segunda-feira, junho 18, 2007
Em contra-ciclo
Esta campanha para a eleição na Ordem dos Farmacêuticos evidenciou o que há muito temia: um grupo societário de mal consigo próprio sem perceber porquê.
Determinadíssimo e muito forte na defesa daquilo que a sociedade tem sistematicamente vindo a rejeitar - grupos que se pretendem impor à custa de valores que a sociedade já não percebe nem assume como seus -, mas muito frágil na captação de reconhecimentos exteriores que alavaquem a sua projecção sócio-política: procurar encher o tanque pelo ralo do escoamento constituiu um traço comum a muitas mensagens "oficiais" de campanha, e a muitos comentários "bloguísticos".
Pena que assim seja !
O mais pequeno esgar de proposta intelectualmente mais elaborada ou foi alvo de plágio, ou foi alvo de desdém.
Exigia-se a qualquer candidato que não fizesse apelo a sentimentos primários nem a ressentimentos indesejáveis. Infelizmente a campanha de Irene Silveira em nada ultrapassou esta pobre parametrização. Penso que não o fez por mal, mas simplesmente porque agiu tal como é.
O roubo de ideias foi aqui, mais de que um plágio, uma demonstração de incontida vaidade. Um outro eixo determinante de uma candidatura que deveria incomodar as meninges funcionantes.
Mas a cosmética eleitoral não disfarça o misticismo integralista que subjaz a um pretenso discurso de mudança. Assim foi também em 28 de Maio de 1926.
E é precisamente aí que residem os maiores riscos: o fenómeno da refracção na política.
A 1ª República finou-se porque apostou na defesa das colónias. Daí a participação na 1ª Grande Guerra que lhe foi política, económica e financeiramente fatal.
A 2ª República caiu porque insistiu na defesa das colónias. Daí a Guerra colonial que lhe foi politicamente fatal.
Quem tinha razão ? Eram os Homens do 28 de Maio progressistas ? Eram os pais da 1ª República conservadores ?
A motivações aparentemente iguais nem sempre correspondem causas semelhantes.
O fenómeno Irene Silveira nada tem a ver com outras eleições em que dois candidatos se defrontaram. O fenómeno Irene Silveira é um sinal da uma crise mais profunda: o da existência de uma corrente de pensamento e de opinião em contra-ciclo com a história.
Mas não foi Portugal sempre assim ?
Ordem para Intervir
Etiquetas: Farmácia