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sexta-feira, julho 20, 2007

Ainda não tinha escrito sobre as eleições de Lisboa.
Em primeiro lugar, o reconhecimento de que me enganei: Negrão teve menos votos que Carmona, algo que nunca imaginei que fosse possível.
Mas vamos aos factos interessantes (estou convencido de que os resultados destas eleições foram representativos do que realmente se passa no país):
- A soma dos votos da direita dá 36,14% (Carmona + PSD + CDS), ou seja, mais que o PS (29,54%);
- PSD + Carmona também têm mais votos que o PS: 32,44% contra 29,54%;
- No entanto, se considerarmos que o PS também inclui Helena Roseta (10,21%), ficaríamos com 39,75% contra os 36,14% da direita;
- Por outro lado, Roseta e Carmona juntos valem 26,91%, bem mais que o PSD (15,74%) e apenas menos 2,6% que o PS;
- À esquerda do PS há 16,34% de votos (mais que o PSD sem Carmona...)!
Ou seja, podem tirar-se algumas conclusões curiosas:
- Por comparação com os 21% de Manuel Alegre nas presidenciais, aumentou quase 6% a votação em candidatos apartidários. Ou seja, há claramente uma vontade do eleitorado "central" em procurar novas soluções eleitorais - a isto chama-se um nicho de mercado eleitoral, que Santana Lopes já dá sinais de pretender vir a ocupar. Penso que pelo menos é indiscutível que neste momento há espaço para pelo menos mais um partido na zona central do espectro político;
- É notável a fixação de votos à esquerda do PS: há muito que a CDU provou que não desce dos 7 ou 8% (mas pode subir até aos 10%) e o Bloco de Esquerda nem com Sá Fernandes tem menos de 6%. Ou seja, dificilmente o PS poderá crescer para outro lado que não a direita do eleitorado;
- Por outro lado, é impressionante o tempo que o PSD e o CDS estão a passar no seu caroço eleitoral (nível de votação apenas garantido pelos militantes indefectíveis, abaixo do qual é praticamente impossível descerem), o que demonstra uma preocupante (na perspectiva dos próprios) incapacidade de crescimento;
- O PS mantém uma votação apenas ligeiramente inferior à que elegeu Sócrates em 2005. No entanto, há um evidente descontentamento de uma percentagem bastante significativa do eleitorado socialista (os 10% de Helena Roseta), que se for perdida para um novo movimento partidário poderá criar um problema grave ao partido, pois este já não tem muito por onde crescer: a esquerda fixou 16% de votos e PSD e CDS já estão no caroço. Além disso, não me parece que os 16% de Carmona algum dia aceitem votar no PS...

Assim, e com toda a dose de teoria da batata que a especulação blogosférica inevitavelmente encerra, penso que não há grandes motivos para o PS celebrar a vitória de Lisboa. Estas eleições vieram demonstrar o beco sem saída a que as políticas neoliberais de Sócrates conduziram o partido: 26% do eleitorado de esquerda prefere pôr a cruzinha noutro lado qualquer. E com PSD e CDS fracos, nem sequer existe a tentação do voto útil. Por outro lado, será inevitável que a direita recupere algum terreno até 2009. A política funciona em ciclos e é estatisticamente inevitável que PSD e CDS recuperem (mesmo que pouco), pois já estão há demasiado tempo no fundo do poço.
Para o PS só haverá uma solução: fixar os 10% de Roseta e crescer um pouco mais ao centro. No entanto, sem uma inversão da política neoliberal, economicista e "deficitocêntrica" dos últimos anos isso será praticamente impossível. Por outro lado, a alteração deste rumo fará com que o partido perca o eleitorado de direita que o tem ajudado a equilibrar o barco...

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Comments:
1 - Os resultados
1.1 - O resultado simpático do PS foi ganho à custa de votantes que tendem a votar PSD;
1.2 - O PSD não teve uma derrota ainda maior porque o CDS-PP desapareceu do mapa, indo aí sacar votos;
1.3 - Helena Roseta representa a ala esquerda do PS que antes já tinha votado em Alegre e não se revê no PS actual;
1.4 - CDU e BE mantiveram o seu eleitorado.

2 - Interpretações
2.1 - A base de apoio do PS reflecte a sua política actual, entrando no eleitorado PSD e deixando orfã a ala esquerda do PS;
2.1.1 - Essa ala pode dar azo a um novo partido, algo tipo "PES" (Partido da Esquerda Socialista)
2.2 - O PSD pode crescer roubando o que resta do CDS (o que é facil mas rende pouco) ou resgatando o eleitorado que perdeu para o PS (Mendes já se viu que não é capaz e suspeito que Menezes faça ainda pior);
2.3 - O CDS-PP está numa fase decrescente que só um milagreiro poderá inverter. E já vimos que esta encarnação de Portas não tem essa faculdade;
2.4 - CDU e BE vão mantendo-se estáveis e confortáveis no papel anti-regime do costume.
3 - Novos Partidos
3.1 - Possibilidade do Movimento Alegre se converter no "PES" acima referido;
3.2 - Se o PSD estiver encostado à direita quando o PS perder o centro e centro-direita, existirá espaço para emergir um novo partido para preencher essa lacuna, algo tipo "PSR" (Partido Social Renovador).
 
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