segunda-feira, abril 25, 2011
2010 ficará injustamente na história como o ano em que se iniciou o processo de queda do Euro (primeiro) e da União Europeia (depois). No entanto, tudo começou infelizmente há bastante mais tempo (mais concretamente, a 26 de Fevereiro de 2001), quando de uma forma absolutamente discreta, depois de uma noitada de trabalho e numa claríssima falha de lucidez, os líderes europeus de então assinaram o tratado de Nice.
E foi a partir de Nice que se introduziu a votação por maioria qualificada, ou seja, foi a partir daqui que na Europa os países grandes deixaram de precisar dos pequenos, cujos votos deixaram de ser indispensáveis ao funcionamento da UE. O lado irónico da questão é que a legitimação de Nice viria supostamente sob a forma da Constituição Europeia, mas como esta foi felizmente chumbada, acabou por ganhar forma apenas no tratado... de Lisboa, em vigor desde 1 de Dezembro de 2009 - o tal do "Porreiro, pá!".
E de facto o conceito de UE centralista, germano-francófila, moralista e ditatorial demorou menos de 6 meses a produzir efeitos: um país (a Grécia) com com uma economia frágil e com gravíssimos problemas estruturais foi atacado por especuladores - e em vez do BCE, a CE e outras instituições tentarem resolver o problema de forma a preservar a integridade económica da zona Euro (a solução era fácil - comprar dívida grega em grandes quantidades, o que mesmo assim ficaria mais barato do que as soluções hoje existentes para Portugal, Grécia e Irlanda), a opção foi deixar a Grécia cair, servindo de exemplo para outros países de vida fácil (os "PIGS").
Infelizmente as coisas correram mal e, perante o sucesso do primeiro ataque especulativo, seguiram-se naturalmente outros, com o último episódio a ser absolutamente decisivo: dos restantes 25 países da UE (ou dos outros 15 da zona Euro), Portugal não é nem a economia mais frágil, nem a que tem mais problemas estruturais (embora os tenha e estes sejam graves e consequência de irresponsabilidades acumuladas de vários governos). No entanto, estava a servir de tampão para o ataque a Espanha (o cliente que se segue) - e agora o caminho ficou livre.
Quando Espanha chamar o FMI as coisas vão ser verdadeiramente graves - este é um país com mais de 20% de desempregados, com nacionalismos e egoísmos difíceis de controlar e uma rede de autonomias governativas e legislativas que torna quase impossível a aplicação de medidas de contenção económica eficazes ou sequer qualquer negociação com uma eventual "troika". Pior ainda, é em Espanha que estão vários bancos de enormíssima dimensão, com ligações a todo o sistema financeiro mundial, não só na Europa mas também noutros continentes, em especial na América do Sul.
A queda de Portugal foi merecida (à luz do desempenho económico e governativo do país), mas era desnecessária e evitável (a UE e o BCE tinham força para a evitar). E abriu caminho a um problema muitíssimo mais sério.
As pulsões neofascistas (e em alguns casos até neonazis) que alguns países demonstram (particularmente visíveis em países como a Finlândia, França e Holanda, por exemplo) em questões sociais (veja-se a atitude cruel e absolutamente inacreditável de França perante os pedidos de ajuda de Itália na questão dos refugiados) são os primeiros sintomas da desintegração da Europa.
A crise económica de 1929 criou as condições políticas e sociais para a segunda guerra mundial, 10 anos mais tarde. Agora as coisas são mais rápidas e o risco de guerra no mundo civilizado e democrático é menor - mas é inevitável que existam consequências políticas do que se passou em 2008. A queda da UE será inevitável e acontece devido à fragilidade auto-infligida (a partir de 2001) das suas bases.
Etiquetas: Política Internacional
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