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segunda-feira, julho 16, 2007

Nem sempre ando tão actualizado como gostaria, mas não poderia deixar de reproduzir esta excelente entrevista do Prof. Fernando Ramos ao Diário As Beiras.
(Os leitores mais frequentes deste blogue saberão que fui recentemente eleito para o Conselho Fiscal da Secção Regional de Coimbra da Ordem dos Farmacêuticos, concorrendo numa lista que apoiava a candidatura adversária da lista à qual o Prof. Fernando Ramos pertencia. No entanto, o bom trabalho deve ser reconhecido e o Prof. Fernando Ramos teve um excelente desempenho à frente da Secção Regional de Coimbra da OF, deixando à Direcção sucessora uma herança de grande exigência - que nós aliás aceitamos de bom grado!)

FERNANDO RAMOS
“Economia de mercado não deve aplicar-se à saúde

DIÁRIO AS BEIRAS - Que balanço faz destes dois mandatos como presidente da Secção Regional de Coimbra da Ordem dos Farmacêuticos (OF)?
Fernando Ramos - Foram dois mandatos e, embora tenha tido em ambos a contribuição da mesma equipa, quer dos meus colegas da direcção, quer do staff da Ordem, posso de facto dividi-los. No primeiro houve um desafio importante, que foi a aplicação do novo Estatuto da Ordem. Foi um desafio acrescido, mas bastante motivante e gratificante. Com a aplicação do novo estatuto e a questão da acreditação dos cursos, a Ordem deu um contributo ao próprio ensino farmacêutico.

O que foi mais gratificante no primeiro mandato?
A dinâmica e a eficácia do sector farmacêutico está muito baseada na qualidade e conseguimos chamar a atenção para a profissão. Foi demonstrar o óbvio, é certo, mas quer as profissões, quer a sociedade, passaram a olhar para o farmacêutico e a reconhecer o seu esforço no dia-a-dia, a sua actualização permanente. No final do primeiro mandato, apesar de ter havido muito trabalho, senti-me satisfeito, recompensado. Tivemos tempo para ser proactivos. No segundo mandato fomos menos proactivos e mais reactivos, tivemos mais trabalho mas, na minha opinião, os resultados foram inferiores.

Mas este segundo mandato foi um dos mais difíceis?
No primeiro mandato a equipa sentiu que atingiu os objectivos e até os ultrapassou, no segundo cumprimos aquilo a que nos propusemos, mas com o que nos foi aparecendo no caminho não fomos capazes de fazer passar a mensagem sobre o papel do farmacêutico. Tivemos que trabalhar muito mais naquilo que foram as alterações e propostas de alterações, que ainda estão a decorrer, no sector do medicamento, estudar dossiês, promover estudos.

Não conseguiram passar a mensagem ao Governo?
Sim, e mesmo à sociedade. Houve uma unanimidade dos líderes de opinião, pelo menos quanto às primeiras medidas governamentais que de alguma forma mexeram com o status quo farmacêutico. Nalguns casos houve mesmo manifestações de apoio a essas medidas, noutros houve pura e simplesmente silêncio. Curiosamente na altura não nos ouviram, mas temos visto os profissionais de saúde cada vez mais críticos com o sistema de saúde e hoje protestam com uma violência maior do que nós o fizemos na altura.

Por vezes são acusados de corporativismo?
Às vezes há tendência para dizerem que queremos manter algumas prerrogativas. Admito que essa leitura possa feita, mas enquanto dirigente sempre encarei a Ordem, e encaro, como uma organização de utilidade pública com responsabilidades perante o cidadão. O meu papel sempre foi garantir ao cidadão que a profissão farmacêutica está a desempenhar o seu papel. No Centro foram fechadas duas farmácias, por iniciativa da Ordem, o que não teria acontecido se estivéssemos a ser corporativos. E encontrámos alternativas para essa população, utilizando uma farmácia móvel pela primeira vez em Portugal. Durante dois anos um farmacêutico vizinho deslocou-se lá com uma viatura totalmente equipada.

Preocupa-o a acessibilidade...
Penso que a competitividade no sector deve ser pela qualidade dos serviços e que a acessibilidade dos medicamentos deve ser garantida a todos os cidadãos. Os meus colegas podem não concordar comigo, mas penso que o medicamento, que é um bem essencial, deve manter o preço fixo, definido pelo Estado, que não se deve demitir e dizer que estabelece o preço máximo. A acessibilidade, proximidade e qualidade mantêm-se, mas se for estipulado o preço máximo pelo Estado, nas localidades mais pequenas o cidadão acabará por pagar medicamentos mais caros que na cidade, pelo próprio mercado e concentração. E temos essa novidade dos descontos, que a existirem serão feitos a um bom cliente.

Os efeitos dessas medidas, como a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica ou a liberalização da propriedade da farmácia, podem ainda ser minimizados?
Não é essa a questão. As associações profissionais têm hoje os seus códigos de ética e deontológico e os cidadãos podem confiar nos profissionais. A questão é que a teoria de mercado tout court não se deve aplicar ao sector da saúde, e estas medidas são todas elas, de alguma forma, baseadas na economia de mercado. Penso que todos os cidadãos devem ter igual acesso à saúde, tenho dúvidas que a economia de mercado deva ser aplicada à saúde. Há que dominar o desperdício, racionalizar, mas deve manter-se o Serviço Nacional de Saúde, que é universal.

Que projectos concretizados nestes mandatos realça?
Um dos projectos que a nível regional teve mais impacto, e continua a ter, foi a criação, no primeiro mandato, do Fórum Regional do Centro das Profissões Liberais. Foi proposto por nós às outras Ordens, que aderiram, e a iniciativa veio também a revelar eficácia perante o Conselho Nacional das Ordens Profissionais. Neste fórum promovemos a discussão dos temas e, mesmo tendo pontos de vista diferentes e até díspares, conseguimos trazer para a praça pública consensos alargados ou mesmo totais. Debatemos temas como o tratamento de resíduos perigosos ou o processo de Bolonha e todas as questões foram sistematizadas em publicações que distribuímos pelos interessados mas também pelos nossos pares a nível nacional. Por outro lado, quando chegámos à Ordem, no primeiro mandato, as instalações da Secção Regional tinham sido remodeladas e tínhamos cerca de 300 mil euros de dívida. Nestes seis anos conseguimos reduzir essa dívida para 37 mil euros.

A Ordem foi ao encontro dos farmacêuticos?
Nestes dois mandatos realizamos 52 acções de formação, ou seja, cerca de uma por mês, nos vários distritos, nas quais envolvemos 2.616 farmacêuticos. Esta foi uma forma de ir ao encontro dos nossos membros, mas realizamos também nos vários distritos, pelo menos uma vez em cada mandato, reuniões de âmbito profissional. Outro ponto estratégico foi a iniciativa que lançamos em 2002, de criar um dia na Ordem para os estudantes finalistas de Ciências Farmacêuticas. Quase todos eles vieram a desempenhar a função farmacêutica e a inscrever-se na Ordem. E nestes seis anos aumentamos em cerca de 50% o número de farmacêuticos inscritos na Secção, ou seja, passamos de 1164 para 1650.

Que palavras diria ao seu sucessor?
Dir-lhe-ei essas palavras na terça-feira [hoje], mas gostaria que ele se sentisse, quando terminasse este mandato, como me senti no final do meu primeiro mandato. Significaria que pôs a sua energia em prol daquilo que acha que são os melhores desígnios para os farmacêuticos e se sentiu satisfeito com os resultados.

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