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terça-feira, setembro 25, 2007

A Caça no Baixo Vouga

José Cláudio Vital no Vela Latina:

Pelo fim da caça no Baixo Vouga III

Lidas as afirmações que o Jornal de Estarreja de hoje atribui ao senhor presidente da Associação dos Caçadores e Pescadores de Avanca - entidade gestora da Reserva de Caça Municipal - também e ainda em relação aos posts aqui e noutros blogues escritos e ao movimento informal e espontâneo pelo fim da caça no Baixo Vouga, devo esclarecer, entre outras coisas, que não sou simplesmente contra a caça. Nem contra a caça, nem contra os caçadores.

Sou contra a caça no Baixo Vouga e entendo que a mesma deve ser interdita naquele espaço. O território de que falamos é uma sensível e rara área de riquíssima e classificada biodiversidade, como atestam vários estatutos nacionais e internacionais que lhe foram atribuídos: para além da sua integração na ZPE (Zona de protecção Especial) da Ria de Aveiro, o estatuto de IBA (Important Bird Area) pela Birdlife International e pela SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), de Biótopo CORINE (nº C12100019), recomendada para integrar os Sítios Rede Natura 2000, Convenção de Berna (relativa à conservação da vida selvagem e do meio natural da Europa) e Convenção de Bona (relativa às espécies migradoras da fauna selvagem).

Estamos perante uma área de inusual valor natural, uma área de enorme importância para a vida selvagem. Somos, todos, responsáveis por proteger o nosso património natural e isso significa, neste caso, agirmos de acordo com a nossa consciência. Cada um daqueles que queira aderir à causa sabe de si, mas eu recusar-me-ia a tomar parte neste movimento se se tratasse de uma luta contra os caçadores - sou apenas a favor do integral respeito pela frágil e riquíssima vida selvagem do Baixo Vouga e, sem fundamentalismos, pretendo ver interditas as actividades que obstem a que possamos ali ter uma área protegida, que as espécies selvagens possam habitar em liberdade, uma área útil e exemplar para a educação ambiental de todos - se, na área em causa, a caça é uma delas, então oponho-me a ela.

Por outro lado, recuso-me a rotular todos os caçadores da mesma forma. Quando me refiro a caçarretas, distingo-os dos homens e mulheres sérios e respeitadores que caçam de forma responsável e legal. O presidente da Associação de Caçadores e Pescadores de Avanca tem, porém, que reconhecer que há caçarretas e que, por muito poucos que estes sejam, são ainda demais. Tenho a caça como uma actividade respeitável, economicamente importante, cuja prática atravessa a essência da própria história da humanidade e cujo contributo se impõe em inúmeros aspectos da vida em sociedade (na cultura, nos costumes e tradições, no desenvolvimento tecnológico). Essa história milenar da nobre actividade que é a caça é engrandecida por cada passo consciencioso daqueles que a praticam de forma sustentável.

Os caçadores, até por uma questão de sobrevivência da actividade, devem ser os primeiros ecologistas, os primeiros a defender a vida selvagem, os primeiros a reservar áreas de território onde seja possível assegurar a sobrevivência das espécies. Devem aceitar e compreender o alcance dos argumentos científicos consagrados pelas Organizações e Convenções que incluem o território do Baixo Vouga no rol das mais importantes áreas da vida selvagem da Europa. O território do Baixo Vouga deve ser classificado e a interdição da caça deve ser o resultado natural de todos os reconhecimentos nacionais e internacionais da sua especificidade enquanto ecossistema frágil, em risco e a proteger.


PS - Eu sou contra a caça em qualquer parte. Mas no Baixo Vouga a sua existência é particularmente absurda.
O Abel Cunha também tem um enorme conjunto de excelentes textos sobre este tema, acompanhados de magníficas fotos daquilo que os mata-passarinhos não gostam.

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