terça-feira, março 20, 2007
A Fénix Renasceu
O José Cláudio escreveu um bom texto sobre Paulo Portas e o CDS.
No entanto, não concordo.
Aliás, o CDS é um dos meus partidos favoritos. Se não fosse um partido democrata-cristão, seguramente que teria em mim um adepto convicto!
Há qualquer coisa de encantador no CDS, um partido em que as principais figuras são indivíduos que ou não precisam da política para viver (Pires de Lima, Lobo Xavier, Nobre Guedes), ou que tiveram uma carreira profissional sólida antes de chegarem à política (aqui o melhor exemplo é mesmo o próprio Portas, um dos mais estimulantes jornalistas/comentadores/agitadores da história recente, embora haja outros, como o casal Nogueira Pinto ou Celeste Cardona). Mesmo quando se decidiram dedicar à política, os militantes do CDS escolheram a via mais difícil: em vez da natural militância no PSD, optaram por um partido que vale 4% ou 5% dos votos e que há anos que luta desesperadamente para não desaparecer do mapa.
Perante tanta independência e desprendimento, qual é o resultado? O caos, pois claro, bem retratado na brilhante comparação do José Cláudio, em que de facto o final de uma reunião política mais parecia o túnel de acesso ao relvado de qualquer estádio da segunda divisão argentina. Aliás, tenho a certeza de que se David Navarro ou Materazzi fossem portugueses, seguramente seriam militantes do CDS.
Em relação a Portas, é de longe o meu político preferido: intelectualmente muito mais interessante que qualquer um dos principais rostos do bloco central, menos moralista que Louçã e muito mais elitista que Jerónimo.
Portas tem a notável capacidade de encarnar personagens políticos, consistentes e bem definidos, que assume na plenitude: o Paulinho das Feiras deu lugar ao estadista do Ministério da Defesa, que saiu para regressar transfigurado em bom vivant blasé, de camisa desapertada e tez bronzeada, claramente a caminho do liberalismo e deixando a religião na gaveta, provada que foi a sua inutilidade política (nomeadamente no referendo do aborto).
Infelizmente, as pessoas que não dependem totalmente da política e dos jogos de amiguismos subjacentes estão quase todas na vida pública principalmente por três razões: volúpia pelo poder, mau feitio e gosto pelo som da própria voz. Aparentemente foi uma conjugação destes três factores que conduziu aos acontecimentos do Concelho Nacional do CDS. Melhor ainda. Portas gosta do dramatismo e de lutas suadas. Com jeito, sairá dali com a nobreza de princípios de um ex-líder e um partido de consciência pesada a seus pés.
Ao contrário do José Cláudio, acredito que a Fénix renasceu pela milésima vez.
Etiquetas: Política Nacional
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