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sexta-feira, abril 13, 2007

Há os bloggers normais e depois há o maradona (com minúscula). Quando leio textos como este sinto-me muito pequenino. Aliás, quando for grande gostava de ser assim:

Micologias
É com enorme elegância fisico-química que aqui me apresento. Por ter dado sangue no dia tal e tal acabei de receber, no passado dia 2 (ou um dia assim desses), umas exaustivas análises ao precioso líquido ferroso que nos corre nas veias. Estou em condições de adiantar que, à excepção da velocidade de sedimentação, o mesmo apresenta valores de uma mediania agoniantemente saudável. Por este andar, há blogue por muitos mais anos.O único desvio refere-se aos números mirabolantemente elevados das velocidades de sedimentação, que exclusivamente se devem ao continuo processo alérgico que é a facciosa existência deste que vos tecla. Ou pelo menos é isso que disse o médico, depois de, sem sucesso, me ter vasculhado o pescoço à procura de gânglios e me ter inquirido relativamente a aspectos da minha vida íntima (como se comia "muitos fritos"). Mais que isto tavez só fazer observar a suas excelências que o sinal que me apareceu na perna há seis anos continua impecavelmente circular e essencialmente imperturbável, quer nos seus 6 milímetros de diâmetro, quer naquela cor entre o castanho-merda e o vómito-de-empadão-de-camarão-com-espargos, pelo que de cancro da pele não vou morrer nos próximos dois anos. Pelas minhas contas, e na condição de evitar passar na Rua do Viriato muitas vezes, estou aqui para cagar e durar.Para além do mais, apresento perante as pessoas e os cidadãos um saudável e digníssimo índice de massa corporal de 24.9, o que é uma retração significatva do 25.2 de há um mês, e que à altura dos cálculos permitiu à balança da farmácia Nova Iorque da Avenida Estados Unidos da América expelir um papelinho ridículo e ofensivo que me classificava, à luz dos dados recolhidos, com o chocante adjectivo de "Fuerte". "Foi condição suficiente", disse eu, e como sempre muito bem, porque, putas que os pariu, agora sou "Normal".Para quem esteja familiarizado com a fórmula que permite obter este Índice, bem como com os parâmetros utilizados na atribuição de um adjectivo em relação à percentagem de gordura assim obtida relativamente a determinada pessoa, saberá, com certeza, das suas estrondosas deficiências. Sabe-se, por exemplo e para não ir mais longe, que a massa muscular é um tecido bastante mais denso que a gordura. Pois bem: o Índice de Massa Corporal utilizado na totalidade das balanças disponiveis nas nossas farmácias, ao não levar em conta as diferentes percentagens de músculo presente em cada cidadão, está, no meu entender e para qualquer efeito prático, a prejudicar o regular funcionamento da sociedade, por, entre outras situações que não interessa aqui explorar, se poder dar o caso de se classificar moralmente uma pessoa de "gordo" quando ela é apenas e só "musculada". Não vamos mais longe que eu próprio. Como saberão, a massa muscular dos meus membros inferiores afigura-se extremamente desenvolvida ao observador imparcial, facto que faz de mim uma pessoa enormemente apelativa das ancas para baixo (isto se exceptuarmos os orgãos propriamente sexuais, que, de qualquer modo, praticamente não se vêem sem auxilio óptico de qualidade), quer porque à vista desarmada a definição das curvas de cada uma das pernas me atribui um aspecto de enorme robustez e vitalidade física, como ao próprio toque o cidadão normal não deixará de notar uma rigidez ímpar (qualidade, novamente, ausente dos supra-parentesitados orgãos, sob qualquer estimulo), que só poderá ser sinal de se estar na presença de um ser forte, enérgico, resistente, inabalável na adversidade, constante nos objectivos e pontual. Ora, sendo, no meu caso concreto, o volume dos adutores, sartorius, grácil e restante