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quarta-feira, janeiro 23, 2008

Quem terá sido o primeiro indivíduo a dizer "na Anadia"? Obviamente, algum cidadão "da Lisboa" que nunca passou em Anadia. De qualquer modo, é um sal engraçado para colocar na discussão mais intelectualmente desonesta de que há memória.
As reorganizações das maternidades e da rede de urgências estão seguramente entre as medidas mais correctas (e, reconheça-se, mais mal explicadas) de Correia de Campos.
O folclore que se criou à volta desta questão tem sido um perfeito desfilar de disparates.
A análise desta polémica por Luís Delgado e Rui Tavares ontem à noite na SIC notícias foi provavelmente um dos pontos mais baixos da análise às políticas de saúde em Portugal e houve momentos em que chegou mesmo a ser confrangedora. Luís Delgado (o mesmo que um dia disse algo do género "não se sentia mais burro que os americanos e por isso também tinha direito a comprar Aspirina num supermercado sem ninguém o chatear") chegou até a defender a existência de um hospital em cada povoação e o fim dos limites ao orçamento da saúde....!
Enfim, não vale a pena perder tempo com detalhes da desgraça alheia. A questão fundamental que se coloca é esta: como é que indivíduos tão mal preparados têm a coragem de se pronunciarem publicamente (ainda por cima em directo e para todo o país!) sobre um assunto relativamente ao qual percebem tão pouco? O refúgio no facto de se ter tratado de uma "análise política" e não técnica não vale para justificar tamanha ignorância. Simples descaramento e desejo de protagonismo? Não chega.
A explicação parece-me mais fácil e na minha opinião tem pouco a ver com os casos específicos da Saúde ou de Correia de Campos: em Portugal existe a tradição de bater nos fracos e estar ao lado dos fortes. Os mesmos que um dia eram santanistas contra Sócrates hoje surgem como socráticos contra Menezes ou, pior ainda, socráticos contra "alguns maus ministros". Neste momento CC está na mó de baixo e a habitual turba de yesmen do poder decidiu considerá-lo como um alvo a abater. A partir de agora as armas estão apontadas a CC e os jornalistas iniciaram uma marcação cerrada que só terminará quando o Ministro da Saúde sair.
No entanto, este tipo de tentativas de linchamento público não resultam com Sócrates: enquanto os jornais entrevistam as velhinhas de Anadia e perseguem CC, todo o resto do governo descansa e, pela calada, faz o que lhe apetece. Por outro lado, ao manter CC, Sócrates mostra que é determinado, leal aos seus amigos e imune a pressões externas, o que reforça a sua imagem enquanto primeiro-ministro.
Ou seja, a perseguição a CC funciona paradoxalmente como um seguro de vida para o próprio MS e um factor de unidade do governo. CC não vai cair, muito menos quando o que está em causa é uma das medidas mais correctas e emblemáticas do seu Ministério.
Os Luíses Delgados deste país bem podem estrebuchar, mas a verdade é que não passam de instrumentos que Sócrates utiliza com mestria para gerir o país e o governo.

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Comments:
Ora aí está (mais) uma brilhante análise, com a qual não podia estar mais de acordo.

Para quando Miro comentador?

Abraço
 
Por falar em "na Anadia", lembrei-me de mais dois erros engraçados:

Valéga (Válega)

Satão (Sátão)

Isto sem falar no "...foi aqui na Torreira, concelho de Estarreja..."
 
Elas não matam mas moem.
Vamos ver, vamos ver se Sócrates é assim tão "leal aos seus amigos", se a insustentável leveza dos votos não o leva a decidir no sentido dos superiores interesses... do seu próprio futuro político.

A verdade é que as reorganizações das urgências podem ser correctas na teoria, mas na prática é o que se vê: desgraça em cima de desgraça. Eles andam recceosos.

Esperemos umas semanas a ver como correm as coisas.
 
...tenho um dedinho que adivinha!
 
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