quinta-feira, junho 14, 2007
DIA DO MUNICÍPIO
13.Junho.2007
Comemora-se hoje o dia do município.
Justamente no dia 13 de Junho, dia de Santo António, uma data de raiz religiosa que o município adoptou para seu feriado municipal.
Compreende-se que assim seja e deseja-se que assim se mantenha.
Estarreja terá certamente uma riqueza histórica importante, no entanto pouco dela se sabe. Algumas investigações – quase sempre amadoras ou obtidas por via indirecta – reflectem apenas lampejos de uma história muito pouco conhecida, mais especulada do que rigorosa.
Ainda que indiscutivelmente rica, está por saber muito daquilo que é a história desta terra.
A data de outorga do Foral Manuelino - no dia 15 de Novembro de 1519 - aparece como um dado do nosso passado que alguns tentaram sugerir como a efeméride sobre a qual de deveria celebrar o dia do município.
Sem querer entrar em polémicas, não nos parece necessário que a tradição consolidada venha agora dar lugar a outras datas ou a criar factos onde eles não existem. Comemore-se, pois, o foral, na sua data própria, com a dignidade que a ocasião exige, mas na balança da importância voltemo-nos mais para o respeito para com as gerações passadas, que souberam criar e manter a tradição, continuando a comemorar, como sempre, este dia 13 de Junho, dia de Santo António, como o dia do nosso município.
Numa época em que, não raras vezes, os feriados nacionais são desrespeitados e ignorados a favor do interesse comercial de alguns – falo dos exemplos recentes da autorização da realização dos mercados em dias de feriado nacionais, como o 1º de Maio, por exemplo – muito mau seria, sobretudo para as novas gerações, este novo exemplo de desprezo para com o passado, deitando-se fora a tradição secular de comemoração do Feriado Municipal de Estarreja neste dia.
O respeito pelos valores saudáveis do nosso passado, mais do que um legado que importa trazer às novas gerações, constitui uma obrigação de todos nós, como parte da sua educação e formação cívica.
Este é, pois, um dia de Festa e é por isso que aqui nos reunimos.
Nós, os políticos eleitos, aqueles que, tendo-se disponibilizado e sujeitado a uma eleição, têm agora a responsabilidade da condução dos destinos de Estarreja. Uns, o do executivo, cuja obrigação é governarem bem, assumindo os compromissos com os quais se comprometeram; e os outros, os dos órgãos deliberativos, cuja obrigação é deliberar e fiscalizar, com a liberdade e a honestidade de dizer, claramente, como fariam se estivessem no lugar dos primeiros.
É isto a democracia, é isto a liberdade, é isto a política, base sobre a qual seria bom e desejável que todos nos entendêssemos, sem margens para dúvidas.
E é, também por isso, que hoje homenageamos aqueles que pela primeira vez foram eleitos depois do 25 de Abril.
Associando-nos naturalmente a esta homenagem, partilhando do seu simbolismo, gostaríamos de dizer, contudo, que é importante não esquecermos que a construção da democracia e da liberdade não se esgotaram nesse momento inicial.
Depois destes autarcas, que com o seu trabalho, fazendo aquilo que puderam, conforme puderam e souberam, contribuíram para a consolidação democrática e para o desenvolvimento do concelho, muitos outros autarcas, igualmente empenhados e laboriosos, se lhes seguiram.
E nesta hora em que homenageamos os primeiros, não pudemos esquecer os segundos, aos quais tanto deve o árduo trabalho de consolidação democrática e de prossecução de desenvolvimento de Estarreja.
Estarreja hoje é o espelho do que correu bem e do que não correu tão bem nestes últimos trinta anos de poder autárquico. Afinal como todas as terras. O reflexo de quem nos governou está espelhado de forma indelével, de norte a sul do país. Se é certo que as condições de vida das populações melhoraram muito consideravelmente, em Portugal, nos últimos trinta anos, não menos certo é que o estado actual de cada uma das localidades reflecte bem a competência de quem a governou e governa.
Se há quem pense que a democracia é apenas o meio de obter o poder de exercer poder a todo o custo, desengane-se. Em democracia quem exerce o poder tem que ter a percepção de que o seu exercício é, antes de mais, uma missão ao serviço dos mais elementares interesses da população, essa mesma população que escolhe e que elege. Só assim é possível haver confiança nos eleitos, só assim é possível haver vontade popular na participação democrática.
É justamente por haver quem se engane neste conceito de poder – julgando que pode ser déspota em democracia ou, por qualquer deformação, não saber lidar com os instrumentos de poder – que hoje em dia os políticos têm a imagem negativa que diariamente teima em fazer primeiras páginas de jornais e aberturas de telejornais.
A nobre função política – diria antes a nobre missão política –, ostenta hoje uma imagem pública que vive muito dos actos da gente que a exerce e exerceu. Como noutras funções, a política tem a sua gente sem escrúpulos, que vive apenas para o seu egoísmo, para a sua vaidade ou, pior do que tudo, para o seu próprio benefício material. O poder local, pelo que hoje se vê e ouve, está a tornar-se uma vítima disso mesmo. Mas o que hoje se fala de forma tão clara na comunicação social, mais não é do que o culminar de anos e anos em que as coisas iam acontecendo sem que delas a população tivesse percepção, unicamente porque não transpareciam na comunicação social, o que não significa que não existissem. O caciquismo, os favores que tolhem a liberdade de uns e de outros, a falta de transparência das condutas, algum dia teriam de dar mau resultado. E neste quadro, é a própria democracia que está em risco. Quando os cidadãos não acreditam nos políticos é mau para todos, porque não é possível viver em sociedade sem que haja quem governe.
