quinta-feira, outubro 18, 2012
Saída de Emergência
Mais
do que escrever sobre a crise, há que procurar perceber o que se passa neste
momento na Europa e em Portugal.
Comecemos
pelo princípio: a UE tal como a conhecemos resultou essencialmente de um
projecto económico inicial (a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), que mais tarde,
sob forte impulso do famoso plano Marshall norte-americano, se transformou
numa inteligentíssima forma de manter a paz na Europa (que até essa altura
tinha sido o epicentro de todas as guerras) e, pela via do progresso económico,
serviria ainda de tampão à progressão da influência russa e à proliferação de
países aderentes ao pacto de Varsóvia.
A
ideia foi de facto genial e muito bem sucedida: a Europa progrediu, a
influência russa foi circunscrita e mesmo os alemães, a maior fonte de problemas
dos 100 anos anteriores, estavam domesticados e já nem sequer tinham um
exército digno desse nome (pelo menos em comparação com ingleses e franceses). A criação da UE, que
na verdade foi o maior êxito de sempre da política externa norte-americana,
teve o seu ponto mais alto no final da década de 80, com a queda em dominó do
bloco de leste e a unificação alemã.
Paradoxalmente,
o corolário de um enorme êxito acabou por originar uma irónica e muito infeliz
inversão da história, qual pescadinha cujo rabo não pode fugir à boca: a Alemanha reunificada sentiu-se forte, territorial e
populacionalmente, e quis ganhar escala face aos restantes grandes players mundiais também na área económica. E, grosso modo, foi assim que nasceu o Euro.
Por
estarem escaldados com um muito mal sucedido pacto cambial entre a libra e o
marco que eles próprios tiveram que romper unilateralmente e porque sempre
desconfiaram de franceses, alemães e sobretudo de franceses e alemães juntos, os
ingleses ficaram de fora, juntamente com todos os que viviam bem na Europa (leia-se os
países nórdicos, com a excepção da fábrica de telemóveis).
O
resto da história todos a conhecemos, infelizmente cada vez melhor. A Alemanha
precisa de países pobres (que sejam e continuem pobres) no Euro para evitar que este se valorize
excessivamente, pois esta é a única forma de poder continuar a exportar. Esta necessidade empírica e o
moralismo supremacista que sobrou dos herdeiros do nazismo criou o caldo
cultural que fez nascer politicamente a chanceler Merkel e que hoje domina e determina a política europeia.
E pronto, chegámos aqui. Tal como em 1938, a Europa divide-se entre os colaboracionistas,
os dominados por fantoches nazis e os idiotas que nem sequer percebem que estão
a ser instrumentalizados.
Enquanto
forem só os judeus, perdão, os otários do Sul da Europa a sofrerem as
consequências do problema, tudo ficará na mesma, até que alguém se lembre do
que fizeram ao Arquiduque Francisco Ferdinando ou então apareça quem tenha
coragem de encarar o problema de frente. O que, no caso português, significa
sair do Euro já, de preferência de modo a desencadear uma cascata de
acontecimentos semelhantes, género primavera árabe, que finalmente rebentem com
a moeda única, devolvendo a capacidade de fazer política cambial a cada país e
a soberania a quem formalmente nunca a perdeu. A saída de Portugal aumentaria a exposição da Grécia, Espanha e Itália - que cairiam em série e muito rapidamente, abanando inclusive os países do centro. O caso de Espanha seria particularmente grave, dadas as ligações do sistema bancário espanhol à América do Sul e desta aos EUA.
Ou seja, o Euro não sobreviveria à saída de Portugal (que devido às ligações a Espanha é muito mais importante que a Grécia). Deste modo, a tal queda de 40% no PIB não ocorreria, pois a dívida não continuaria a ser em Euros - uma vez que em 6 meses o Euro desapareceria.
É arriscado? Sem dúvida. É mais arriscado que o que estamos a fazer? Provavelmente não - e teria uma vantagem: seria um excelente instrumento de chantagem para obrigar o BCE a ligar as impressoras e desta forma acabar com a crise.
PS - Este texto é parecido com a minha crónica de hoje da RVR, mas não é igual.
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