sábado, janeiro 07, 2012
A decisão da família Soares dos Santos é provavelmente óbvia do ponto de vista empresarial e natural num contexto de economia global. O problema é que veio num timing péssimo e a partir de alguém que prega publicamente um moralismo que hoje sabemos ser profundamente hipócrita.
Pior que quaisquer argumentos de ordem económica, fiscal ou de fuga à responsabilidade social que possam existir na questão-Jerónimo Martins, o que verdadeiramente chateia é esta sensação de ratos a abandonar o navio.
A atitude das grandes superfícies comerciais com os seus empregados e fornecedores é conhecida desde há muito e profundamente lamentável. No entanto, quando os vemos a cuspir no mesmo prato, perdão, no mesmo país, que sempre os alimentou não podemos deixar de nos indignar. Soares dos Santos teve apenas o azar de ser o exemplar que estava mais à mão numa fase em que as pessoas estão um pouco mais irritadas. Porque na verdade todos os outros que fazem o mesmo merecem igual indignação.
PS1 - Numa perspectiva um pouco mais séria, há que questionar a eficácia da nossa política fiscal. Se é "fiscalmente neutro" viver-se em Portugal ou na Holanda, então porque é que alguma empresa haveria de vir ou ficar por cá, dada a instabilidade actualmente existente?
PS2 - Embora seja a esquerda quem mais se indignou com a mudança da JM, na verdade este é um caso que deveria preocupar especialmente a direita que defende um menor peso do Estado e uma política fiscal mais leve e competitiva.
PS3 e conclusão: o povo está certo na indignação, mas errado quanto aos motivos que a justificam.
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