Mas a política, é bom não esquecer, também é feita por muita gente honrada e competente. Gente que pode e anda na rua de cara levantada, que defende as suas ideias com elevação, que não tem medo, que luta pelos valores em que acredita e que acredita na tal missão que não se compadece com corrupção ou com obtenção de vantagens materiais.
É nestes políticos que reside a esperança do nosso sistema democrático e a construção democrática que se vai fazendo no dia-a-dia, para que os cidadãos sintam vontade de participar civicamente na gestão dos destinos da sua terra e possam ser agentes de mudança.
Nestes políticos reside a esperança de uma radical mudança da imagem negativa que teima em transparecer.
Todos nós temos aqui um papel de grande importância a desempenhar. Sempre na consciência de que ninguém na política pode ter verdadeira liberdade se dela, nalgum momento, prescindir.
Permitam-me, assim, que enalteça o momento que aqui se vive hoje, cujo sentido é de grande simbolismo.
Homenagear os primeiros autarcas eleitos é uma simbólica homenagem a todos os autarcas eleitos no pós-25 de Abril. É assim que interpretamos esta homenagem.
Faria porventura sentido que todos eles aqui estivessem sentados. Presidentes de Câmara, vereadores, Presidentes de Assembleia Municipal, Deputados Municipais, Presidentes de Junta, Deputados das Assembleias de Freguesia…
Aquilo que a nossa terra é, hoje em dia, a todos eles o devemos. Aos primeiros, é certo, que tiveram a felicidade histórica de ali estarem no momento da primeira eleição, mas também aos que lhes seguiram. Estarreja é hoje, em tudo, para o bem e para o mal, a imagem do trabalho de muita gente ao longo dos anos.
Mas permitam-me a inserção de um parêntese para dizer que antes das eleições livres, houve um momento a seguir ao dia 25 de Abril de 1974, em que foi necessário desbravar o terreno para a realização dessas mesmas eleições livres, em democracia. E nesse espaço de tempo de ano e meio – sensivelmente, entre Abril de 1974 e 1976 –, houve que tomar conta dos destinos desta terra, tendo essa missão sido desempenhada por uma Comissão Administrativa de estarrejenses que, neste momento de festa e de homenagem, não pode nem deve ser esquecida. O trabalho desses homens foi igualmente um trabalho de construção democrática, um trabalho preparatório notável que contribuiu para a estabilização política do município e do país e para a realização de eleições livres.
A Comissão Administrativa, não pode por isso ser esquecida e é nosso dever moral aqui assinalar o seu trabalho.
Antes de terminar, quero salientar o trabalho e o esforço destes jovens atletas naturais de Estarreja que merecem o voto de louvor de todos nós. Sendo certo que o sítio onde cada um nasce, cresce e vive pode condicionar decisivamente o seu futuro, eles são o exemplo de que é possível atingir-se projecção nacional a partir de Estarreja.
Cada um deles conseguiu-o por si, por ter aptidões naturais concerteza, mas não tenho dúvidas que o seu sucesso também se deve a outros que lhe deram a oportunidade de crescer nas suas modalidades, tantas vezes os seus treinadores, os pais e outros familiares, que também devem ser louvados.
Cada um dos atletas, concerteza, que ainda nos trará mais motivos de orgulho. Mas gostava de salientar que são um símbolo de confiança para o município. Eles acreditaram e por isso conseguiram. E vão conseguir muito mais.
A nota final quero dirigi-la à única mulher que hoje aqui está a ser formalmente homenageada: a Exmª Srª Dª Maria de Lurdes Breu.
Não nos revíamos no projecto político que, juntamente com o seu partido – o PPD -, preconizava para Estarreja. Essa foi até uma das razões pelas quais, pessoalmente, me filiei no Partido Socialista, na época a terceira força política do concelho.
Mas para lá das opções políticas que cada um toma enquanto exerce o poder, está a pessoa que o detém. Quando os mandatos terminam, nem sempre sobra consideração por quem exerceu esse mesmo poder. Não é este o caso.
Se hoje ainda não é fácil para uma mulher exercer uma actividade política ou um cargo político; se hoje é ainda difícil uma mulher fazer-se ouvir verdadeiramente antes da inevitabilidade do descrédito a que as suas primeiras intervenções estão, normalmente, condenadas; se hoje é difícil a qualquer mulher afirmar-se politicamente sem que antes tenha de dar, mais do que qualquer homem, provas da sua determinação, do seu valor, da sua coragem; se hoje é difícil mostrar que à mulher está reservado muito mais do que meras funções secundárias com que muitos na nossa sociedade ainda a vêm… imagina-se como seria em 1976, numa terra com as características de Estarreja.
Ter conseguido impor-se nessa eleição e, depois disso, ter conseguido ser Presidente de Câmara durante 16 anos, é hoje um facto indesmentível de tenacidade, inteligência e uma demonstração clara de muito valor pessoal.
A Exmª Srª Dª Maria de Lurdes Breu teve de ser uma mulher especial.
E é a esta mulher especial, que presto, particularmente, esta homenagem.
O poder local, estou certa, será também, cada vez mais, um espaço de igualdade de oportunidades e de direitos, isento de discriminações, como aquele que queremos que seja, afinal, a sociedade no seu todo.
Neste dia de festa, fazemos votos para que cada um de nós acredite que é possível fazer sempre mais e melhor. Que cada um de nós trabalhe e lute para que Estarreja possa ser um local de felicidade para o próprio país. E que cada um nunca se resigne perante as dificuldades da vida, como os nossos atletas, nem perante as dificuldades que o país atravessa. O esforço de cada um pode não conseguir transformar o mundo. Mas se cada um fizer o seu melhor, concerteza o futuro de todos será mais sorridente.
Etiquetas: Política Estarrejense