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sábado, maio 03, 2008

Uma das coisas que mais me tem custado neste período de inactividade blogosférica relativamente involuntária é o facto de estar a perder a oportunidade de escrever sobre o dia a dia da crise de liderança que afecta o PSD.
De facto, e ao contrário do que se possa pensar à partida, estou convencido de que o momento interno do maior partido da oposição é um daqueles a partir dos quais nada ficará como antes na política portuguesa, por várias razões:
- Em primeiro lugar, porque o próprio conceito de partido do PSD é inviável: só a perspectiva de poder tem permitido federar aquele conjunto de pessoas à volta das três setinhas. O PSD não é de direita, não é de esquerda e aparece no centro só quando dá jeito, tem "elites" que não querem saber dos "militantes de base", tem "militantes de base" que não se reconhecem nas elites, enfim... é um partido "popular" que se dá mal com o povo e que vive mal com esse estigma, que o faz sentir-se uma espécie de partido comunista mais liberal e com maior representatividade eleitoral. Até agora, o PSD tem sobrevivido apesar do vazio ideológico que representa e apenas à custa da tentação de bipolarização que, em Portugal como no resto do mundo, é exigida pelo eleitorado como forma de assegurar alternância no poder. Ou seja, a maior virtude do PSD é não ser o PS. Tal como o seu maior defeito...
- Perante o vazio ideológico e uma existência assente apenas numa lógica de conquista de poder, o PSD tem feito uma travessia no deserto custosa, abandonado pelos seus elementos de maior capacidade, em que conheceu os mais insólitos líderes (Mendes e Menezes), apenas porque, por uma questão de táctica, os melhores candidatos guardaram-se para os momentos em que as coisas vão acontecer "a sério". Recorde-se que quando o PS passou pelo seu período de oposição os líderes que foram entrando e saindo (Vítor Constâncio, Almeida Santos, Jorge Sampaio, António Guterres, Ferro Rodrigues) eram significativamente mais credíveis que os dois últimos representantes máximos dos social-democratas. Isto aconteceu apenas porque, ao contrário do PSD, o PS é um projecto partidário assente numa base ideológica mais ou menos bem definida, razoavelmente estudada e internacionalmente replicada, o que cria lógicas de actuação necessariamente diferentes aos seus elementos, existindo menos espaço para os tacticismos e para lideranças tão assimétricas como as que caracterizam o PSD;
- Ao contrário do que as cabeças bem pensantes do mundo cor de laranja parecem pensar, Luís Filipe Menezes não é parvo. E quando percebeu que não conseguia arrancar para um processo de legitimação alavancado por um crescimento sustentado nas sondagens e se percebeu que os putativos sucessores se começavam a instalar para descer sobre a liderança a tempo de disputar as próximas autárquicas e legislativas, Menezes não quis fazer de lebre e saltou fora;
- E é neste inesperado (para as elites) estado que o PSD se encontra: nenhum dos candidatos gostaria de ter avançado já, mas todos sabem que se não o fizerem arriscam-se a penar durante mais alguns anos ou a perder a oportunidade de marcar a respectiva posição. E foi assim que tudo se precipitou e surgiram os vários candidatos do PSD, tão diferentes entre si que custa a entender que pertençam todos ao mesmo partido;
- Pedro Santana Lopes seria o vencedor natural destas eleições se não tivesse cedido à tentação de suceder a Durão Barroso em 2004. De facto, com os irreparáveis danos que a passagem pelo poder causou à sua imagem, Santana nunca conseguirá concretizar aquilo para que sempre trabalhou. E falta-lhe a paciência suficiente para deixar que o tempo lhe lave o rosto político. Apesar de tudo, é com pena que vejo isto a acontecer a Santana Lopes, pois embora seja alguém que claramente não tem competência para ser primeiro-ministro, é um político inconformado e que sempre lutou contra o politicamente correcto - e isso faz falta nos dias que correm!
- Pedro Passos Coelho é na minha opinião o candidato mais importante deste processo eleitoral: mostrou uma surpreendente capacidade de congregar apoios importantes e surge com uma imagem de renovação que todos sabem ser necessária ao partido, mas cuja concretização é sempre adiada sempre que surge a mínima nesga de poder. Passos Coelho não vai ganhar estas eleições, mas a partir daqui será um personagem incontornável no futuro do PSD. Não tenho a menor dúvida de que mais cedo ou mais tarde chegará à liderança do partido;
- Tenho alguma simpatia pessoal por Manuela Ferreira Leite, pois gosto de pessoas que tenham coragem para fazer e dizer coisas inconvenientes, que vão contra a corrente do jogo e que chocam o opinionismo mainstream que marca a vida pública portuguesa. No entanto, Manuela chegou tarde e depois de ter perdido a oportunidade de suceder a Barroso, percebe-se mal que surja agora, fora de tempo e sem um projecto político próprio, tentando contrariar o PS com as armas do PS, apenas para que o poder não caia na rua, qual Spínola serôdio e alaranjado. A única coisa que MFL tem para oferecer ao eleitorado é a promessa de austeridade, essa mesma atitude de que todos estamos fartos há anos e que, ao contrário do que se passa com o PS, é apresentada a troco de nada. O país já não está disponível para discursos da tanga e fados do desgraçadinho e exige crescimento económico e não contenção contabilística do papel do Estado. MFL até poderá ser a pessoa ideal para derreter sabões, mas nesta fase todos esperamos mais;
- A acrescer a esta caldeirada de tendências, há o factor que baralha todas as contas: é altamente provável que em 2009 as eleições autárquicas e legislativas sejam disputadas simultaneamente. Ou seja, especialmente num partido como o PSD, a voz dos autarcas e líderes regionais será absolutamente decisiva nestas eleições internas. Isto é, as eleições serão decididas pelos que mais sofreram às mãos de MFL, quando esta limitou o endividamento das autarquias e negou o apoio aos projectos faraónicos e desnecessários que sempre caracterizam alguns sectores do poder local.

Tenho poucas dúvidas de que MFL será a próxima líder do PSD. Para Santana é tarde e para Passos Coelho é cedo. Os outros candidatos não existem.
No entanto, este processo eleitoral vai fazer sangue no partido. É que o PSD só poderá ser agregado pela massa consistente da perspectiva de poder. E um líder que não seja consensual e perca simultaneamente autárquicas e legislativas deixará atrás de si um monte de cacos que dificilmente serão possíveis de voltar a juntar. E regenerar-se em algo que se possa assemelhar a um partido político será extremamente difícil, sobretudo se existir uma saída em massa de sectores importantes.
Em suma, poderemos estar perante o princípio do fim do PSD tal como o conhecemos. E Paulo Portas, caladinho e encolhidinho no seu canto, deve ter alguma dificuldade em disfarçar o sorriso :)

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Comments:
Ufa...que bela síntese sobre o panorama actual do universo PSD. No entanto, no melhor pano cai a nódoa. Onde está a apreciação aos restantes candidatos? Alberto J Jardim, Antão Patinha, Neto da Silva, Cinha Jardim, Leandro & Leonardo, Cunha Vaz, Rita Salema, Robin Cook, Mário Crespo, Fezas Vital, Duarte & Companhia, Batatoon e Ricky Martin?

Quando se começa um tema ou se vai até ao fim ou então nem se começa. Sendo assim, este post está incompleto.

Abraço
 
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