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terça-feira, novembro 15, 2011

O Prós e Contras de ontem (que só consegui ver parcialmente) foi um penoso exercício de auto-flagelação. O bastonário da Ordem dos Médicos (BOM) expôs-se numa guerra que não poderia ganhar e da qual só poderia sair ferido. Mostrou falta de solidez científica, alguma desonestidade intelectual e não conseguiu descolar da imagem de associação aos interesses da indústria farmacêutica (IF). O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (BOF) aproveitou o tempo de antena para reivindicar uma medida que quando for aplicada será economicamente ruinosa para as farmácias, mostrou falta de urbanidade na forma pouco educada como conduziu o debate e reduziu os farmacêuticos, mais uma vez, a um grupo de profissionais essencialmente orientados para o lucro (pois todos sabem que os genéricos proporcionam margens muito superiores às dos restantes medicamentos - e a possibilidade de escolher o genérico ainda aumenta mais essa possibilidade).
No fundo, o BOM e o BOF perderam uma excelente oportunidade para estarem calados. Aliás, basta um olhar rápido pelo Facebook do Prós e Contras para perceber que, com a excepção dos comentários clubísticos, há um sentimento quase unânime de reprovação do triste espectáculo de ontem.
Ainda está para chegar o primeiro debate sobre genéricos que não me deixa irritado. Há apenas uma questão de base e à qual ainda ninguém me deu uma boa resposta: faz algum sentido exigirmos à IF níveis de rigor e modernização tecnológica elevadíssimos para no final dizermos que uma variação de 80% a 125% é perfeitamente aceitável e clinicamente irrelevante? Mesmo que o seja, não faz.

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Comments:
Se "os genéricos proporcionam margens muito superiores às dos restantes medicamentos" como pode a medida ser "economicamente ruinosa para as farmácias"?

Variação de 80 a 125% de Biodisponibilidade (e não teor em SA como ouço muita gente dizer) não é um limite exclusivo dos genéricos mas sim transversal a todos os medicamentos, como tal é tão clinicamente relevante para os genéricos como para os de marca. Daí ser de estranhar nunca ninguém levantar o mesmo problema no caso dos de marca.
 
Caro Azrael,

Embora preferisse não voltar a escrever sobre este assunto, tenho que reconhecer que o meu texto não é absolutamente claro e, como tal, os seus comentários são pertinentes.
Começo pela parte final: algures neste blogue, no arquivo de 2005 ou 2006, há um texto exactamente sobre a falta de lógica desta questão (que de facto é como refere: este limite também se aplica às marcas). No entanto, creio que em nome da honestidade intelectual teremos que reconhecer que, pelo menos no plano teórico, será menos provável haver variabilidade nas marcas que nos genéricos. Isto é, mesmo que o valor seja consistentemente 90% ou 85%, a verdade é que as diferenças entre lotes do mesmo produto serão seguramente menores que as diferenças entre produtos fabricados em locais distintos.
Quanto à primeira parte do seu comentário, é a mais fácil de explicar: neste momento os farmacêuticos têm as margens que têm nos genéricos porque a sua dispensa não é obrigatória (vai diminuir o esforço de "penetração" no mercado da IF, que deixará de ter que lutar contra a oposição dos médicos - esta passará a ser irrelevante) e os genéricos ainda são caros (isto é, ainda não está em vigor a regra da obrigatoriedade de disponibilidade de um dos 3 mais baratos).
Ou seja, é verdade que neste momento as margens são superiores às dos restantes fármacos e nesse sentido os genéricos ainda são economicamente mais atraentes. No entanto, no futuro estes medicamentos serão bastante mais baratos que os que se vendem actualmente (leia-se, que os líderes de mercado em cada PA), pelo que não haverá margens que compensem esta redução dos preços. Além disso, as margens vão baixar, vão incidir sobre valores menores e a partir de um determinado valor serão substituídas por um fee, pelo que também aqui o efeito de margens dos genéricos se diluirá.
Ou seja, daqui a pouco tempo os farmacêuticos estarão a vender medicamentos muito mais baratos e sem margem capaz de compensar a redução de preços. E isso será economicamente ruinoso.
 
Percebo o seu ponto de vista e enquato o INFARMED continuar a não divulgar os números (e faz bem, no meu entender) da BD não teremos uma base para ter certeza sobre essa eventual variabilidade.

No entanto, se tivermos um raciocínio puramente factual, apesar de à primeira vista parecer que há uma maior probabilidade de as marcas apresentarem uma maior consistência nos limites de BD, a verdade é que não têm que ter. Provavelmente umas têm e outras não. Até porque esses limites são usados há anos sempre que, por exemplo, uma marca muda um excipiente (relativamente frequente) como forma de comprovar a sua bioequivalência com a formulação anterior/original. Foi, aliás, um conceito que não foi inventado para os genéricos pois já era usado para os de marca antes desses existirem.

Quanto ao local de fabrico, de facto é uma variável, mas parece-me ter tanto impacto em genéricos como em originais. Para sabermos isso ao certo seria precisa uma análise muito mais profunda.

Isto tudo para concluir o seguinte: se desde há anos que tanto genéricos como originais se guiam por estes limites, aparentemente, sem problemas, porquê pô-los em causa agora e só no caso dos genéricos? Penso que seria mais útil estudar e tirar conclusões sobre a relevância clínica (como disse e muito bem) decorrente da existência destes limites, seja para genéricos ou para inovadores.

Relativamente à segunda parte, tenho que concordar com o seu ponto de vista e a sua explicação. Mas pergunto eu, haveria outra saída? O custo de manter uma factura do SNS tão alta não seria também uma ameaça e mais um "argumento" para cortar margens e desregulamentar, talvez de forma ainda mais ruinosa?

Por outro lado, apesar de a preferência da prescrição não precisar mais de ser disputada (€ gastos na actual propaganda poderão ser convertidos em condições comerciais), a preferência nas compras pode ainda estar sujeita às condições comerciais oferecidas à farmácia (pelo menos a curto/médio prazo). Concorda?

No meio disto tudo, o fee de dispensa parece-me ser o que poderá minimizar esse efeito ruinoso.
 
Sinto-me esmagado (aliás, esmigalhado) com o seu comentário, Azrael. Só não serei tão optimista em relação à migração dos benefícios de "divulgação" dos consultórios médicos para as farmácias, dada a pressão deflacionista induzida pela nova lei.
De qualquer modo, subscrevo inteiramente tudo o resto!
 
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