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sábado, setembro 08, 2012

É nestas alturas de choro público da nação que mais apetece desconversar. E por isso cá fica a minha crónica desta semana na RVR:


Se contarmos com os anos de namoro, posso dizer que estou fora do mercado relacional há
mais de 16 anos. Neste momento sou um completo leigo na matéria, tão ignorante que chega
a ser difícil formular opiniões para dar aos amigos que se mantêm no activo. Não faço a menor
ideia de qual o momento adequado para pedir o telemóvel ou sequer ou e-mail a uma miúda e
muito menos imagino a melhor forma de o fazer. Não sei sequer se isso é normal, demasiado
invasivo ou eventualmente até impensável. Pior ainda, não tenho qualquer noção sobre em
que fase é que se adiciona a pretendida como amiga no Facebook, não sei quanto tempo é que
é expectável esperar para que o pedido seja aceite, nem interpretar o significado de eventuais
demoras. Não sei também se é usual pesquisar alguém no Google, Twitter, Facebook ou
Instagram ou se isso parece o acto de um stalker desesperado. Também não tenho qualquer
dado que me permita determinar quando é que alguém deve meter conversa no chat do
Facebook, Gmail ou Messenger e se o deve fazer por escrito ou sob a forma de videochamada.
Mais complexa ainda deve ser a decisão de alterar o estado no Facebook para “numa relação”.
Isso parece-me claramente um passo significativo, talvez até maior que o que antigamente
dávamos ao apresentar as namoradas à família ou pior, ao irmos jantar a casa delas. É que,
além da imediata e responsabilizante exibição pública da relação, haverá sempre o risco da
falta de reciprocidade e consequente exposição pública ao ridículo.
Enfim, sou de facto um felizardo, pois os tempos actuais parecem-me muitíssimo mais
complicados que os de antigamente, em que as coisas se resolviam de uma forma quase
ingénua e muito mais simples.
Vem esta reflexão a propósito de algumas conversas que tive nos últimos dias. De um lado
estavam raparigas jovens, bonitas, inteligentes, sem qualquer compromisso sentimental e que,
perante o avançar da terceira década de vida, começam a sentir o stress inerente à situação e
a tratar qualquer homem e relacionamento com uma seriedade e expectativas absolutamente
impensáveis e até contraproducentes. Do outro lado estava eu, travestido de velho lobo do
mar, mas na realidade apenas um imberbe com alguma idade, a quem eram pedidos conselhos
em nome de uma sabedoria que claramente não tenho.
O outro motivo para ter escrito este texto aconteceu esta semana, quando de uma forma um
pouco inesperada me vi no meio de duas festas populares, uma no Norte e outra no Sul do
país. Embora separadas pela geografia e costumes locais, as características eram as mesmas:
em ambos os casos as pessoas circulavam pelas ruas com uma certa avidez luxuriante, quase
que competindo exibicionisticamente pelo título de indivíduo que vive a festa de modo mais
radical e intenso, troféu esse a adquirir pela via da partilha nas redes sociais do melhor, quer
dizer do pior, conjunto de fotografias, likes e comentários em geral. Procuram claramente
alguém, mas só o querem se todos souberem que o encontraram.
Fazem-no por causa da crise ou para compensar um qualquer vazio existencial, cuja explicação
está sedimentada numa complexa teoria interpretativa psicológica? Não me parece. Fazem-no
apenas porque, tal como eu e as raparigas do parágrafo anterior, não perceberam ainda como
é que se vive neste novo planeta.

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