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quinta-feira, julho 12, 2007

As minhas últimas 5 leituras

Aceito o repto do Peliteiro para aderir à corrente com o título em epígrafe.
Normalmente sou um leitor compulsivo. Leio tudo o que me aparece à frente, desde rótulos de pasta de dentes aos livros mais chatos e intragáveis. Pior: tenho a horrível tendência para ler jornais como se fossem livros, o que no caso do Expresso pode ter consequências desastrosas...
Então, do presente para o passado, aqui fica: neste momento estou a ler "Uma História de Amor e Trevas", de Amos Oz, um escritor israelita do qual ainda só li um livro ("Uma Pantera na Cave"). Tal como a anterior, esta é uma obra que tem muito do seu autor e do modo de vida dos israelitas. Só iniciei esta leitura há dias, mas estou a achar uma delícia os relatos da vida em Jerusalém há 60 ou 70 anos (sim, já lá viviam judeus... e muitos!), em que se ia à Farmácia uma vez por semana para telefonar aos familiares que viviam em Tel Aviv, num ritual cuidadosamente preparado e ansiado e que terminava sempre com telefonemas anti-clímax, do género "Nós estamos bem. E vocês? Também. Então vai falar o pai.". E o pai dizia a mesma coisa. E a mãe. E os tios. E todos os que falavam, que verdadeiramente só estavam interessados em ouvir a voz uns dos outros, embora a linguagem tenha esse defeito: não é possível ouvir a voz de alguém sem se ouvirem também as suas palavras.
Antes, há cerca de uma semana, acabara de ler um clássico, "O Último Cabalista de Lisboa", de Richard Zimler, um daqueles livros que vinham sendo adiados há anos e que acabei mesmo por ter que ler, especialmente depois de ter lido o intrigante "À Procura de Sana", do mesmo autor. Confesso que esperava um pouco mais do "Último Cabalista", uma vez que era o mais conhecido dos livros de Richard Zimler, e curiosamente o único que eu ainda não tinha lido. No entanto, é inegavelmente um grande livro, com uma história forte e suficientemente interessante para nos prender durante toda a leitura. A contagem das recordações é um dos meus métodos favoritos para avaliar livros e filmes. E nesse aspecto o "Último Cabalista" proporciona um verdadeiro manancial de conceitos inovadores: a memória de Tora (memórias muito fortes, inapagáveis), a relação entre Berequias (judeu) e Farid (árabe e surdo-mudo), que funciona como uma projecção do que poderia ser o futuro de Israel e Palestina, os massacres de judeus no século XV, as perseguições, os grupos de cabalistas.... enfim, um universo colorido de personagens densos com base em momentos históricos com mais de 500 anos. Não me parece que seja o melhor dos livros de Richard Zimler (gostei mais do "À Procura de Sana"). Mas o "Último Cabalista de Lisboa" é inegavelmente um livro obrigatório.
A paragem seguinte desta retrospectiva literária é num livro policial do qual não há muito para dizer: "As Mãos Desaparecidas", de Robert Wilson. Demorei duas semanas a lê-lo. Interessante q. b., mas pouco mais. Gostei duma certa atmosfera sevilhana, lenta e boémia. A determinada altura o livro entusiasma. Mas depois esmorece e o final até é um pouco irritante.
Antes havia lido compulsivamente o já citado "À Procura de Sana", de Richard Zimler, um dos livros que mais me obcecou nos últimos tempos. Simplesmente genial. Recomendo a todos.
E, last but not the least, o quinto a contar do fim é o "Equador", de Miguel Sousa Tavares, um livro tão bom, tão bom, que uma pessoa nem repara que está muitíssimo mal escrito. Não estou a ser irónico: o "Equador" é um livro forte, arrancado em estado puro a partir da alma do seu autor e que fala sobre a brutalidade da solidão e do modo de vida dos colonialistas portuguesas. Li-o compulsivamente em 3 dias. Mas não deixei de reparar nas falhas técnicas, que vão desde erros gramaticais básicos à utilização de palavras que não existem ("Luís Bernardo não realizou que o autor do livro em que participa como personagem não sabia utilizar a palavra realizar"), passando por alguns problemas de repetição de ideias e palavras, capítulos desequilibrados em termos de acção/descrição, etc. No entanto, volto a dizê-lo: a história é magnífica. Mas Miguel Sousa Tavares deveria ter perdido mais 15 dias a rever o livro.

E para que a corrente continue, cá ficam os 5 convites: José Matos, José Cláudio, João Lemos, Abel Cunha e José Pontes.

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