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quinta-feira, dezembro 08, 2011

O Prof. Pedro Pita Barros escreveu este texto nos seus Momentos Económicos:


Há dias, em conversa com um dos meus colegas que mais tem olhado para a situação macroeconómica portuguesa, Francesco Franco, e que tem contribuído para a discussão através do blog The Portuguese Economy, chamou-me a atenção para um artigo de Guido Tabellini, um dos economistas italianos mais importantes, em que refere o seguinte:
“At the time of writing, last week’s auction of German government bonds remains unsold. This is the latest confirmation of what is now widespread distrust. Yet, paradoxically, this could also help to unblock the situation, for two reasons:
  1. First, it has made clear to everyone that, despite its rhetoric, theBundesbank actually continues to act as lender of last resort, at least temporarily, to the German state. The securities that remained unsold at the auction were absorbed by the Bundesbank, which has always played this role to ensure the liquidity of German securities.
  2. Second, this event could bring forward the point where even the ECB is convinced that financial stability comes before price stability. If the German central bank is forced to keep unsold debt on the balance sheet of its state, it means that it is time for a change in monetary policy. Not only cutting interest rates more decisively, but facilitating the purchase of government bonds in a policy of quantitative easing similar to that adopted long ago by the US Federal Reserve to support the economy and provide liquidity.”
o artigo completo pode ser lido aqui.
Não devemos menosprezar a importância do que aqui está dito:
1. A Alemanha já tem um mecanismo que cumpre o papel que a própria Alemanha não quer dar a potenciais instrumentos para toda a zona euro – “lender of last resort” – seja através do BCE ou de outra forma.
2. Se a Alemanha tem este mecanismo, nada impede que os outros países o possam simplesmente replicar, e assim toda a zona euro poderá beneficiar de uma das medidas apontadas como sendo necessárias – um “lender of last resort” que actua através do banco central de cada país absorvendo a dívida que não for colocada à taxa de juro pretendida.
3. Não deixa de ser surpresa como esta característica tem passado despercebida na discussão europeia, revelando falta de análise técnica e excesso de preocupação política. Pelos vistos, as soluções até já estavam a ser usadas desde há algum tempo pelo banco central alemão. O que tem impedido os outros países de copiar, simplesmente copiar, o esquema alemão?
4. A existência deste mecanismo alemão (é bom repetir que é alemão) mostra, por preferência revelada, a importância da estabilidade financeira, e será que a Alemanha quer pedir ao ECB e aos outros bancos centrais que tenham um comportamento diferente do que ela própria adopta na condução da sua política macroeconómica.
Não sendo especialista de Macroeconomia, pode-me estar a falhar aqui algum aspecto essencial, e por isso seria interessante que este ponto levantado por Tabellini merecesse atenção e discussão, por académicos, mas também por quem tem a condução da política económica em Portugal.
(post gémeo com No Reino da Dinamarca)
Eu comentei assim:

Será que por exemplo o BdP teria liquidez para poder ser “lender of last resort”?
No fundo, a questão é que o Banco Central Alemão provavelmente consegue ir ao mercado com taxas de juro de 1% (ou algo do género) ou então tem reservas de uma dimensão incomparável com as dos outros países… e aí é fácil ser “lender of last resort”
A questão principal, sobre a qual escrevi pela primeira vez em Novembro de 2010 (quando os juros portugueses atingiram uns na altura impensáveis 6,3% ), é o que é referido na parte final do texto: este mesmo problema já aconteceu aos EUA há algum tempo (e mesmo antes da crise o Fed – ainda na governação de Greenspan – inteligentemente teve capacidade de o prevenir) e na Europa decidimos não imitar uma solução que provou resultar. Porquê? Simplesmente porque na Europa não há qualquer sentimento de solidariedade entre países e o Euro não é a moeda dos 17, mas sim uma moeda franco-alemã que estes países decidiram partilhar com 15 trouxas para ganhar escala face ao dólar.
Ou seja, para que o problema do Euro se resolva (e a solução é óbvia – emissão de moeda e garantia ilimitada do BCE sobre as dívidas públicas da zona Euro) é necessário que os únicos verdadeiros membros da zona Euro (leia-se, França e Alemanha) tenham problemas. O que, felizmente, já está a começar a acontecer.
Bottom line, esta ainda não parece ser uma questão técnica do ponto de vista macroeconómico, mas apenas um problema político que resulta duma retorcida interpretação geoestratégica do eixo Paris-Berlim, que a determinada altura precisou de uma ferramenta para de alguma forma condicionar Washington, Londres, Moscovo e Pequim. Essa ferramenta chama-se Euro e um dia destes vai acabar. Como moeda ou como ferramenta, é o que falta perceber.

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