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sábado, novembro 10, 2007

Soube pelo Peliteiro que os deputados à AR vão ser submetidos a um exame de rastreio do cancro da próstata. Tendo em conta a identidade do patrocinador do evento, trata-se provavelmente da medição do PSA no sangue capilar, por picada no dedo.
Ora, é aqui que a porca torce o rabo - a realização deste teste de rastreio a populações indiscriminadas (isto é, sem risco aumentado) é altamente controversa, pois:
- O teste tem uma elevada percentagem de resultados falsos positivos: cerca de dois terços dos homens com PSA aumentado não têm cancro da próstata. Doenças como a hiperplasia benigna da próstata, prostatite ou infecções urinárias podem igualmente aumentar os valores do PSA, tal como alguns medicamentos ou o facto do homem ter ejaculado nas 48 horas anteriores (o que no caso dos deputados que passam a semana em Lisboa e apenas regressam a casa ao fim de semana poderá ser problemático...:));
- Dos 33% que têm PSA aumentado e cancro da próstata, uma percentagem significativa (40%, no caso dos homens com idades compreendidas entre os 60 e 70 anos) têm focos microscópicos de cancro da próstata que não necessitam de tratamento, pois não se desenvolverão a tempo de causar quaisquer efeitos clinicamente relevantes durante o tempo de vida desses homens;
- Como se isto não bastasse, o teste também tem uma elevada percentagem de resultados falsos negativos: 20% dos homens com cancro da próstata apresentam valores de PSA normais;
- O teste do PSA não permite diferenciar entre tumores agressivos em estadios iniciais e tumores não agressivos;
- Os homens com teste de PSA positivo e suspeita de cancro da próstata deverão realizar uma biópsia à próstata (por via trans-rectal...) para confirmação do diagnóstico;
- Caso o diagnóstico se confirme, é possível que o homem acabe por ser tratado a um cancro que não se iria desenvolver ou ter qualquer efeito durante o seu tempo de vida. O tratamento deste cancro pode ter vários efeitos secundários, sendo os mais relevantes a incontinência e a disfunção eréctil.

Ou seja, esta é uma questão séria e que deve ser tratada individualmente por cada homem com o seu Urologista. Não existem evidências científicas que defendam a realização de testes de rastreio ao cancro da próstata e uma grande parte dos Urologistas são totalmente contra esta prática.
Ao colaborar desta forma numa iniciativa publicitária deste género, os deputados da AR estão ser altamente irresponsáveis e a validar publicamente uma prática médica controversa e, na opinião de uma parte significativa dos especialistas, errada.
Podem ler mais sobre o assunto na página do National Cancer Institute nos EUA, no site do CDC nos EUA ou por exemplo aqui.

Nota - os números que refiro neste post foram obtidos a partir daqui, daqui, daqui e daqui.

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Comments:
Vladimiro,

Excelente comentário.

Um abraço, JFP.
 
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