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quarta-feira, outubro 22, 2008

Hell's Grannies

E num tempo em que potenciais milícias populares séniores são treinadas pela própria Câmara Municipal de Estarreja, aqui fica um sketch dos Monty Python que um colaborador deste blogue teve o bom gosto de me enviar...



Aproveito o ensejo para destacar este magnífico texto de Marisa Macedo, publicado no Jornal de Estarreja e no blogue do PS:

Já agora, um pouco de humor!

Depois da defunta Universidade da Terceira Idade e dos bailes com o Presidente no Santoínho, a Câmara Municipal de Estarreja – cuja imaginação não se fica por bateiras estacionadas em rotundas ou por portões à entrada da cidade – entendeu que o que os idosos de Estarreja precisavam era de um curso de defesa pessoal contra assaltantes.

A imprensa, impressionada com tal “medida de excepção”, deu a devida relevância à iniciativa que, dizem, é para “ensinar os idosos a manter a calma e a defenderem-se”!

Se a iniciativa, que mais não faz do que entreter o tempo livre dos séniores no intervalo das excursões pagas pela Câmara, se ficasse pelo mero entretenimento, até nem haveria muito a dizer. Mas o que é certo é que é publicitada como se se estivesse a preparar idosos para uma autêntica guerra de guerrilha, neste “submundo do crime” que é Estarreja.

Quem lê os títulos das notícias (como a do Diário de Notícias, do dia 12 de Outubro: “Idosos estão mais aptos a lidar com insegurança”), a esta hora, deve estar já a preparar anedotas sobre os heróicos séniores de Estarreja que espancam assaltantes até à agonia.
Quem se dispõe, no entanto, a ir mais além e se esforçar por perceber como é que um curso de 6 horas transforma idosos em autênticas máquinas de dar porrada, apercebe-se, afinal, que o curso tem uma componente psicológica muito forte…
O curso ensina os séniores a manterem-se serenos em caso de ataque, explicando “como é que se deve respirar” para manter o “cérebro irrigado”, tendo em vista “pensar com mais clareza e tomar a atitude acertada”. Depois de tudo isto, o idoso está apto a “ponderar para proteger a integridade física”.

Então, e quando é que entra o capítulo que ensina a dar mesmo porrada? Desiludam-se os entusiastas da ideia dos novos “velhinhos Rambo” de Estarreja. Ficamos a saber que primeiro se explica aos alunos que “é importante não enfrentar os agressores” e que uma das “regras a ter em conta é equacionar a possibilidade de colaborar”.

Ficamos, então, em quê? É um curso de defesa pessoal ou um curso de relações públicas?
Estranha-se muito, até porque na fotografia da reportagem do DN há uma senhora que tenta, com um letal guarda-chuva, atacar um suposto assaltante que se apresenta de salsicha em riste!

Não nos parece boa ideia convencer os pobres idosos - cujo corpo cansado da vida pedirá mais sofá do que artes marciais – que, com seis horas de treino, estarão aptos a amassar de pancada o primeiro meliante que lhes pergunte a hora, a partir das dez da noite!
Porque preocupa quando se lê que “ao fim de seis horas, divididas ao longo de vários dias, os formandos sentem-se já aptos para dar o corpo ao manifesto, caso seja necessário medir forças com algum atrevido”. E segue-se o exemplo da Dª Gracinda, de 89 anos, que com este curso terá ficado apta a correr atrás de um qualquer rapazote que lhe furte a carteira e ainda ter forças para lhe partir os dentes, à conta das técnicas de combate aprendidas!

E isto é o “desenvolvimento” em Estarreja!

Para esconder que nada de relevante se faz, inventam-se umas “notícias”, que não têm qualquer relevância prática.

Mas este tipo de notícias tem um problema desde logo. É a imagem que se transmite de Estarreja para o exterior. Não é só o ridículo da situação de termos uma câmara preocupada com a criação de uma tropa de idosos preparada para se defender de assaltos. É a de darmos a entender que Estarreja se transformou numa “meca do crime”. Para isso, basta associarmos este curso à tentativa de criação de milícias populares na Póvoa de Baixo, ainda há poucas semanas, amplamente divulgada nos noticiários da TVI, onde um dos participantes se queixava de alguém que tinha ido representar a Câmara à reunião, a quem apelidou de “palhaço”, enquanto o presidente tinha “ficado a dormir”.

A isto, podemos juntar, também, o scketch dos “Gato Fedorento”, que falaram em Estarreja em pleno horário nobre da SIC, para servir de exemplo de uma terra que “cheira mal”.
Enfim, é assim que Estarreja vai aparecendo na televisão e nos jornais.

Entretanto, por via da dúvida, se se cruzar com um idoso nas ruas de Estarreja, fuja para o passeio do outro lado! Graças à Câmara Municipal, nunca se sabe quando é que a sua avó, já um pouco esquecida, mas cheia de técnica, não o toma por um assaltante, devido a essa barba em desalinho, e não lhe rebenta, por inteiro, com a cana do nariz…

Marisa Macedo
Estarreja, 12 de Outubro de 2008
Presidente da Comissão Política do Partido Socialista de Estarreja


(Sublinho que todas as palavras e expressões entre aspas são reproduções dos seus autores, devidamente identificados nas peças jornalísticas referidas)

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Comments:
Está bem apanhado por acaso. Não tardará muito até que os fazedores de humor nacional se inspirem em Estarreja. Sobre o sketch gosto, entre outros pormenores, do acto de roubar o marido enquanto a esposa estava no interior da loja. Deixaram o carrinho de bebé, vá lá! :)

Podia-se criar uma brigada de séniores mas era para nos roubarem a esposa quando elas insistem em parar em frente a todas as montras da Avenida. Depois entregavam-na em casa bem acondicionada com esferovite :)

Repeti o vídeo para ver se conseguia vislumbrar a Dona Gracinda da Silva, 89 anos, lá no meio das milicias séniores, mas tive insucesso, admito!

O texto da senhora dona doutora deputada Marisa está excepcional de facto. Tem partes que uma pessoa é obrigada a rir mesmo que não tenha vontade. É um texto corajoso porque retira votos, na vez de os tentar ganhar mas oxalá todas as crónicas politicas fossem assim...

abç
 
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