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segunda-feira, março 24, 2008



Diário de Aveiro, 21 de Março de 2008

Marisa Macedo, deputada e presidente do PS/Estarreja:

«Temos um presidente com uma mentalidade de junta de freguesia»

Marisa Macedo, recentemente reeleita líder concelhia de Estarreja do PS, faz um retrato negro do trabalho da coligação PSD/CDS que dirige a autarquia. «Estarreja está a regredir de dia para dia», adverte em entrevista ao Diário de Aveiro e à Aveiro FM. O principal alvo é José Eduardo Matos, o presidente do município «com uma mentalidade de junta de freguesia», que «por incompetência» não consegue «fazer de Estarreja uma cidade». Deputada na Assembleia da República desde 15 de Outubro de 2007, Marisa Macedo, actualmente com 38 anos, alerta: «Há imensa mesquinhez na política. Sobretudo quando se é mulher»

O objectivo do PS passa por retomar o poder na autarquia em 2009?
Claramente. Esse é o nosso objectivo. Aliás, esta estratégia não começou com estas eleições para a concelhia mas da primeira vez que fui candidata, há dois anos atrás. Aquilo que estamos a fazer em Estarreja é com o objectivo de ganhar a Câmara e o maior número de juntas de freguesias.

É possível alcançar essa meta já no próximo ano?
Em Estarreja é sempre difícil. O concelho desde sempre que vota maioritariamente no PSD e no CDS. Quando eu entrei no PS, com quase 18 anos, o partido era a terceira força política, a seguir ao PSD e ao CDS. Mas a história do concelho diz-nos que votam nos candidatos do PS se confiarem e se se revirem neles, e foi isso que aconteceu na altura do dr. Vladimiro Silva, quando ganhámos a Câmara em 1994.

Qual vai ser a aposta para vencer as eleições? Manter uma postura crítica perante o Executivo e apresentar propostas alternativas?
As críticas ao actual Executivo, mesmo que queiramos, não as conseguimos evitar, porque não nos revemos minimamente nas políticas que o dr. José Eduardo Matos e a coligação têm para Estarreja. Temos diferentes ideias de como Estarreja pode ser e a partir daí é evidente que as críticas vão continuar a surgir. Mas não vão ser só críticas, como é óbvio – a partir do momento em que tomarmos posse, vamos reunir as pessoas para escolher os candidatos à Câmara e às juntas de freguesia, e depois vamos trabalhar em propostas claras e perceptíveis e que as pessoas sintam que é possível realizar. Não vamos prometer o céu, como normalmente o PSD faz e não concretiza.

Já tem uma ideia de quem poderá ser o candidato à Câmara?
Eu pessoalmente tenho, mas não posso revelar, por uma questão de solidariedade com as pessoas do meu partido. Vamos começar as reuniões entre todos e o candidato será aquele de nós que reunir mais condições para ganhar a Câmara. Julgo que lá para Junho isso poderá ser revelado.

A Marisa Macedo poderá ser a candidata?
Eu faço parte do PS e sou presidente da comissão política, e com certeza que a minha própria posição será discutida… Vamos ver… Será aquele de nós que mais condições reunir para ganhar.

Em Janeiro disse ao Diário de Aveiro que não há-de morrer sem ser presidente da Câmara de Estarreja…
Isso é uma verdade, só que eu tenho 38 anos e espero durar pelo menos até aos 80… Mas reafirmo que não hei-de morrer sem ser presidente da Câmara de Estarreja. Não sei é quando.

Gostava, portanto, de exercer esse cargo.
Gostava muito, e não é de agora. É um sonho.

