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domingo, março 09, 2008

A política local de Estarreja tem vivido dias particularmente agitados.
Tudo começou quando, num espaço de poucos dias, o blogue Terra Nostra, a Rádio Voz da Ria e o Jornal de Estarreja publicitaram uma carta anónima com insultos gratuitos a vários funcionários e administradores do Hospital Visconde de Salreu, bem como insinuações avulsas e não fundamentadas sobre alegadas irregularidades de gestão. É importante referir que a RVR e o JE apenas divulgaram as acusações relacionadas com a gestão do HVS, ao contrário do José Matos, que surpreendentemente publicou a totalidade da carta, incluindo todos os insultos pessoais. Por coincidência, o PSD de Estarreja aproveitou logo a ocasião para pedir a demissão da Administração do HVS...
Continuo sem perceber as razões que fizeram com que o José Matos tivesse esta atitude, que considero profundamente lamentável e até estranha, pois não encaixa na postura a que sempre nos habituou nos anos que já leva de blogosfera! A maioria dos visados na carta nem sequer tem actividade política, pelo que sinceramente acho que a carta tem muito mais de intriga de cabeleireiro do que qualquer assunto que possa interessar à sociedade ou à análise política concelhia. Além disso, em Estarreja há infelizmente uma longa tradição de produção de cartas anónimas com fins políticos, algumas delas com acusações bem mais sérias e graves que a que agora foi publicada. No entanto, até agora os órgãos de comunicação social sempre ignoraram este tipo de iniciativas, mesmo nos casos em que as notícias eram bastante suculentas.
Enfim, mudam-se os tempos, mudam-se os critérios jornalísticos... este assunto em concreto tem muito pouco interesse, a não ser pelos outros efeitos que provocou - a publicação desta notícia levantou uma questão bem mais importante: a da imparcialidade e influência da imprensa local de Estarreja.
Historicamente, quer o Jornal de Estarreja, quer a Rádio Voz da Ria, sempre foram extremamente importantes para a construção da imagem dos políticos locais. A informação veiculada por qualquer um destes órgãos de comunicação social tem um efeito multiplicativo, pois as pessoas que os consultam tendem a influenciar outras, numa cascata que tem um efeito real no eleitorado. Se analisarmos os perfis dos vencedores de eleições no concelho, poderemos observar que foram sempre pessoas com intervenção regular na rádio e jornais e que sempre souberam insinuar-se de modo a projectar, através daqueles órgãos de comunicação social, uma imagem que agradava ao eleitorado. Ou seja, os políticos não são o que são, mas sim aquilo que os órgãos de comunicação social os fazem ser. Quer em termos nacionais, quer localmente, a maioria dos eleitores não conhece pessoalmente os candidatos, pelo que baseia a opinião que tem deles na informação que obtém através dos media.
Ou seja, sobretudo quando as eleições são disputadas, são os órgãos de comunicação social quem as decide, embora indirectamente, através da imagem que passam de cada candidato.
Há outro dado que é importante ter em consideração: os media locais resultam do trabalho abnegado, muitas vezes em part-time e com grande sacrifício pessoal, de pessoas que são cidadãos como os outros, com gostos, afeições, preferências e inclinações como qualquer ser humano. E é aqui que entra a objectividade jornalística - os jornalistas, e é justo dizer que de um modo geral isso acontece em Estarreja, tentam ignorar a sua própria humanidade e, muitas vezes fazendo das tripas coração, procuram dar uma imagem tão neutra quanto possível da realidade. Uma das técnicas jornalísticas que mais resulta nestas situações é a da quantificação, em minutos no caso da rádio, em caracteres no caso da imprensa escrita, do tempo de antena que se dá a cada um dos intervenientes no processo político. E, mais uma vez parece-me justo reconhecê-lo, parece-me que em Estarreja as coisas têm estado equilibradas sob esse ponto de vista.
No entanto, isto não chega - há outros aspectos, subjectivos e muitas vezes subliminares que também contribuem para definir a imparcialidade da imprensa: o modo como as notícias são publicadas (com mais ou menos destaque, com ou sem fotos, na primeira página ou no interior do jornal, em páginas pares ou ímpares, antes ou depois de notícias menores, etc.) é também altamente influenciador da impressão com que as pessoas ficam da realidade.
E é aqui que chegamos neste caso: o PS de Estarreja, os blogues locais e o jornal Voz de Estarreja denunciaram situações muito mais graves que a polémica carta anónima e que foram tratadas de um modo muito menos destacado do que este.
É evidente que também há aqui uma questão de critério jornalístico que deve ser respeitado, por muito que se discorde dele.
Na minha opinião o que se passou não chega para dizer que a imprensa local de Estarreja favorece o PSD em detrimento do PS, pois este foi um caso isolado e que nem sequer tem muito a ver com política, mas apenas com trocas de insultos entre funcionários de um hospital.
Contudo, acho que o que aconteceu pode servir como sinal de alerta:
- Para a imprensa local, que deve ter cuidados acrescidos no tratamento deste tipo de "cavalos de Tróia" com objectivos políticos que mais tarde se tornam óbvios;
- Para os blogues locais, que com excesso de voluntarismo acabam por correr o risco de serem utilizados por anónimos cobardes como veículo para trocas de insultos contra quem tem mais sucesso profissional que eles próprios;
- Para os partidos políticos, que têm que ter mais precupações com a clareza da mensagem que passam, pois a importância dos factos não depende só do interesse que estes possam ter, mas também da forma mais apelativa como estes são apresentados aos media.

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