tralha, tão superior à média, não deixa de ser perturbador para esta vossa vítima da balança não ver descontar no valor do peso a introduzir na fórmula a quantidade de pelo menos dois quilos, mínimo dos mínimos que calculo ser a massa do músculo em excesso em relação ao cidadão comum que escreve em blogues, e que me permite, de facto, possuir estas, a todos os títulos, magnifícas pernas. Por causa dessa opressiva inflexibilidade, sou classificado de "fuerte", uma humilhação politico-social que me ensombra os dias e a vida.Parece, aliás, que a ofegante perfeição da musculatura dos meus membros inferiores só me traz desgostos, em vez da desejada e merecida glória. Sou, desde que os meus pais sairam de casa, uma Arca de Noé ambulante no que respeita a fungos. Darwin e Wallace não teriam precisado de viajar tantas milhas náuticas para observar a maravilhosa diversidade da vida, as qualidades adaptativas da variabilidade intraespecífica e os fenómenos de especiação por pressão ambiental se tivessem podido dedicar-se à micologia no meu próprio corpo. Cada sector do meu organismo tem um fungo, alegadamente diferentes entre si (radiação adaptativa?): tenho um fungo nos dedos dos pés, tenho um fungo na planta do pé, tenho um fungo no caralho, tenho um fungo nas virilhas, tenho um fungo debaixo das unhas das mãos, tenho um fungo no pescoço e peito, tenho um fungo na parte de trás das orelhas e tenho um fungo no couro cabeludo. Tudo isto exige umas pomadas que me mandam do Algarve e uma radical mudança de comportamento e da minha própria identidade: passar a usar boxers.Supostamente, os boxers impediriam que a zona das pernas imediatamente abaixo das virilhas raspasse uma na outra ao andar, com o correspondente atrito entre a pele. A mistura entre a fricção e o suor produzido pela excessiva quantidade de músculo é, segundo a teleologia da medicina actual, o caminho mais rápido para o que vulgarmente se chama de assadura, e esta o berço mais propicio para gerações e gerações de fungos, que depois migram para outras zonas do meu corpo e se especiam (?), como os tentilhões das galápagos. Boxers, portanto, em aliança com o Baycuten ou o Dexaval-V, seriam a minha única esperança.Como pessoa de bem que sou, sempre me recusei a adaptar aos boxers. Fui pressionado de várias maneiras e com argumentário de vária ordem, inclusive algum ao estilo lisístratadeano. Nunca fui capaz. E nunca me adaptei porquê? Não foi porque, como dizem os dotados e paneleirosos, "aquilo fica a bandear", à "solta" ou qualquer outra gabarolice do género. Tenho pouca coisa para "bandear", seria preciso um tremor ao estilo richter magnitude 9 para se detectar o mínimo dos movimentos vulgarmente observados nos pêndulos; o meu pénis, se fosse um vegetal, era uma batata: redondo, com precisamente a mesma distância de qualquer ponto da sua superfície ao centro, de tal maneira que, se se vai confiar à vista desarmada a crença na sua existência, nada mais se está a fazer que reproduzir a superstição do agricultor quando acredita na existência do tubérculo debaixo da terra apenas por observar a folhagem respectiva ao cimo da terra. Como todos sabemos, em muitas circunstâncias não é essa necessariamente a situação.O que me impossibilita - e vai continuar a impossibilitar nem que me cresçam azinheiras na ponta do caralho - a utilização dos boxers é, justa e tragicamente, o exacerbado desenvolvimento dos músculos das pernas: devido ao seu volume, a actividade de andar faz com que a secção do boxer que era para ficar esticada e presa ao longo da perna seja inapelavelmente puxada para cima, acumulando-se nas virilhas porções de pano e tecido que tornam impossivel um andar cem por cento heterossexual.Fora isto, sou uma pessoa em que não se pode confiar.

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Comments:
Genial! :D
 
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