Tem sido difícil fazer oposição à actual maioria?
Muito difícil. O dr. José Eduardo Matos tem um feitio que é o de parecer simpático. Eu, por outro lado, tenho outro tipo de feitio, sou muito mais de dizer e defender aquilo que penso, mesmo quando nem toda a gente compreende. É o risco de tomar posição. O dr. José Eduardo Matos é aquele género de pessoa que não toma posição. Na última manifestação do hospital, por exemplo, ele esteve presente mas não disse nem sim nem não, e já tinha assinado um protocolo que prevê o encerramento das urgências entre as 24 e as 8 da manhã. Ele vive neste limbo… Aliás, ele é um acérrimo defensor do dr. Luís Filipe Menezes e o registo é o mesmo: não toma posição, diz umas coisas hoje, depois diz outras amanhã… Por outro lado, está numa terra de direita e tem os órgãos de comunicação social muito afectos à Câmara, o que se compreende.

Como assim?
Dependem dos subsídios da Câmara. Eu também tenho um jornal – apesar de estar suspenso – e sei que as coisas são difíceis de pagar. Em terras pequenas, em que a Câmara dá um subsídio grande – nomeadamente à rádio –, é mais difícil dar voz às pessoas da oposição. Mas voltando atrás: a oposição é difícil também porque esta coisa de ser mulher não é fácil em política. Há muito mais tendência para criticar as mulheres, e a primeira reacção do PSD – não do CDS – foi passar uma imagem de mim que estou sempre do contra, a reclamar… Denegrir, no fundo. E depois as mulheres têm o problema de se deixarem abater por isso. Como eu já sabia que aquilo ia acontecer, porque já conheço o terreno onde me movo, isso não surtiu efeito e já ultrapassámos essa fase, e entretanto fui para a Assembleia da República e ultrapassei-os a todos pela direita e ficaram todos baralhados. É preciso gostar e é preciso saber para onde se vai, porque a política não é para quem sofra do coração ou para quem se aflija com o que andam a dizer de nós.

Há muita mesquinhez na política?
Há imensa mesquinhez na política. E sobretudo quando se é mulher, porque passa por ataques baixos.

Sente que isso se nota mais a nível local ou nacional?
Muito mais a nível local. Mas depende das pessoas e não quer dizer que seja assim em todo o lado. Em Estarreja temos um presidente de Câmara com uma mentalidade de junta de freguesia que não consegue fazer de Estarreja uma cidade por algum motivo: por incompetência e por não saber o que há-de fazer com uma cidade. E isso transporta-se para as relações pessoais – quanto menos aberta a pessoa for e quanto menos informação e perspectiva global tiver, mais mesquinhez existe.

Uma das questões que mais tem dividido a maioria e o PS diz respeito ao Eco-parque empresarial. Porquê?
Eu não admito que mintam, mesmo em política, onde às vezes as fronteiras são um bocado difíceis de definir. Há coisas que não admito e uma delas é mentirem, sobretudo sobre a herança do PS. Nós temos muito orgulho no que fizemos durante oito anos – o dr. Vladimiro foi o melhor presidente de Câmara que Estarreja teve até hoje, e quando me dizem, por exemplo, que não foram deixados terrenos, é evidente que faço disso um cavalo de batalha porque estão a mentir. Há escrituras e documentos. Não aceito que se branqueie a história. Deixámos terrenos, deixámos o concurso público adjudicado… Quando saímos da Câmara, em 2001, a empreitada do parque industrial estava entregue à Mota e Companhia – que agora se chama Mota Engil – e pronta para ir para o terreno. O dr. José Eduardo Matos, com a sua mentalidade de junta de freguesia, suspendeu a obra e ‘encazinou’ de tal forma o processo que neste momento temos um parque industrial com empresas que se transferiram de outros municípios – poucas, mas algumas – sem que estejam sequer feitas as escrituras públicas (só foi feita uma). Isto é terrível, porque ele anda de 2001 até hoje a tentar resolver a questão dos terrenos do parque industrial, quando toda a gente sabia que foram deixados terrenos, e que não eram suficientes para toda a obra. Mas também já se sabia qual era o problema: os terrenos pertencem a muitas pessoas e muitas delas não se sabe onde estão ou emigraram… Como é que se resolve? Com processos de expropriação. Simples. Já se sabia isto em 2001, só que ele só fez esse processo de expropriação em 2005, quando deu entrada o processo no tribunal. O que é que esteve a fazer entre 2001 e 2005? Ele empatou e neste momento não temos o problema resolvido, e no meio disto perdemos o Ikea, que era a salvação de Estarreja. E o Ikea queria vir para Estarreja por causa das localizações. Isto é um ónus com que ele tem de viver porque a culpa é exclusivamente dele.

