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terça-feira, setembro 27, 2011

Tenho a maior das embirrações pessoais com o Dia do Farmacêutico, que ontem foi alvo de mais uma lamentável comemoração por parte da Ordem dos Farmacêuticos.
De facto, pior que inventar à pressão não um, mas dois padroeiros para uma profissão que nunca os teve (como aliás é bem visível pelas desgraças ocorridas nos últimos tempos), é recorrer aos serviços de
dois santos que na verdade eram essencialmente médicos/curandeiros e não farmacêuticos!
Aliás, não é por acaso que estes santos são também os padroeiros de cirurgiões, físicos, cabeleireiros e barbeiros :)), para além de serem venerados também por cultos como o Candomblé, Xambá, Xangô, etc. (mais algumas informações curiosas em http://en.wikipedia.org/wiki/Saints_Cosmas_and_Damian).
Como se tudo isto não bastasse, comecei o dia estarrecido com mais esta notícia:


Ordem defende conceito de farmacêutico de família
por LusaOntem
O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos defendeu hoje, no Porto, que as farmácias devem integrar a rede nacional de cuidados de saúde primários e que deve ser criado o conceito de farmacêutico de família.
"As farmácias comunitárias portuguesas, onde cerca de oito mil farmacêuticos exercem a sua atividade profissional, são verdadeiras unidades de saúde, vocacionadas para a prestação de cuidados de saúde à população", afirmou Carlos Maurício Barbosa no âmbito das comemorações do Dia do Farmacêutico 2011, que se iniciaram dia 23 de setembro e cuja sessão solene teve lugar hoje no Palácio do Freixo, no Porto.
Para o bastonário, e "por isso mesmo", aquelas unidades "reúnem condições para integrar a rede nacional de cuidados de saúde primários", estando o país a desperdiçar o seu "elevado potencial".
Defendeu ainda fazer "todo o sentido" desenvolver o "conceito de farmacêutico de família, com funções assistenciais de proximidade".
Distinguindo a "expertise dos farmacêuticos", o bastonário salientou o seu aproveitamento para "acompanhar as terapêuticas dos doentes, em particular os crónicos".
"Estou certo que os farmacêuticos portugueses saberão responder a mais este desafio com a competência e o mérito que lhes são justamente reconhecidos. O conceito de farmacêutico clínico faz todo o sentido", frisou.
Criticando a ausência do ministro da Saúde no Dia do Enfermeiro e a falta de resposta da tutela à proposta de Normas de Orientação Terapêutica apresentada pela Ordem, Carlos Maurício Barbosa salientou que a sua implementação seria um "contributo para a racionalização da prescrição, dispensa e utilização de medicamentos em ambulatório", tendo por objetivo "responder a necessidades cada vez mais urgentes do sistema de saúde português".
O objetivo destas orientações clínicas é o de contribuir para uma melhoria do nível de saúde da população portuguesa através de normas científicas relativas à terapêutica.
"A Ordem dos Farmacêuticos tem plena consciência da difícil situação em que se encontra o país e da necessidade imperiosa do controlo efetivo da despesa do Serviço Nacional de Saúde", sublinhou durante o seu discurso.
Destacou, porém, que "nos primeiros seis meses deste ano, a despesa do Estado com medicamentos em ambulatório diminuiu cerca de 160 milhões de euros", uma tendência que, garantiu, "mantém-se".





























Deixando a crítica ao mau gosto intragável comum a todos os textos escritos à luz do acordo ortográfico para outras núpcias, vale a pena conter o vómito e analisar a notícia. De facto, o Bastonário da OF promove a criação do conceito de "Farmacêutico de Família" e a sua integração na rede de CSP,  não porque exista essa necessidade (que não existe), não em função de uma estratégia de colaboração e coordenação com outros profissionais (que é urgente, indispensável e necessária), mas apenas porque os farmacêuticos são um recurso intelectual desperdiçado (o que é verdade).
Ou seja, em nome do próprio umbigo, a OF defende a criação de uma figura desnecessária e que, a ser criada, seria mais uma fonte de conflitualidade no SNS e não teria qualquer possibilidade de integrar efectivamente a rede de CSP.
Pior que uma sessão de autocomiseração num período difícil para os farmacêuticos é a sua própria Ordem, em vez de remar contra a maré, perder tempo a defender publicamente ideias absurdas, inviáveis, desnecessárias e que ocupam o espaço mediático que poderia estar reservado aos projectos com interesse efectivo para o país, para os doentes, para o SNS e, naturalmente, para os próprios farmacêuticos. 
A notícia tem, no entanto, dois aspectos positivos: o facto de se reconhecer e assumir implicitamente que o papel do farmacêutico na rede de CSP tem que ser repensado e a noção de que a farmácia clínica é a via para inverter o problema. Infelizmente, é pouco provável que esta conceptualização subliminar venha a servir para o que quer que seja, na medida em que duvido que o seu próprio autor a tenha compreendido plenamente...

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