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sexta-feira, junho 15, 2012

Alegria 


Ontem à noite, no final do Espanha-Irlanda, as imagens televisivas mostraram que a maior parte dos adeptos irlandeses continuavam a sorrir, a dançar e a cantar, mesmo depois da sua selecção levar um monumental banho de bola e perder por 4-0.
É relativamente fácil - e também justo, reconheça-se - atribuir esta alegria ao desportivismo e fair-play tradicionais dos irlandeses. No entanto, creio que as explicações por trás deste fenómeno são um pouco mais fundas e acabam por explicar muito do que se passa hoje na Europa.
De facto, os irlandeses reagiram daquela forma à derrota da sua equipa por duas razões fundamentais: porque são pessoas felizes e sabem que o futebol é apenas um jogo, que serve para descontrair e abstrair do dia-a-dia e sobretudo porque sabem que só vivemos uma vez e por isso devemos aproveitar ao máximo cada segundo que por cá passamos.
Este Irish way of life, que retira da vida o que de melhor esta tem para oferecer é algo que é também partilhado, embora de forma e estilo um pouco diferentes, pelos povos do sul da Europa. Basta viajar pelo Sul de Itália, por Espanha, pela Grécia e sim, também por Portugal, para perceber que estes são, com toda a probabilidade, os povos mais felizes da Europa, os que melhor aproveitam a vida, os que sabem relativizar as coisas e também os que perdem menos tempo a tentar disciplinar os outros.
Está-se mesmo a ver onde é que este texto vai chegar. Sim, estes são também os países que a Europa não protege quando são atacados e a quem a Alemanha e outros que tais emprestam com juros de 5,5% o dinheiro que obtêm nos mercados com taxas de juro nulas ou mesmo negativas.
Hoje a Europa está dividida ao meio - de um lado estão os que escolheram a bolsa e do outro os que escolheram a vida. Fora disto estão os ingleses, que à sua maneira sempre souberam preservar as duas coisas.
Enfim, a retórica do rigor, da exigência e da austeridade está a servir de pretexto aos ressabiados da tristeza para tentar atrair os outros para o cinzentismo em que vivem os copinhos de leite do Norte da Europa. Historicamente, é a terceira vez que o tentam. As duas tentativas anteriores acabaram em guerras mundiais, na derrota dos primeiros e na celebração dos segundos.
No próximo domingo, 98 anos menos 11 dias depois do jovem Gavrilo Princip ter disparado um tiro que desencadeou uma série de acontecimentos que acabaram, em última análise, por resultar em duas guerras mundiais, a versão grega do bloco de esquerda vai dar outro tiro, o de partida para algo que seguramente vai ter consequências imprevisíveis.
Não sabemos o que vai acontecer a seguir, mas apenas que nada ficará como antes na Europa.
Entretanto, há um pequeno problema de calendário - as eleições gregas são no dia do Portugal-Holanda e por isso estamos todos basicamente nas tintas para o que se possa passar em Atenas.

(este é o texto da crónica da RVR que supostamente deveria ter ido hoje para o ar - no entanto, uma pequena confusão na calendarização dos meus textos fez com que a minha nova crónica só tenha que ser emitida daqui a 15 dias, ficando este texto outdated...)

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