Se o PS estivesse no poder, Estarreja não tinha perdido o Ikea?
Não. Em 2001, já estava adjudicada a questão do parque e estavam previstos 18 meses para a conclusão do trabalho. É evidente que teríamos de resolver a questão do resto dos terrenos, mas teria sido por expropriação. Quando o Ikea, em 2007, colocou a hipótese de vir para Estarreja, é evidente que estaria resolvido, mesmo com atrasos. Sendo certo que agora ninguém sabe por quanto vai ficar esta empreitada, porque ninguém ouve a Mota Engil dizer o que quer que seja. Ganhou o concurso e algum dia vai-nos ser apresentada a factura.

Teme que a Câmara venha a sofrer algum prejuízo decorrente deste processo?

Claro que vai dar grande prejuízo. Uma empresa ganha o concurso, não faz o concurso e está anos à espera de ver o que vai dar… Acho que alguma coisa dará. Vamos ver qual será a factura. Não ouvimos a Mota Engil dizer nada, nem o presidente da Câmara, só sabemos é que há juros e indemnizações que algum dia surgirão.

O projecto da nova piscina também divide maioria e oposição. Por que contestam o projecto?

Não é propriamente não concordar, mas a questão é que é muito dinheiro que Estarreja não tem, porque não se está a criar uma dinâmica que permita que haja mais dinheiro. O presidente da Câmara não consegue atrair qualquer tipo de investimento que faça com que Estarreja tenha mais dinheiro. Além de que está a pôr cada vez mais gente na Câmara e 60 por cento do orçamento vai para pagar a funcionários.

Esses novos funcionários são desnecessários?
Por exemplo: ainda na semana passada, saiu uma sentença do Tribunal Administrativo de Viseu a anular um concurso público feito em 2004 por falta de fundamentação. Voltando à pergunta anterior: o dr. José Eduardo Matos não consegue resolver o problema de Estarreja. Estarreja está a regredir de dia para dia. Nós vemos os outros municípios, mesmo à volta, a terem equipamentos novos e outras dinâmicas mas em Estarreja não acontece nada. Uma coisa que não temos é um pavilhão multiusos. Se quisermos fazer uma feira industrial, por exemplo, não temos onde a fazer. E há outras coisas que são precisas. Mas não vale a pena gastar tanto dinheiro para fazer coisas iguais às que já temos, como é o caso das piscinas.

A questão das areias do parque industrial é outra das vossas preocupações.
Foram roubados do nosso parque industrial em camiões com matrículas falsas sem que o dr. José Eduardo fizesse nada. E cada metro cúbico é um balúrdio.

O PS levou esse caso a tribunal.
Apresentámos queixa no Ministério Público, porque o valor em areia que saiu do parque industrial dava para pagar pelo menos metade dos custos previstos para a sua construção. Não estamos a falar de tostões. Apresentámos o caso no Ministério Público, dissemos para onde ia parte da areia – tínhamos fotografias e filmes –, mas foi arquivado no ano passado. Fui ver por que tinha sido arquivado e o que se passa é lamentável. A investigação é lamentável. Mas ficou provado que a areia saiu do parque industrial em camiões com matrícula falsa… Fiquei indignada com o arquivamento e escrevemos à dra. Maria José Morgado, que mandou reabrir o processo. Só aí, anos depois da denúncia, é que eu e outras pessoas que assistimos a tudo o que se passou fomos ouvidos no Ministério Público e nos foram pedidas as fotografias e os filmes… Parte da nossa areia está à entrada de Albergaria-a-Nova e não há-de demorar muito tempo a ter uma urbanização em cima... Isto indigna. Como é que uma Câmara consegue dizer às pessoas que não tem dinheiro para pagar subsídios ou fazer casas às pessoas pobres, quando deixa roubar o que é nosso? Aquilo passava-se à luz do dia em pleno centro de Estarreja…

