgor inicial da contestação e para melhor preparar a sua defesa, pois entretanto os argumentos dos que o atacam seriam conhecidos.

Ou seja, a noite correu bem a CC, mas outra coisa não seria de esperar, dadas as circunstâncias. Embora bater em fracos não seja propriamente uma demonstração de força, a verdade é que ontem CC ficou ainda com mais um motivo para sorrir: pela primeira vez desde o início da crise das urgências, o PS apoiou o Ministro da Saúde. É que uma encenação política tão inteligentemente montada seguramente não é da autoria do Ministro da Saúde, mais conhecido pelas suas trapalhadas e excessos verbais... a marca indelével da política socrática esteve bem presente durante toda a noite!

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