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sexta-feira, janeiro 04, 2008

Quando na noite de 23 de Dezembro lia o Público no voo de regresso de Barcelona para o Porto, e depois de uma semana e meia fora do país, fiquei absolutamente pasmado com a normalidade com que era encarado um encontro de Teixeira dos Santos com o presidente da CGD, em que supostamente eram acertados os detalhes da transferência deste último para a liderança do BCP. Na altura comentei com a minha mulher que só em Portugal é que o dono de um banco (o Estado) poderia ver com agrado e normalidade a saída do seu CEO para a liderança do principal concorrente. No entanto, como tínhamos estado fora, achámos que provavelmente não teríamos acesso a toda a informação e que deveria haver mais qualquer coisa que pudesse justificar o insólito.
No dia seguinte, ouvindo na rádio as reacções ao acontecimento, verifiquei que o único líder político que protestara contra a manobra havia sido... Jerónimo de Sousa. Pensei, naturalmente, que "o burro devia ser eu", dado o aparente facto do meu único companheiro de opinião ser um reconhecido anti-capitalista.
Meteu-se o Natal, a passagem de ano e a lei do tabaco e a coisa lá passou (felizmente pelo meio houve mais adesões à causa dos que estranharam a situação - não quer dizer que não possam ter existido antes, mas como não as li... o que os olhos não lêem o coração não sente!) e eis que hoje o Público noticia isto.
Desta vez é demais. Não pode valer tudo. Para que servem o Banco de Portugal ou a Autoridade da Concorrência? Em qualquer outro sector da sociedade (incluindo o futebol) por muito menos já teria sido iniciado um apito dourado ou uma operação furacão.
Segundo a notícia, Santos Ferreira, na qualidade de CEO da CGD (e principal rival do BCP) autorizou o crédito, pela CGD, a alguns indivíduos, para que estes pudessem reforçar a sua posição no BCP e apoiassem a candidatura do próprio Santos Ferreira... a CEO do BCP! Moral da história: a CGD (banco do Estado...) fica sem o seu CEO (que leva consigo toda a informação operacional e estratégica do banco, a não ser que entretanto se cruze com o haitiano do Heroes) e também fica a arder com um empréstimo de 500 milhões de euros, cuja única finalidade é garantir a concretização de... algo que é prejudicial à própria CGD!
Qualquer outro accionista de qualquer outro banco faria tudo para que Santos Ferreira não fosse eleito CEO do BCP, sobretudo depois deste exercício de auto-flagelação da CGD. Aguardemos pela posição do Estado em toda esta matéria.
Cá fica o texto da notícia:

Financiamento de 500 milhões a apoiantes de Santos Ferreira
04.01.2008 - 09h02
Hugo Delgado/PÚBLICO
Banco estatal financiou compra de acções
Armando Vara tinha o pelouro do crédito bancário na Caixa quando foram concedidos os empréstimos a Alguns accionistas do Banco Comercial Português (BCP) que apoiam a candidatura do ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos Carlos Santos Ferreira têm vindo a reforçar o seu investimento em acções daquela instituição privada com crédito concedido pelo próprio banco do Estado.

O PÚBLICO apurou que Joe Berardo, a família Moniz da Maia (Sogema), Manuel Fino, Pedro Teixeira Duarte e José Goes Ferreira receberam crédito da CGD para comprarem acções do BCP, o que lhes tem permitido ter uma palavra a dizer nos destinos do maior banco português.

Em causa estão operações de financiamento que, só no primeiro semestre de 2007, totalizaram mais de 500 milhões de euros, e serviram para adquirir o equivalente a cerca de cinco por cento do capital do BCP por um total de 22 accionistas, mediante recurso a financiamento da CGD.

Desta fatia, cerca de quatro por cento do capital foram adquiridos pelo grupo de cinco accionistas principais referidos durante aquele período. Neste grupo encontram-se os primeiros proponentes de Carlos Santos Ferreira para a presidência do BCP - Berardo e Moniz da Maia.

Conselho aprovou

A garantia destes financiamentos é feita em primeira linha pelos títulos adquiridos, sendo, nalguns casos, reforçada com outros activos de menor volatilidade, segundo informações apuradas pelo PÚBLICO.

Estas operações, que são legais, foram autorizadas pelo Conselho Alargado de Crédito da Caixa formado por cinco administradores: Carlos Santos Ferreira, o então CEO, o seu vice, Maldonado Gonelha, Armando Vara, Celeste Cardona e Francisco Bandeira. Com excepção de Bandeira, que vai integrar a equipa da CGD encabeçada por Faria de Oliveira, todos os restantes já saíram ou vão sair da gestão do banco público. Armando Vara tinha o pelouro do crédito bancário.

Além das dúvidas que podem levantar em termos de gestão de risco - uma vez que estão em causa clientes com carteiras de títulos de grande dimensão e cuja volatilidade envolve o risco de queda da cotação, como tem acontecido com o BCP -, estas operações resultaram em compromissos financeiros de accionistas do BCP aprovados, entre outros, por aqueles que agora são por eles apoiados na luta pela presidência do banco privado: Santos Ferreira e Vara. Todavia, quando o grupo estatal emprestou o dinheiro a Berardo, a Moniz da Maia, a Goes Ferreira e à Teixeira Duarte, não se previa ainda os acontecimentos mais recentes.

Reforço de posições

Este grupo de investidores tem vindo a reforçar a sua presença no BCP, o que lhes têm assegurado uma palavra a dizer no combate que se trava pelo controlo do poder no maior banco privado português. Actualmente, no quadro da assembleia geral de accionistas de 15 de Janeiro, todos eles subscreveram a lista que Santos Ferreira e Vara candidatam ao conselho de administração executivo (CAE). Admite-se ainda que Manuel Fino (que apoia Santos Ferreira) tenha igualmente financiamento da CGD.

No lote alargado de investidores do BCP com financiamento da CGD está mesmo José Goes Ferreira, um dos accionistas sob investigação das autoridades, dada a sua ligação a uma off-shore que comprou acções do BCP com crédito do próprio banco e que se suspeita que possa ser um testa-de -ferro do grupo fundado por Jardim Gonçalves (pelo que as acções não serão suas).

No primeiro semestre de 2007 a Sogema (holding Moniz da Maia) comprou dois por cento do BCP, reentrando no grupo que fundou em 1986, o que lhe permitiu posicionar-se na luta pelo banco, procurando travar Jardim Gonçalves (com o qual se incompatibilizou). Já a Teixeira Duarte, que tinha cinco por cento do BCP, aumentou nos últimos meses para 6,6 por cento, mas tem mantido um comportamento dúbio.

Por sua vez, Berado, que se opõe a Jardim, reforçou a sua presença em dois por cento, passando a deter sete por cento no primeiro semestre de 2007. Fonte ligada ao investidor admitiu ao PÚBLICO que Berardo tenha pedido um empréstimo adicional à CGD, equivalente a mais de um por cento do BCP, mas menos de dois por cento. Mas não confirmou a informação do PÚBLICO segundo a qual Berardo tinha já substituído na CGD a garantia de acções PT por acções BCP, o que implicaria, na prática, que os sete por cento que possui estivessem hipotecados ao grupo estatal. O mesmo responsável revelou que o crédito que Berardo recebeu tem uma cobertura acima de 100 por cento.

O PÚBLICO confrontou a CGD com estas informações, mas o banco preferiu não as comentar nem confirmar se alguns destes accionistas é seu cliente.

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