Por que é acha que a Câmara nunca actuou?
Eu sei é que nós actuámos porque não tínhamos nada a ver com o assunto. Andamos aqui sem telhados de vidro. Quando a dra. Maria José Morgado disse que o processo tinha de ser reaberto, veio o dr. José Eduardo Matos dizer que as investigações tinham de ser levadas até ao fim doesse o que doesse, quando ele próprio, na altura em que viu as filmagens e lhe foi dada conta da situação, disse que não havia problema nenhum e que era para colocar o terreno à cota da estrada, quando nas filmagens se vê um camião a desaparecer num buraco e a tornar a aparecer. É por isso que o PS está nos antípodas do dr. José Eduardo Matos – não nos revemos nesta política, não somos assim e não queremos ser, esta nebulosidade não tem nada a ver connosco.

Está a insinuar que a Câmara pactuou de alguma maneira com ilegalidades cometidas nesse caso?
O que lhe posso dizer é que se fosse eu a presidente da Câmara de Estarreja ou outras pessoas do PS, qualquer um de nós ia lá e seríamos os primeiros a pôr o caso no Ministério Público. Ainda por cima com aquelas provas.

Vladimiro Silva é candidato à Direcção dos Bombeiros de Estarreja. Acha que se trata de um regresso à vida política em Estarreja?
Ele diz que não. O dr. Vladimiro sabe que o tempo dele enquanto presidente da Câmara de Estarreja passou. E não o estou a ver a meter-se numa aventura dessas. Ele foi um excelente presidente da Câmara, e essa é uma dificuldade que vamos ter no PS quando ganharmos a Câmara em 2009: para quem quer que seja o candidato do PS, o objectivo é ser melhor que o dr. Vladimiro, o que é difícil. Ser melhor que o dr. José Eduardo Matos é muito fácil, qualquer um no PS consegue; mas ser melhor que o dr. Vladimiro será difícil. O que o dr. José Eduardo Matos inaugurou foi o que o dr. Vladimiro deixou. O dr. José Eduardo Matos é bem o exemplo de que se pode ganhar uma grande herança e conseguir desperdiçá-la.

A verdade é que as pessoas elegeram-no e reelegeram-no.
Eu sei porquê. As pessoas elegeram o PSD em 2002 porque deram ouvidos a uma campanha pessoal denegridora contra o dr. Vladimiro.

Feita por quem?
Pela coligação. E depois reelegeram-no porque nós passámos por um processo interno muito complicado – o dr. Vladimiro era para ser o candidato à Câmara mas o PS retirou-lhe a confiança e isso causou-nos grandes perturbações.

O que é que o PS defende quanto às urgências do hospital de Estarreja, que o Governo pretende encerrar?
O PS lançou, a 29 de Maio do ano passado, a base do protocolo assinado entre a Câmara e o Ministério. Tínhamos chegado a um impasse: faziam-se as manifestações em que o dr. José Eduardo Matos andava com uma vela, mas ideias para sair do impasse não havia nenhuma. O PS entende que, quando temos um problema, temos de o resolver da melhor maneira possível. O que sabemos em Estarreja é que as pessoas que recorriam às urgências – que, aliás, não era nenhum serviço de urgências – eram sistematicamente transferidas para Aveiro. Era uma farsa, e não tivemos, antes desta, uma administração que tivesse lutado pelo hospital de forma a que conseguisse justificar que era imprescindível. Quando um hospital transfere sistematicamente todas as pessoas para Aveiro, é natural que o Ministério da Saúde entenda que o melhor é enviá-las directamente. Temos de ser realistas e ver o que podemos ganhar com esta ministra da Saúde. Entre fechar de vez e limitarmo-nos a fazer manifestações, achámos que era melhor fazer uma proposta concreta – que o dr. José Eduardo Matos depois acabou por assinar – de forma a que o hospital pudesse ficar aberto e melhor.

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